Um Sermão sobre o Barquinho!

16/04/2021

 

O evangelista Marcos diz que, à medida em que Jesus convoca seus discípulos, atrai também para si uma multidão com diferentes interesses. Por que acontece assim? Jesus é um Mestre que prega com convicção e autoridade. As pessoas gostavam de ouvi-lo. Ele não apenas falava. Também, agia de acordo com suas palavras. Então, as pessoas experimentavam o amor de Deus por meio de Jesus. Simplesmente sentiam-se amadas. Além do que, como Filho de Deus, Jesus curava todo tipo de mal. E, doença é o que não falta. O povo vinha de todos os cantos em busca de restauração. Diante do exposto pelo evangelista, sou questionado: Quero apenas fazer parte da multidão que procura socorro? Ou, de fato, quero ser um discípulo de Jesus? Doravante, a reflexão caminhará nessa direção: Afinal, qual é o meu compromisso com Cristo? Quais são as atitudes decorrentes do chamado? Mas, antes, vamos ouvir o relato bíblico.

JESUS RETIROU-SE COM OS SEUS DISCÍPULOS PARA PERTO DO MAR. UMA GRANDE MULTIDÃO VINDA DA GALILEIA O SEGUIA. QUANDO OUVIRAM A RESPEITO DE TUDO O QUE ELE ESTAVA FAZENDO, MUITAS PESSOAS PROCEDENTES DA JUDÉIA, DE JERUSALÉM, DA IDUMEIA E DAS REGIÕES DO OUTRO LADO DO JORDÃO E DOS ARREDORES DE TIRO E DE SIDOM FORAM ATRÁS DELE. POR CAUSA DA MULTIDÃO, ELE DISSE AOS DISCÍPULOS QUE LHE PREPARASSEM UM PEQUENO BARCO, PARA EVITAR QUE O COMPRIMISSEM. POIS ELE HAVIA CURADO A MUITOS, DE MODO QUE OS QUE SOFRIAM DE DOENÇAS FICAVAM SE EMPURRANDO PARA CONSEGUIR TOCAR NELE. SEMPRE QUE OS ESPÍRITOS IMUNDOS O VIAM, PROSTRAVAM-SE DIANTE DELE E GRITAVAM: TU ÉS O FILHO DE DEUS! MAS, ELE LHES DAVA ORDENS SEVERAS PARA QUE NÃO DISSESSEM QUEM ELE ERA.

A primeira expressão do texto é “retirar-se”. Ora Jesus segue ao monte, ora Jesus segue ao mar. Noutra oportunidade também disse: “Entra no teu quarto, fecha a porta e procura ao Pai em silêncio” (Mateus 6.6). No ano passado, com a pandemia, precisamos aprender a se isolar. Alguns ficaram desesperados, inclusive justificando a saída do isolamento pelo lado econômico. Mas, de fato, a dificuldade de muitos era de ficar fechado em casa. No mundo que supervaloriza a produção, não é dado muito valor ao tempo de reflexão. Todavia, é bíblico e necessário. Por exemplo, Deus instituiu o Sábado, o Dia de Descanso. Aliás, na própria criação, como um todo, há noite e dia, momento de dormir e trabalhar. Por lei, em todos os cantos do mundo, há fim de semana e férias. Lazer e trabalho. No 3º Mandamento, segundo Martinho Lutero, há duas ênfases. O descanso é um momento para cuidar de si mesmo e da família. Também, permite culto ao Senhor, onde avalio a minha jornada semanal, colocando-me sob a Palavra e a bênção àquela semana que começa.

No verso 9, Jesus diz aos seus discípulos que devem ter sempre um “barquinho” preparado. O Mestre sabia que ninguém é de ferro. O dia a dia aperta. Dentro dos padrões bíblicos, todos precisam curtir a vida. Aqui na comunidade, percebo diversas alternativas de “barquinhos”. Há os adeptos do ciclismo, outros do artesanato, do cultivo de orquídeas, da cozinha, da leitura, da pesca, da música... No último culto, reparei a pequena Alice se dedicando ao “caça-palavras”. Perfeito e saudável. Deus permite. Ele faz questão. Mas, não esqueça do essencial: Entra no teu quarto e te aquieta! Não esqueça da meditação, do louvor e da comunhão. A nossa saúde é integral, tanto física, quanto emocional, intelectual e espiritual. Deus deseja que você tenha vida abundante (João 10.10), que significa “saúde”.

Todavia, precisamos ter um cuidado. Jesus disse que devemos “buscar em primeiro lugar o Reino de Deus. Em seguida, tudo o mais seria acrescentado” (Mateus 6.33). Existe o perigo de colocarmos o lazer na frente de Deus. Se você tem tempo para o trabalho e não para Deus, erra o foco. Se você tem tempo para curtir a vida, mas deixa de lado a comunhão com Deus e os irmãos, também coloca em risco a saúde integral. Toda escolha tem seu preço. Sempre é necessário o equilíbrio.

Outro detalhe importante que o evangelista faz questão de destacar é sobre o estilo de vida de Jesus. Ele não busca fama. Ele jamais queria ser reconhecido como o líder que conduz multidões, que resolve todas as paradas, que cura todas as doenças. Sim! Ele é o Filho de Deus. Sim! Ele é o Todo Poderoso. Mas, sempre discreto, humilde e procurando servir. Alguns até lhe sugeriram: Pula da cruz e manda fogo sobre essa gente maldosa. Não! Ele sujeitou-se à cruz como Servo Sofredor. Todavia, convenhamos: Não podemos negar a nossa natureza de querer aparecer. Certa oportunidade, a mãe de Tiago e João encostou em Jesus e pediu: Quando chegar o teu reino, permita que meus filhos fiquem, um à tua direita, outro à esquerda. Ela queria puxar o assado para o lado dos meninos. O que o Mestre respondeu? Quem quer ser o primeiro que sirva. Jesus é humilde. Ele ama sem segundas intenções. Ele promove um novo estilo de vida. Ele serve de exemplo às pessoas e às instituições.

Hoje denominações querem construir mega-templos para superar as outras denominações. O som nas músicas e pregações fica cada vez mais alto, incomodando a vizinhança. As luzes e fumaças abundantes apresentam mais uma ideia de show e do que de culto. Os sacerdotes usam roupas extravagantes para chamar a atenção, alguns apelam às vestes judaicas, outros para ternos, gravatas e joias valiosíssimas. Aqui até podemos entender melhor a determinação da IECLB em adotar o “talar”, comum a todos, que aponta à função exercida, sem distinção. Agir com discrição, dar a oferta com uma mão sem que a outra veja, amar o outro como consequência única do ser amado por Deus, não procurar os primeiros lugares, antes oferecer ao outro... São desafios que recebemos a partir do exemplo de Cristo. É fácil? Não! É possível? Sempre!

O evangelista resgata, na história de Jesus, orientações claras à nossa vivência espiritual. Assim, concluo a reflexão. Acima de tudo, lembre-se do cuidado de Deus por ti, permitindo, além do descanso, momentos de lazer. Aproveite. Curta bem a vida, dando graças ao Senhor. Não busque somente seu bem. Perceba aqueles que vivem à sua volta. Sirva. Ao invés de se promover, promova o bem-estar do outro. Siga o exemplo de Cristo. Nosso maior objetivo sempre é o Reino de Deus. Amém!
 


Autor(a): P. Euclécio Schieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Garuva-SC (Martinho Lutero)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 7 / Versículo Final: 12
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 62079
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Martim Lutero
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