Uma prédica para cristãos desanimados

01/09/2019

Hebreus 13.1-8,15-16

Prezada Comunidade e estimados rádio-ouvintes:

Todos os textos bíblicos indicados para este dia falam do comportamento que uma pessoa cristã deve ter. No texto do evangelho (Lc 14.1,7-14) Jesus chama a atenção das pessoas que buscam sempre ser exaltadas e recompensadas. Ao invés de esperarmos ocupar lugares de honra e destaque, é mais prudente e sábio agirmos com humildade. Também o texto de Provérbios (25.6-7) ensina que não devemos nos gloriar e nos fazer de importantes. Já o texto de Hebreus (13.1-8, 15-16) destaca atitudes mais concretas que uma pessoa cristã deve ter, como amor fraternal, hospitalidade, empatia, fidelidade. Todas essas seriam atitudes que agradam a Deus e o verdadeiro sacrifício de um cristão.

A carta aos Hebreus destina-se a cristãos desanimados, que fazem parte da segunda geração de cristãos. Essas comunidades estão desanimadas e estranham o fato de que o caminho para a glória prometida esteja tão cheio de tribulações. Se a mensagem de Jesus é o amor, o respeito, o perdão, a solidariedade, então por que há tantas pessoas na igreja fazem justamente o contrário. Diante dessa realidade, muitos cristãos cansaram-se de viver uma vida de fé e estavam deixando a comunidade. A carta aos hebreus tem, portanto, um objetivo bem pastoral: procura responder a questões bem concretas da comunidade.

O v. 1 fala da importância do amor fraternal. Ou seja, aquela forma de amar que o próprio Cristo ensinou. Um amor que se doa, que não busca os próprios interesses, mas vai em busca do próximo. Cristão não se é somente em alguns momentos da vida, mas a cada dia.

O v. 2 fala da hospitalidade como uma prática do amor. A prática da hospitalidade e do cuidado das pessoas mais pobres deve ser uma prática constante na vida cristã. Não basta dizer que cremos em Jesus, não basta colocar a camiseta com o nome de Jesus e ao mesmo tempo ter atitudes e palavras que Jesus jamais aprovaria.

O v. 3 faz referência aos sofrimentos de muitos cristãos. Muitas pessoas que confessavam sua fé em Jesus Cristo eram perseguidas, presas, maltratadas e até mesmo martirizadas. As autoridades chamavam essas pessoas de subversivos contra o império romano, de bandidos. A carta aos hebreus diz que a comunidade não deve acreditar nesse discurso oficial, mas lembrar dessas pessoas como se o sofrimento delas fosse o seu próprio sofrimento.

A partir do versículo 4 fala-se de diversos temas: que o matrimonio deve ser vivido com respeito e fidelidade, que a conduta de cada pessoa não seja inspirada pelo amor ao dinheiro, que a vida cristã não é apenas obediência exterior e aparente a algumas leis, mas é confissão e testemunho para o mundo, e que nesse mundo sempre haverá dificuldades, mas o que Jesus espera de nós é perseverança, pois os poderes deste mundo passam, mas Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre.

A carta aos hebreus quer animar as comunidades cristãs dizendo que no dia do Juízo, Deus não vai procurar a Jesus dentro do coração das pessoas. Ele vai procurar a Jesus nas nossas atitudes diante dos outros, diante dos pobres e diante da Criação de Deus. Ou como dizia Martim Lutero, no dia do Juízo Deus não vai te perguntar se você foi um bom cristão. Ele vai perguntar isso para o teu vizinho, para os pobres e para as pessoas que conviveram com você.

Portanto, a carta aos hebreus nos diz que Deus deseja ver em nós pessoas que não abandonem a fé em Jesus e que se esforça para viver em comunidade.

Também a ciência diz que o ser humano é um animal social. Todo mundo precisa de convívio social, mesmo que essa necessidade seja diferente para cada pessoa. Tem gente que fica bem sozinha e se satisfaz com um pouquinho de interação com outras pessoas. Outros procuram a companhia de outras pessoas o tempo todo e se sentem solitários após ficarem algumas horas sozinhos.

Nós os seres humanos, em estado selvagem, só conseguimos sobreviver se estivermos em grupo. Um tigre solitário se vira bem. Um humano desgarrado tende a virar comida do tigre. Por isso, nossos antepassados hominídeos desenvolveram um profundo senso de comunidade, que está impresso em nosso DNA. A evolução selecionou genes que favoreciam o prazer da companhia e produziam inquietude quando se estava sozinho.

Tanto que até a Idade Média, as salas das casas eram usadas para tudo: cozinhar, comer, receber convidados, fazer negócios e, à noite, dormir. (É por isso que as peças da mobília se chamam móveis). Mas a revolução industrial mudou tudo. A casa se transformou num refúgio da individualidade. O tipo mais comum de residência moderna nós chamamos de apartamento, palavra que significa separação. A perda dos encontros naturais rotineiros na varanda e nas ruas tornam mais difíceis os intercâmbios de experiencias e a resolução de problemas.

As pessoas sempre dependeram umas das outras e continuam dependendo. Mas essa relação está cada vez mais rasa. Tem gente que diz que não precisam de ninguém, e tratam outras pessoas de forma até agressiva. Se a pessoa tem um pensamento político diferente então, a agressividade sobe ainda mais de temperatura de forma que o adversário político passa a ser tratado como inimigo e contra ele vale todo tipo de ataque, seja verdadeiro ou não. Até mesmo nossas autoridades utilizam as mentiras e as calúnias.
Essa polarização faz com que mesmo em relação as pessoas que conhecemos, a distância parece que está aumentando a cada dia mais entre nós – pois temos cada vez menos pontos em comum entre nós. As pessoas estão discordando mais e de forma cada vez mais intensa. É maravilhoso ter opções, mas isso também possui um lado negativo, que é possuir cada vez menos coisas em comum com os outros.

Afastar-se das pessoas que pensam diferente, cultivar o ódio contra quem é diferente, isso na verdade é uma grande besteira que fazemos. Quem vive em brigas, quem alimenta o rancor, quem cultiva o ódio contra outras pessoas em seu coração está se matando, sem saber. Pesquisadores dizem que as pessoas solitárias têm 29% mais chances de sofrer doenças cardíacas, 32% mais chance de sofrer um AVC e 200% mais chance de desenvolver Alzheimer.

Por mais saudáveis e tecnológicas que as nossas sociedades tenham se tornado, nosso corpo e nossa mente precisa de companhia. Lá no fundo no nosso ser ainda somos as mesmas criaturas vulneráveis que se aconchegavam juntas contra o terror das tempestades a 60 mil anos atrás. Ainda hoje somos só um bando de primatas assustados. Mas nem sempre percebemos isso.

Se a convivência é fundamental para a nossa vida, então a carta aos hebreus nos lembra que a convivência também exige de cada um de nós atitudes de tolerância, de abertura, de diálogo. A convivência não quer dizer vida sem conflitos. A convivência suporta a divergência, ela aguenta a pluralidade e a diferença. O que a convivência não suporta é a divergência radical, a violência, as mentiras e as calúnias de umas pessoas sobre as outras. Por isso, a oração do Pai nosso nos lembra que fundamentalmente nós precisamos procurar apenas duas coisas nessa vida: o pão de cada dia e o perdão das outras pessoas. Sem essas duas coisas, a vida humana não é possível.

Por isso, a carta aos hebreus nos chama a atenção para que valorizemos a convivência na Comunidade. Devemos procurar ser úteis a outras pessoas, devemos cuidar da boa criação de Deus e devemos viver – em atitudes concretas – o amor que Jesus pede de cada um(a) de nós.

Portanto nesses tempos de aflição, de crimes contra a Natureza, nesse tempos em que as autoridades repetem que o problemas do nosso pais são por culpa dos aposentados, por culpa das ONGs, por culpa dos índios, nesse tempos em que se destila tanto o ódio na sociedade, a carta aos hebreus nos lembra que a maneira de agradar a Deus é viver em comunhão. A mensagem da Palavra de Deus nesse dia nos quer dizer que as pessoas que nos manipulam, que com sua amargura querem transferir para nós o ódio, os conflitos, as brigas – essas pessoas não querem o nosso bem. Elas procuram nos dividir e nos colocar uns contra os outros. Nós como pessoas cristãs (luteranas) devemos andar na contramão desse ódio, desse individualismo e promover nossos relacionamentos marcados pelo amor fraternal, pelo cuidado com a criação, pelo respeito e cuidado com os mais pobres, pela busca por justiça, e pela generosidade.

Por isso, devemos nos afastar de pessoas que querem nos manipular, que querem nos jogar umas contra as outras. Vai nos fazer um enorme bem deixar de escutá-las. Não devemos deixar que suas palavras cheias de veneno intoxiquem a nossa a alma e nos levem à solidão e ao desânimo.

Martin Lutero nos ensina: A minha força nada faz, sozinho estou perdido. Mas um homem a vitória traz, por Deus foi escolhido. Quem trouxe essa luz, foi Cristo Jesus. O Eterno Senhor, Outro não tem vigor. Triunfará na luta.

Uma pessoa cristã, que crê nesse Jesus que venceu a morte não é chamada apenas para rezar e ler a Bíblia. Ela também é chamada todos os dias viver em comunidade e promover a vida com todos os seus significados. E quando nos sentirmos cansados e confusos com o crescimento da maldade, devemos nos lembrar das palavras da carta aos hebreus que dizem que os poderes deste mundo passam, mas “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre. Por isso, não se deixem levar por ensinamentos diferentes e estranhos, que tiram vocês do caminho certo. É bom sermos espiritualmente fortes por meio da graça de Deus...”(Hb 13.8-9)

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém

 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Hebreus / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 53017
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