Êxodo 33.12-23

Prédica

Êxodo 33.12-23 - ESTOMIHI

Prezada Comunidade!

Certamente não há aqui pessoa alguma que no conheça os primórdios da historia de Israel. Ainda assim, vou procurar refrescar-lhes a memória em alguns pontos. Todos lembrarão que em determinada época a descendência do patriarca Jacó encontra-se no Egito, vivendo em regime de escravidão. Deus então escolhe um líder, Moisés, que arregimenta o povo e consegue finalmente fugir daquela terra, num processo cheio de lances dramáticos - as pragas, a passagem pelo mar. Mais tarde, ao longo da jornada pelo deserto, a caravana acampa junto ao monte Sinai. E lá mesmo, através do intermediário Moisés, Deus firma um pacto, uma aliança com o povo. É uma espécie de contrato estabelecido por Deus: Vocês serão o meu povo e eu serei o seu Deus; eu prometo acompanhá-los para sempre e vocês prometem venerar-me como seu único Deus, vivendo dentro de determinados limites, estabelecidos pelos dez mandamentos. No entanto, pouco depois da efetivação do pacto, o povo aproveita a ausência de Moisés para fazer um bezerro de ouro e o declara — seu deus. Enfurecido com essa infidelidade, Deus manda eliminar os culpados e ordena a Moisés que reúna o povo e tome a jornada, deserto a dentro. É grande a apreensão de Moisés: Será que este Deus, Javé, que se revelou e firmou o pacto no Sinai, vai deixar o povo partir sozinho, ou se dignará- a acompanhá-lo? E, neste último caso, qual será a garantia visível da sua companhia? O dialogo travado entre Moisés e Deus neste ponto constitui o texto para a prédica de hoje: 

Disse Moisés ao Senhor: Olha, tu me dizes: Conduzes este povo (daqui) para cima!, mas não me comunicaste quem é que mandaras comigo. No entanto, tu mesmo disseste (Deus): Eu te conheço pelo (teu) nome e tu achaste graça aos meus olhos. E agora, se achei graça aos teus olhos, então comunica-me os teus caminhos para que eu te compreenda, a fim de que eu encontre graça aos teus olhos, e considera que esta nação e teu povo. Aí (o Senhor) respondeu: Meu rosto junto e eu te farei descansar. E (Moisés) lhe disse: Se teu rosto não for junto, não nos deixes subir deste lugar. Afinal, de que outra maneira saber-se-á que encontrei graça aos teus olhos, eu e o teu povo? Não é em indo tu conosco, de modo que somos assim distinguidos, eu e o teu povo, dentre todos os povos sobre a superfície da terra? Então disse o Senhor a Moisés: Também isso que (agora) falaste eu atenderei, pois encontraste graça aos meus olhos e eu te conheço pelo (teu)nome. Disse (Moisés): Mostra-me, por favor, a tua glória! E ele respondeu: Eu farei passar toda minha bondade pela tua frente e proclamarei diante de ti o nome do Senhor: Tenho misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadeço de quem eu me compadecer. Disse (mais): Não poderás - ver o meu rosto, pois nenhum homem pode ver-me e continuar com vida. E disse o Senhor: Olha, aqui há um lugar junto a mim; fica parado sobre a rocha. Quando passar a minha glória eu te colocarei numa fenda da rocha e estenderei minha mão sobre ti até que eu tenha passado. E quando eu retirar a minha mão tu poderás ver-me pelas costas; mas meu rosto não se pode ver. 

II

Muito bem. E agora? Qual ser ã o motivo que nos leva a pregar sobre esse texto dos púlpitos das nossas igrejas? O que é que justifica a nossa pregação sobre esse epis6dio que remonta ao século 13 a.C., aproximadamente? Terá essa passagem algo a nos dizer, hoje, no século XX depois de Cristo, nesta leal e valorosa cidade de Porto Alegre? Sim! E tem ate muito a nos dizer. Pelo simples motivo de que aquele Deus, Javé, que se revelou no Sinai e lá mesmo deu a conhecer a sua vontade, é o mesmo Deus que em Jesus Cristo se revelou de maneira definitiva a todos os homens. 

Mas vejamos, então, o que podemos aprender dessa passagem. Convido os senhores a me acompanhar num exame mais detalhado deste diálogo entre Moisés e Deus. Perguntemos, em primeiro lugar, o que é que Moisés quer. Qual é o pedido desta sua insistente oração ? Disse Moisés ao Senhor: Olha, tu me dizes: 'Conduze este povo (daqui) para cima!; mas não me comunicaste quem é que mandarás comigo. E mais adiante: Então comunica-me os teus caminhos para que eu te compreenda. Moisés pede que Deus lhe informe, ou melhor, exige duas coisas: 1 - quem ou o que Deus mandará junto, como garantia de sua presença; e 2 - o que é que, afinal de contas, ele pretende. 

Moisés não quer enfrentar a sós com o povo os perigos da jornada pelo deserto. Não pode prescindir da companhia deste Deus que os libertou do Egito de maneira tão fantástica e que os conduziu desde então: Se teu rosto não for junto, no nos deixes subir deste lugar. 

Outro ponto a salientar é a exposição de motivos apresentada por Moisés. Como é que pode este homem falar com Deus desse jeito? O que é que lhe dá direito de impor a Deus tais experiências? Em que e que Moisés se baseia? Em dois pontos: Tu me disseste (Deus): 'Eu te conheço pelo teu nome e tu achaste graça aos meus olhos'. A expressão conhecer pelo nome significava, para o israelita de então, manter relações chegadas com uma pessoa. Se eu não conheço alguém pelo nome, e porque no estou em estreito contato com a pessoa. Mas se eu trato pelo primeiro nome alguém, é porque o conheço relativamente bem, porque mantemos estreitas relações. Também a expressão que a Bíblia traduz com achar graça aos olhos de alguém não tem nada de humorístico, mas significa: ser visto com bons olhos, ser tratado com benevolência, merecer os favores de determinada pessoa. 

Assim sendo, Moisés fundamenta muito bem o seu pedido. Ele diz: Olha aqui, Deus, tu me tiraste da minha profissão e me chamaste mui pessoalmente para dirigir essa gente, tu faiaste diretamente comigo, Tu me conheces pelo nome; e mais, até agora tu nunca me negaste o teu favor, tu conduziste este povo que está sob a minha chefia são e salvo até aqui, eu achei graça aos teus olhos, tu simplesmente não podes deixar que partamos sem a tua companhia. Não podes! Se nos deixares sozinhos agora, estarás contradizendo-te a ti mesmo. - Sim, Moises não tem papas na língua! 

E o terceiro e último ponto a assinalar i o seguinte: Moisés insiste; Moisés é chato. Ele enche, não dá trégua. Ele pede uma vez e fundamenta seu pedido. Deus responde afirmativamente. Mas não basta. Moisés quer uma confirmação mais explícita. Assim, este batalhador não larga até ter plena certeza de que será atendido. 

III

Prezada Comunidade, falei há pouco que temos muito a aprender dessa passagem. Depois do exposto, os senhores concordarão comigo, tanto mais se verificarmos que nos encontramos como comunidade cristã, em situação Idêntica daquele povo. Fora-lhe proibido permanecer ao pé do monte santo, onde Deus se lhe revelara. A ordem foi de tocar em frente, varar o deserto, ainda que com meta desconhecida. Talvez seja esta a maior lição deste texto: Também a nós, nesta Comunidade, também a nós é vedado ficar marcando passo ao pé do monte da recordação das revelações divinas. E também não podemos ficar marcando passo ao pé do monte das nossas tradições. Marcar passo é pecar. A ordem é tocar para a frente, varar o desconhecido, ainda que ignoremos a meta. 

Sim, porque as revelações divinas não foram dadas para que as comemoremos cerimoniosamente e as confinemos ao âmbito restrito do culto dominical. Elas foram dadas como semente, como fermento, para infestar, contagiar, desencadear ações. Jesus Cristo não veio ao mundo para nos dar oportunidade de celebrarmos seu aniversário, sua morte e ressurreição, mas para pôr fogo em nos, mostrar que no somos, cada qual, o centro do universo; para mostrar-nos essa multidão de irmãos nossos sem teto, sem comida, sem saúde, definhando. Para dizer: Não fiquem marcando passo, metam-se por esse deserto a dentro, esse deserto composto de seres subumanos, entrem por aí, façam alguma coisa, ainda que desconheçam a meta. 

E muito menos razões ainda temos para ficar marcando passo no monte santo das nossas tradições. Uma tradição só tem razão de ser enquanto fecundar o caminho para o futuro. No momento em que deixar de acontecer isso, no momento em que uma tradição começar a barrar a jornada para dentro do deserto, ao encontro do nosso próximo, ela tem que ser eliminada, doa a quem doer. 

Esta jornada, prezada comunidade, esta jornada em direção ao próximo e um caminho difícil. É um caminho a ser percorrido urgentemente neste nosso Brasil, e especialmente aqui, onde o faminto, pobre e maltrapilho não tem quem se interesse por ele, quem o represente, quem o defenda. Este é o deserto que temos que varar. E é bom fazê-lo. Se nós, cristãos, não o fizermos, se ficarmos marcando passo, outros o farão, de maneira diferente e com outras intenções. Mais cedo ou mais tarde outros o farão! E como é que nós justificaremos diante de Deus, o nosso marcar passo? 

A comunidade cristã é uma caravana de peregrinos, de caminhantes, que ainda não chegou àsua morada derradeira. Nada deve prendê-la a ponto de esquecer a meta desconhecida e inimaginável da sua jornada. E, enquanto não chegar lá, sua tarefa é trazer outros a participarem da caravana e transformar o deserto dos seus semelhantes num oásis sem pre maior. 

Diante dessa viagem deserto a deserto, nossa atitude tem que ser uma copia da atitude de Moisés. Antes de pensar em arquitetar planos e construir uma estratégia, Moisés vai falar com Deus. Façamos o mesmo. E peçamos como Moisés. Não façamos da nossa oração um porta-voz do nosso egoísmo; não peçamos um aumento de salário para o fim do mês; no peçamos que a nossa Igreja se torne sempre mais potente e consiga se impor no cenário eclesiástico nacional e aumente vertiginosamente o numero de seus membros. Peçamos apenas uma coisa, tanto no campo individual como na esfera da comunidade e da igreja como um todo; apenas uma coisa: Se teu rosto não for junto, não nos deixes subir deste lugar. Peçamos só isso, só a presença de Deus: Tudo o mais virá por si, segundo a sua vontade e não segunda a nossa. 

E imitemos Moisés também na fundamentação da nossa o ração. Ela pode basear-se em sólidos argumentos, como ade Moisés, e podemos dizer: Deus, tu nos conheces pelo nome e nos temos achado graça aos teus olhos. Tu tens com cada um de nós (e com a tua comunidade) um estreito contato pessoal, teu Filho morreu por cada um de nós. Tu já te dedicaste a nós de tal maneira. Agora não podes em absoluto deixar que entremos sozinhos no deserto. Tu mesmo prometeste que estarias conosco todos os dias até a consumação do século. - Esta deve ser a nossa exposição de motivos. 

E finalmente imitemos Moisés na insistência. Sejamos chatos, não demos tréguas a Deus, para que ele sinta que necessitamos desesperadamente da sua presença, do contrário não sabemos discernir o caminho certo neste deserto obscuro do nosso futuro. Que Deus nos arranque da letargia ao pé do monte sagrado e nos empurre para o deserto. E que não nos deixe a sós sem a sua presença. Amém. 

Oremos: Senhor, dá que reconheçamos o monte sagrado ao qual nos prendemos, e o deserto que nos desafia. E se enxergarmos o deserto e descobrirmos o caminho, da que não vacilemos. E nunca nos deixes a sós sem a tua presença, Senhor! Amém.

Veja:
Nelson Kirst
Vai e fala! - Prédicas
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Nelson Kirst
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: Último Domingo após Epifania
Testamento: Antigo / Livro: Êxodo / Capitulo: 33 / Versículo Inicial: 12 / Versículo Final: 23
Título da publicação: Vai e fala! - Prédicas / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 20302
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