Jubileu dos 500 Anos da Reforma



ID: 2929

O lugar da mulher é em todo lugar

03/10/2017

O lugar da mulher é em todo lugar

Apesar do contexto histórico em que vivia, Lutero deu início a um processo de igualdade entre os seres humanos. Até então, a escola era restrita aos meninos. Mesmo reproduzindo o pensamento patriarcal do período, o monge contribuiu para o reconhecimento do valor e da importância da mulher. Já de início, ao propor a democratização da educação no texto Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs (1524), Lutero afirmou que “também uma menina pode gastar diariamente uma hora para ir à escola”. Isso significou dar a elas o direito de aprender a ler e a escrever e, assim, descobrir o mundo a partir de suas próprias percepções.

Enquanto monge, Lutero obedeceu às normas da Igreja. Fez os votos da ordem agostiniana e seguiu o celibato. Porém, já excomungado, em 1525, uniu-se à ex-freira Catarina von Bora de livre e espontânea vontade – fato que merece evidência considerando-se que os casamentos da época eram, em sua maioria, arranjados. Catarina, vale dizer, tinha 18 anos quando Lutero divulgou suas 95 teses. Foi ao tomar conhecimento dos escritos dele que ela decidiu que não passaria a vida enclausurada. Eles se casaram quando ela tinha 26 anos e viveram juntos durante 20 anos, até 1546 – quando Lutero morreu.

Foi a partir das Escrituras Sagradas, e sendo esposo de Catarina e pai de Elisabeth, Madalena e Margarete – além de três meninos – que o ex-monge passou a dar ênfase para as mulheres, creditando também a elas a responsabilidade e o êxito do matrimônio. Para Lutero, a mulher era a educadora dos filhos – tarefa que, em sua visão, tinha tanto valor quanto o trabalho masculino realizado fora do lar. À época, as mulheres eram vistas em condição inferior aos homens. Difundia-se a ideia de que a inteligência delas era menor do que a deles. Mas a consideração e a gratidão dispensadas à Catarina – e registradas nas cartas que escrevera a ela durante suas viagens – deixam claro que, para Lutero, a mulher também é forte e capaz. Exemplo disso foi a mudança provocada por ele na música. Com a criação dos cantos litúrgicos em coro, Lutero permitiu que as mulheres cantassem nas missas e, de modo literal, ganhassem voz.

À sua volta, além de sua esposa, outras mulheres se empenharam na Reforma Protestante e conquistaram seu reconhecimento. E, embora existam registros de que o reformador concordasse com o pensamento característico do período – de que o lugar das mulheres era dentro de casa, subordinadas ao esposo –, sabe-se que ele as tratava com respeito e estima.

Árgula de Grumbach, conhecida como a primeira escritora da Reforma, por exemplo, trocou correspondências com Lutero. Nelas, ele se referia a ela como “discípula de Cristo” e “instrumento especial de Cristo”, apreciando seus esforços. Para Katharina Zell – esposa do sacerdote excomungado e primeiro pastor protestante de Estrasburgo, Matthew Zell –, Lutero sugeriu que assumisse “a tarefa político-eclesiástica delicada de ajudar a estabilizar a unidade entre os teólogos de Wittenberg e Estrasburgo”, conforme explica Ruthild Brakemeier ao Portal Luteranos.

A visão de que a partir do batismo todos se tornavam vocacionados fez com que Lutero percebesse relevância nas mulheres e nas tarefas domésticas destinadas a elas naquele tempo. Grande parte do conhecimento médico da época estava nas mãos das mulheres, que estudavam as ervas nos conventos. Para além disso, é inegável a produção de poesias e músicas como expressão da fé feminina no período. Expoentes dessas áreas são Katharina Zell (1497-1562) e Elisabeth Creuziger (1550-1568), que poucas vezes aparecem nos registros históricos. Isso porque, no século XVI, mulheres ainda eram consideradas “homens incompletos”. A superstição, registre-se, levou muitas à fogueira. Mas, como afirmou o historiador Martin Jung, “sem o apoio das mulheres, a Reforma não teria acontecido”.

Você sabia?

Atualmente, está em discussão em igrejas luteranas a admissão das mulheres ao ministério pastoral. Algumas instituições já as nomeiam, enquanto outras consideram que há impedimentos teológicos para tanto. Por outro lado, merece destaque o trabalho das organizações femininas oriundas dessas congregações.

A Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE), por exemplo, é vinculada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e atua, apoia e colabora nos projetos realizados nas comunidades, paróquias, creches, hospitais e lares de idosos. A Liga de Servas Luteranas do Brasil (LSLB), da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), também realiza obras de caridade e promove o estudo bíblico, além de financiar a construção de templos e bancar bolsas de estudos para futuros pastores. Ambas comprovam que, assim como nos dias de Lutero, as mulheres fazem parte da construção da sociedade. Suas tarefas – independente do espaço que ocupam – são fundamentais para a manutenção de toda e qualquer comunidade.


 


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