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ID: 2958

Independência e cidadania

Artigo

09/09/2005


Nesta semana conhecida como a Semana da Pátria, o rufar dos tambores, a afinação das bandas marciais, assim como o ensaio dos ritmos da marcha cadenciada, nos pátios das escolas e em muitas instituições de serviços da cidade, remetem para uma comemoração muito significativa. Sete de setembro, Dia da Independência, traz à memória a quebra dos laços da dependência política, administrativa e econômica da Colônia, no mundo novo da América, em relação aos poderes colonizadores. Sem sombra de dúvida, um motivo justificado para que aconteça a lembrança da data em clima de festa e de celebração cívica. Segmentos da sociedade brasileira, de carona com o dia feriado, promovem manifestações paralelas; na realidade, expressões de sua convicção e de sua liberdade, a serviço da valorização do ser humano e de suas lutas e necessidades. Às paradas cívicas juntam-se o grito dos excluídos, os protestos contra a corrupção, assim como manifestações contra e a favor das lideranças políticas nacionais..

O Dia da Independência identifica-se como a festa da cidadania. Quanto ao conceito de cidadania: o termo tem a ver, num primeiro momento, com a realidade da pessoa humana vinculada à cidade. O resgate da identidade do cidadão remete à vocação desse cidadão a uma vida de qualidade - é pessoa a quem se atribuem direitos como valores básicos que lhe são inerentes por natureza.

O Dia da Independência passa a ser uma baliza importante na revitalização da cidadania, do homem e da mulher, jovem ou velho, carente ou abastado, independente de raça, etnia ou de cor. A Igreja cristã, na perspectiva de grande família ecumênica, presta seu apoio a todo tipo de valorização da pessoa humana. Seres humanos, na qualidade de criaturas de Deus, merecem o respeito e a garantia de dignidade para a qual foram e são chamados.

Em 1948, quando da fundação do Conselho Mundial de Igrejas em Amsterdã, na Holanda, ocorreu no mundo religioso ecumênico o fortalecimento do conceito que apontava para a sociedade responsável. As características deste modelo constitutivo da nova sociedade seriam desenhadas a partir da liberdade de expressão, da tolerância mútua, da garantia de liberdade individual e cidadã; sociedade capaz de controlar o poder público, de questioná-lo e, sempre que necessário, tendo a possibilidade de substituir seus governantes.

Na semana em que festejamos em nosso País o marco de sua independência, é relevante destacar que o Evangelho de Jesus Cristo fundamenta uma nova ética: é a ética na política, na organização social, sempre para nortear a vida em sua individualidade e quanto ao convívio relacional. O Evangelho, fermento novo e dinâmico, fundamenta atitudes éticas a serviço da cidadania e da nova sociedade. Trata-se de um projeto coletivo, um desafio colocado à sociedade secular como ao mundo religioso. As perspectivas de uma sociedade mais humana, integrada e mais qualificada, promotora de justiça e de paz, estarão sempre relacionadas à preservação dos direitos fundamentais de cada pessoa cidadã.

A uniformização da vida humana, sua massificação no contexto da ideologia da globalização expressam, com certeza, a enorme dificuldade da sociedade moderna em administrar a individualidade da pessoa humana e sua qualidade cidadã. O indivíduo humano parece encontrar-se num processo histórico de diluir em meio à massa. Notória é a dificuldade do ser humano para orientar-se, para traçar rumos que lhe permitam assumir postura adequada de fé e também para expressar sua racionalidade. O mundo religioso entusiasta e alienante, embora crescente e de grande influência social na atualidade, nega a qualidade de cidadania da pessoa humana à medida que desconsidera sua liberdade e seu espírito crítico. Isso ocorre de forma consciente ou inconsciente, calculada ou não.

O Evangelho de Jesus Cristo, por causa de sua dimensão política, é como o fermento na massa. Quer indicar um porto seguro. É oferta que transforma as mentes e o mundo, quando distante de Deus e dos humanos, traz esperança aos desesperados, integra os marginalizados, organiza a sociedade desordenada, promove a reconciliação a quem desejar fazer justiça com as próprias mãos. É boa notícia a serviço da cidadania, do espírito questionador e da liberdade!

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Jornal A Notícia - 09/09/2005


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