Prédicas e Meditações



ID: 2931

Venha | Isaías 55.1-6

9º Domingo após Pentecostes

25/07/2021

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

Quem de nós se lembra da personagem “velha surda” que se apresentava no programa “A Praça é Nossa”? Eram bons tempos aqueles. Ela era engraçada porque quando alguém dizia uma coisa, ela entendia de uma forma completamente diferente. A velha diz para o Apolônio: eu conheço você de algum lugar. Ele diz: Já começou a confusão e a velha surda entende: Ah, da televisão. E assim a conversa continuava, ou pelo menos se tentava continuar, porque conversar com ela não era uma tarefa fácil. São boas lembranças do passado.

Algo parecido estava acontecendo com o povo de Israel. Quando eles se tornaram uma nação forte e poderosa, ficaram como a velha surda: não compreendiam mais os conselhos de Deus, o Senhor. Ao contrário, faziam de conta que “a conversa não era com eles”, que podiam seguir seu caminho longe de Deus, o Senhor.

Quando o povo parou de ouvir o Senhor, surgiram os profetas que tinham que falar bem alto e em claro tom para que todos ouvissem. Os profetas diziam: pessoal, voltem para Deus, o Senhor de nosso povo. Senão sofreremos desgraça e destruição. Por incrível que pareça, o povo entendia isso bem ao contrário. Nos ouvidos deles, parecia ser: pessoal, vivam assim mesmo que certamente prosperaremos. O povo estava ouvindo o que queriam ouvir e não o que precisavam ouvir.

Deus, por meio dos profetas, insistentemente pedia que seu povo se afastasse do mal e que confiassem no Senhor. Eles, ao contrário, confiavam cada vez mais apenas em si mesmos. Não havia mais espaço para Deus. Ele ficou do lado de fora de suas vidas.

Israel estava criando relações exteriores com países poderosos e perigosos como a Babilônia e o Egito. Deus lhes alerta: povo meu, confiem em mim e não nas outras nações. Mas o povo entendeu isso da sua maneira: certamente vamos prosperar fazendo alianças com os outros povos. Por mais que os profetas gritassem a Palavra de Deus, os ouvidos do povo estavam completamente fechados para aquilo que é a Verdade. E isso gerou consequências.

A decisão de fazer uma aliança financeira com a Babilônia e o Egito foi que a própria Babilônia acabou desastrando o estado de Israel de modo que o povo de Deus foi sequestrado para uma terra estrangeira, a própria Babilônia onde eram, em parte, escravos. Quando o povo deixou de ouvir a voz de Deus, passaram a ouvir apenas a sua própria voz interior que os levou à desgraça e destruição. O clamor dos profetas não havia sido ouvido. Agora, os olhos tinham que ver aquilo que os ouvidos não quiseram ouvir: a destruição da nação de Israel.

O Senhor julgou a Israel por sua desobediência à sua Palavra. Um julgamento duro a um povo de duro coração. Entretanto, o amor e a misericórdia de Deus são infinitamente maiores que os pecados humanos. Após a sua estadia infeliz na Babilônia, o profeta anuncia em alto e bom tom que há nova esperança. Então chegamos ao texto da mensagem de hoje. Agora, por incrível que pareça, havia ouvidos atentos para ouvir as promessas do Senhor Deus que anuncia conforto e esperança.

O primeiro versículo do texto aponta para algo que é básico para a nossa vida: a água. Em seguida, o profeta menciona uma bebida utilizada em banquetes: o vinho, muito utilizado por aqui também, principalmente na região da serra gaúcha. O vinho, na Bíblia, é o símbolo de alegria. Em seguida o profeta fala do leite que é um produto da terra prometida. Estes produtos são da melhor qualidade para a época e essenciais como são também hoje.

O mais interessante de tudo é que o anfitrião, ou seja, o dono da casa não é uma pessoa qualquer, mais o próprio Senhor. Naquela época não havia dinheiro em moeda como nos dias atuais. Os negócios eram feitos a partir da pesagem de prata e ouro. É muito interessante a prédica que o profeta anuncia ao povo daquele tempo.

O profeta anuncia para seus ouvintes um convite feito pelo próprio Deus para que, em sua fome e sede, sejam saciados pelo Senhor em abundância. E o melhor: sem nenhum custo. Eles poderiam se deleitar nos produtos da melhor qualidade sem gastar sequer um centavo do seu bolso. Antes o povo estava na escassez, na falta, na necessidade; agora, Deus lhes promete muito mais do que precisam. Deus promete abundância.

Tudo isto é símbolo da Aliança que Deus quer fazer com o seu povo. Deus sabe que eles não lhe tinham ouvido no passado, mas seu amor é muito maior e, por isso, Deus também emprestou seus ouvidos ao povo, ouviu o seu clamor e promete lhes libertar da opressão em que se encontram. A bênção de Deus não tem custo, é de graça e está disponível para todos que desejam ter um relacionamento com o Senhor. Não há na terra ouro ou prata que possam comprar a Aliança que Deus faz com o ser humano pecador. A Aliança que Deus faria com Israel era tão intensa que se refletiria aos outros povos. Assim, Israel seria um destaque entre outros povos por glorificar ao Senhor. E o Senhor diz ao seu povo: “Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares” (v. 2). Ou seja: pessoal, escutem bem! Aceitem minha Aliança que a situação vai melhorar e muito! Haverá abundância da minha graça para vocês e para os outros povos. Parem de perder tempo com o que é passageiro e se concentrem na minha Palavra, na minha orientação. “Inclinai os ouvidos a mim; ouçam, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma Aliança para sempre, que está baseada nas fiéis misericórdias prometidas a Davi” (v. 3).

Deus promete salvar o seu povo do sequestro na Babilônia. Mas não só isso: se o povo tiver ouvidos atentos, Deus dará que possam ter a bênção da Salvação eterna. Basta uma coisa: obediência.

As palavras ouvir e obedecer estão ligadas. Quando uma mãe dá uma ordem ao seu filho e ele demora a cumpri-la, o que a mãe diz? Você não ouviu? Vai lá agora! Quem ouve, também obedece prontamente o Senhor. Deus deseja realizar uma obra maravilhosa com o seu povo. Basta que parem de se fingir de surdos e a começarem a ouvir o que Deus tinha a lhes dizer. Uma Aliança diferente de qualquer outra: uma Aliança que não terá fim! Esta é a promessa de Deus.

O ser humano coloca facilmente a sua confiança e segurança em coisas que não passam de ilusão. Já o profeta Isaías demonstra claramente que a verdadeira satisfação e preenchimento do vazio de nossa vida só se encontra em uma Aliança com o Senhor, nosso Deus.

O nosso coração é enganoso e, por vezes, nos inclina a fazer o que não devemos fazer. Por vezes caímos no erro seguindo a nossa própria “intuição”. Isaías nos afirma que o povo e os líderes estavam completamente enganados investindo o que não tinham em coisas que não satisfazem o seu vazio que é do tamanho de Deus. Precisavam de pão e compravam o que não é pão. É como se tivéssemos fome e usássemos nosso dinheiro para comprar um salgadinho ao invés de pão. Disfarça a fome, mas não têm os nutrientes necessários para alimentar o nosso corpo. O povo estava confiando apenas em si mesmo ao invés de confiar naquilo que Deus pode dar.

E um dos problemas para isso era que, justamente, faltavam ouvidos atentos àquilo que Deus estava dizendo. O povo esqueceu de Deus e seguiu seu caminho, o que lhes levou à destruição. O povo precisava apenas ouvir o conselho de Senhor e glorificá-lo em suas decisões. Precisavam ter um relacionamento íntimo com Deus, pois era só o que ele lhes pedia: obediência.

A ajuda realmente veio. O povo foi liberto do seu sequestro e pôde voltar para sua terra natal, agora com ouvidos atentos ao Senhor. O profeta anuncia claramente o seu recado: Somente Deus pode lhes dar tanto a satisfação física como espiritual. Só Deus poderia matar a sua fome e sede por justiça e a sua fome e sede por salvação. E o melhor de tudo, isso é para todas as pessoas.

Deus não faz diferenças entre as pessoas. Para Deus, todos são bem-vindos e todas as pessoas podem aceitar o seu maravilhoso convite de Salvação. Basta ter ouvidos atentos ao invés de se comportar como aquela velha surda. O v. 6 diz: “Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto”. O profeta está dizendo: pessoal, a Salvação é agora. Se vocês deixarem para depois, pode ser tarde demais.

Quem acha que está satisfeito não precisa de mais nada de Deus. Nossa sociedade moderna e consumista nos levou a acreditar cada vez mais que dependemos somente de nós mesmos para termos o sustento, o progresso material e uma boa vida. Basta uma seca, tempestade ou pandemia para sermos lembrados que dependemos completamente da provisão divina.

Contudo, o convite de Deus ao povo de Israel permanece de pé. Não somos o povo de Israel, mas em Jesus Cristo, o próprio Deus se encarnou neste mundo e veio conversar com a gente, saber como estamos, entender o que é ser humano. Deus nos conhece porque se tornou como um de nós. Em Jesus Cristo, Deus é presente e nos promete sua companhia em todos os momentos. E ele não nos cobra nada por isso. É de graça.

Assim como o profeta Isaías manifestou o convite de Deus no Antigo Testamento, o próprio Deus em Jesus Cristo o repete no Novo Testamento: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11.28-29).

Um convite foi feito. Quem irá aceitá-lo? Fazemo-nos de surdos como Israel ou estamos atentos às palavras do Senhor? Podemos a partir de hoje recomeçar a nossa vida diante de Deus e do nosso próximo.

Estamos vivenciando uma das piores crises dos últimos tempos. Quem diria que viríamos tanto tempo dentro de uma Pandemia como esta? Se dissessem isso há alguns anos, talvez nunca iríamos acreditar que um pequeno vírus poderia ser tão letal ao ponto de confundir e quase parar o mundo.

Deus está com o ouvido inclinado esperando que clamemos por seu socorro. Sua misericórdia é imensa e sua graça é sem fim. Agora, quando ele falar, que tenhamos ouvidos atentos para ouvi-lo e obedecê-lo. E ele fala conosco por meio da sua Palavra e dos Sacramentos. Por vezes pedimos muito a Deus, mas não damos ouvido ao que ele deseja nos dizer.

Ouçamos atentamente a voz de Deus, pois ela está a nos chamar. Que possamos buscar o Senhor enquanto ele está disponível para nós e invocá-lo enquanto está perto. Amanhã pode ser tarde demais. O dia da ação sempre é hoje, pois o ontem já passou e o amanhã é incerto. Deus oferece a sua graça a todas as pessoas. Basta crer.

O mundo está girando rápido demais. Parece que falta tempo para termos um tempo para a oração, para a leitura bíblica; ou para visitar algum parente, algum amigo ou uma pessoa que passa por alguma dificuldade. Que possamos parar para ouvir a voz de Deus e cumprirmos a sua vontade. Ele fez uma Nova Aliança conosco quando entregou o seu único Filho Jesus Cristo para morrer em nosso lugar na cruz.

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o nosso coração e a nossa mente em Cristo Jesus. Amém.


9º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | VERDE | TEMPO COMUM | ANO B

18 de Julho de 2021


P. William Felipe Zacarias


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 55 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 6
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 63590
MÍDIATECA

AÇÃO CONJUNTA
+
tema
vai_vem
pami
fe pecc

Todas as nossas orações devem fundamentar-se e apoiar-se na obediência a Deus.
Martim Lutero
REDE DE RECURSOS
+
O maior erro que se pode cometer na cristandade é não zelar corretamente pelas crianças, pois, se queremos que a cristandade tenha um futuro, então, precisamos preocupar-nos com as crianças.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br