Carta as Comunidades
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, em consonância com a Campanha Global da Federação Luterana Mundial (FLM), com o apoio desta e da Fundação Luterana de Diaconia, convocou, através de seu Departamento de Diaconia, o Seminário Nacional sobre HIV/Aids com o objetivo de propor políticas, difundir informações e restaurar redes de solidariedade.
Reunidos em Rodeio 12, Santa Catarina, nos dias 29 de agosto a 2 de setembro, sob o tema Quebrar o Silêncio. Restaurar a Dignidade, nós, representantes dos sínodos e departamentos da IECLB e de organizações e setores da sociedade civil que trabalham com pessoas que vivem com Aids, refletimos sobre o tema e constatamos que a Igreja necessita quebrar o silêncio sobre HIV/Aids, não por causa do vírus, mas por causa das pessoas e do evangelho de Jesus Cristo. Reconhecemos, contudo, a nossa dificuldade de falar sobre HIV/Aids. Confessamos que existe preconceito e falta de solidariedade para com pessoas que vivem com Aids. Também constatamos que tudo isso, associado à falta de informação e de compreensão, pode agravar a enfermidade e impedir a melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV. Por isso, como Igreja, precisamos pedir perdão a todas as pessoas que vivem com Aids pelo nosso silêncio que, certamente, contribuiu para a exclusão e o preconceito e fez aumentar o seu sofrimento e de seus familiares neste mais de 20 anos da epidemia.
Contudo, como pessoas acolhidas por Deus e feitas um em Cristo Jesus no batismo (Gálatas 3.23-29), assumimos, agora, o compromisso de ser Igreja que serve, acolhe, ampara, consola, orienta, profetiza (Lucas 4.18-21). Isso implica no resgate de valores éticos cristãos como a fidelidade, a solidariedade, a esperança e o amor nos relacionamentos humanos.
Durante o seminário, conhecemos iniciativas de prevenção que, através da conscientização para a mudança de comportamento, resultam em diminuição de casos de contaminação. As palestras, as oficinas e os trabalhos em grupos nos mostraram que o vírus da Aids não escolhe idade, sexo, etnia, credo e nível sócio-econômico. No entanto, observa-se que aumentam os casos entre mulheres, jovens e pessoas empobrecidas. Também em nossas comunidades há pessoas que vivem com HIV/Aids. Por isso, as comunidades e seus membros são desafiados a abordar o tema transversalmente nos grupos de Ensino Confirmatório, de Jovens, de Mulheres, de Casais, de Terceira Idade, na OASE, nos presbitérios, entre outros.
Vimos que no Brasil a legislação garante o acesso gratuito e universal a medicamentos e acompanhamento especializado, que resulta em melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com Aids. Infelizmente, em outros países da América Latina não é assim. Pelo amor de Cristo, nos tornamos solidários com nossos irmãos e irmãs e desafiados a denunciar a injustiça que impede a felicidade humana e a anunciar a graça de Deus que por meio de nós transforma o mundo.
Como resultado do seminário, encaminhamos à Presidência da IECLB um conjunto de propostas sobre o tema HIV/Aids que devem ser transformadas em ações a curto e médio prazos. As propostas são as seguintes:
a) Abordar a questão HIV/Aids no contexto amplo do relacionamento humano.
b) Sensibilizar as comunidades, obreiros e obreiras e lideranças para o tema.
c) Buscar fundamentação bíblico-teológica a partir do duplo mandamento do amor (amarás o Senhor teu Deus e a teu próximo como a ti mesmo, cf. Lucas 10.27), tomando em conta os documentos já existentes da Federação Luterana Mundial, da IECLB e textos trabalhados no Seminário Nacional sobre HIV/Aids.
d) Criar e restaurar redes de solidariedade, articulando com iniciativas que já existem e com as quais podemos estabelecer parcerias.
e) Elaborar uma pesquisa a ser aplicada nas comunidades luteranas para conhecer as iniciativas, ações e projetos relacionados ao tema, incluindo drogadição e alcoolismo.
f) Solicitar à direção da IECLB um posicionamento referente ao tema que deverá ser divulgado no Dia Mundial da Luta contra AIDS, em 1º de dezembro de 2004, numa campanha nacional de mobilização das comunidades.
g) Recomendar à Secretaria de Formação da IECLB que sejam oferecidas bolsas de estudo para pesquisas referentes à HIV/Aids e temas afins.
h) Constituir um grupo assessor à Presidência da IECLB para elaborar políticas e propostas de trabalho.
Finalmente, nós, participantes do Seminário Nacional sobre HIV/Aids nos alegramos que, apesar das nossas diferenças, pudemos quebrar o silêncio e dar um passo importante para restaurar a dignidade humana. Que Deus chame ainda outras pessoas para fazer o mesmo em nossa Igreja.
Membros do Seminário Nacional sobre HIV/Aids, convocado pela IECLB
Fonte: Membros do Seminário Nacional sobre HIV/Aids,
