Relatório do Pastor Sinodal - Assembleia Sinodal - Sínodo Sudeste - IECLB - 2002

25/05/2002

“Somos servos inúteis,
porque fizemos apenas o que devíamos fazer.”

(Lc 17.10)

Longe de ser uma autojustificativa de alguém que vem a público para prestar contas acerca de seu trabalho à frente do Sínodo Sudeste, a escolha deste versículo representa, antes e a cima de tudo, uma compreensão clara dos papéis diferenciados que desempenhamos dentro de um corpo institucional chamado igreja.

O Evangelho de Lucas menciona esta realidade com base na estrutura social e os papéis sociais assumidos na sociedade do primeiro século da era cristã. Sem emitir um juízo de valor acerca destes papéis sociais, afirmo que no corpo dos seguidores/as de Jesus existe uma clareza quanto ao serviço prestado na causa do Reino de Deus. Os/as discípulos/as não têm direitos adquiridos. Vivem da graça imerecida e respondem com gratidão ao chamado de Jesus. Correspondem pura e simplesmente às recomendações de seu mestre e senhor. Partilham da fé e da esperança de que o reino de Deus é chegado. Vivem as primícias do reino com as marcas e os sinais que o acompanham: perdão, comunhão, vida nova e salvação. Estas se expressam na busca de novas atitudes frente às regras e leis que impedem a vida plena e abundante desejada por Deus a seus filhos e filhas.

Como mantemos a tensão entre o reino já presente, - do qual testemunha a Igreja - e o reino ainda não presente na sua plenitude - cuja instauração compete somente a Deus ? Como Igreja nos entendemos como parte da missão de Deus para a transformação do mundo. Somos instrumentos não exclusivos, mas com humildade aceitamos fazer o que for do nosso alcance.

Diante disso nos perguntamos: Foi nossa ação através dos instrumentos institucionais (comunidades, paróquias, grupos e setores de trabalho, diretorias, conselhos, comissões, etc.) compatível com a vontade de Deus? Conseguimos ser eficazes como minorias cristãs na sociedade e no mundo? Olhamos em primeiro lugar para o reino de Deus e a sua justiça? Ou fixamos nossa determinação e ação no umbigo pessoal e institucional?

Fui investido na função com as palavras do P. Presidente: “ Tenho o prazer e lhe estender esta cruz que lhe distingue a tarefa e a função de Pastor Sinodal no Sínodo Sudeste. Colega Rolf, esta cruz é sinal de fraqueza, é sinal de entrega, de renúncia e de pequenez a partir do próprio exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo. Que assim seja na sua função de Pastor Sinodal!”

Estas palavras pareciam enigmáticas e só com o passar dos meses e anos elas receberam um conteúdo mais claro. Deus carece de nossas mãos e de nossos pés e para tanto utiliza ferramentas e instrumentos frágeis. Por isso este relatório não quer ser triunfalista nem um tratado de boas obras. Vivemos e sobrevivemos só pela graça e misericórdia de Deus.

Tivemos sobressaltos e fomos assolados por várias intempéries. As crises comunitárias, as tensões entre lideranças(leigos e obreiros/as), que exigiram uma presença e um acompanhamento por parte do Sínodo, são parte de um processo de mudanças de caráter sócio-cultural( os membros não tem mais uma uniformidade étnica), sócio-econômica( não se limita a setores médios), mudança sócio-política( quebrou-se uma certa uniformidade ideológica) e mudança sócio-religiosa(o pluralismo religioso chegou para ficar). A insegurança e a instabilidade, que este quadro de mudanças provoca, desencadeia posicionamentos apaixonados. A diretoria e o pastor sinodal tiveram que transitar em meio aos conflitos marcados por paixões, convicções, visões e experiências muito diferentes.

Na nova estrutura da IECLB o Sínodo Sudeste seguiu um caminho lento. Privilegiou as estruturas comunitárias supraparoquiais existentes (Uniões Paroquiais), entendendo que o Sínodo não faz o caminho. Sínodo significa caminhada conjunta das comunidades. Quem caminha é o povo de Deus reunido em comunidades. O Sínodo é instância mediadora, articuladora, fomentadora, motivadora e catalisadora da caminhada conjunta daqueles que se colocam sob o guarda-chuva da IECLB.

Neste sentido realizamos dois seminários de planejamento que identificaram num primeiro momento as necessidades e prioridades das comunidades (formação de lideranças) e, num segundo momento, apontaram dentre as necessidades as ênfases a serem perseguidas pela formação. Lamentavelmente este processo não teve um encaminhamento condizente e a sua implementação sofreu devido aos percalços que a diretoria teve ao longo do ano passado.

Nestes primeiros anos o Sínodo Sudeste teve uma grande rotatividade de obreiros/as nas paróquias (Veja anexo o quadro de pessoal). As mudanças influenciaram as relações entre os/as obreiros/as e o processo de comprometimento maior ou menor com o trabalho sinodal. Por mais que os leigos sejam a garantia da continuidade da vida comunitária, a presença e a orientação de um (a) obreiro /a é de fundamental importância. Nas Conferências de Obreiros/as prosseguimos no estudo de temas teológicos que dizem respeito ao dia-a-dia da igreja bem como ao ser obreiro/a da e na igreja(Veja quadro anexo). A distância geográfica entre as paróquias dificulta uma maior integração de trabalhos e o aproveitamento de dons e talentos.

O ministério pastoral (seu modelo e o seu desempenho) está sendo colocado em xeque pela religiosidade contemporânea. A ruptura do consenso eclesial, a cobrança cada vez maior por resultados e uma vida cada vez mais agitada e exigente provocam muitas crises pessoais e familiares. O acompanhamento (visitação e assistência) sempre fica aquém das necessidades. Foram realizadas avaliações de obreiros e de candidatos/as ao pastorado, instalações, ordenações e muitas visitas para mediação de conflitos e tensões.

As comunidades e paróquias passam por situações diferentes. Na região da Grande Campinas verifica-se o fechamento de um ciclo em que as paróquias integradas na União Paroquial estão consolidadas. Este fato leva a uma nova fase de avanço para áreas em que a IECLB ainda não está organizada. Trata-se de uma região que experimenta um dos mais formidáveis crescimentos econômicos com a interiorização que começou no final dos anos oitenta.Neste sentido temos a Área Missionária de Ribeirão Preto, Área Missionária de Piracicaba e São Carlos. Os núcleos do Vale de Atibaia (Valinhos, Jundiaí e adjacências) estão em processo de consolidação.

Já a Grande São Paulo avança nos corredores das Rodovias Regis Bittencourt e Castelo Branco sem falar na consolidação que se verifica no Vale do Paraíba(São José dos Campos e adjacências). O Grande Rio está em compasso de espera enquanto a Grande Belo Horizonte conseguiu desenvolver um planejamento estratégico em que se combinam ação missionária e ação diaconal.

Preocupante está a situação de algumas Paróquias que por razões diversas passam por muitas dificuldades. Não são auto-suficientes do ponto de vista financeiro e sua expansão está limitada por carência de pessoal.

A ação diaconal no Sínodo Sudeste tem uma atenção muito grande(Veja quadro anexo). Milhares de pessoas recebem apoio através de instituições ligadas às comunidades e paróquias ou através de departamentos de assistência social coordenados por membros da igreja. Além disso, temos o testemunho de irmãos e irmãs que participam ativamente em instituições beneficentes e/ou em Conselhos de Assistência Social, da Criança e do Adolescente, Tutelares em suas cidades. Algumas comunidades abrem seus espaços para atividades da sociedade civil. Trata-se de um testemunho importante de pessoas que procuram testemunhar a sua fé pela prática do amor.

Uma atividade importante nestes anos foi a da representação da igreja em eventos, encontros com entidades ecumênicas, instituições, movimentos, pastorais e igrejas irmãs. Além disso, a recepção de visitantes de outros países que transitam por São Paulo e querem conhecer seus parceiros e dialogar sobre o ser-igreja-na-metrópole. Trata-se de um gesto de hospitalidade e de fraternidade entre igrejas e irmãos/ãs que não pode ser de forma alguma desprezada. É um serviço à igreja maior (em termos nacionais e mundiais).

Agradeço aos membros das diretorias que nestes quatro anos dedicaram seu tempo e seus dons a serviço da Igreja de Jesus Cristo no Sínodo Sudeste. Foram anos de convívio e partilha muito importantes e pelos quais sou profundamente grato. Agradeço igualmente a Manfredo Leffler pelo seu prestimoso apoio ao longo destes anos. E não por último, quero agradecer a minha família que mais do que nunca sentiu o peso da cruz da qual falara o presidente da igreja. As comunidades são maiores do que o Sínodo Sudeste e por isso eu afirmo que a IECLB tem um grande futuro nesta região. Que Deus desperte lideranças e as capacite para os desafios!

Rolf Schünemann
Pastor Sinodal
 


Autor(a): Rolf Schünemann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Prestação de contas
Perfil do Texto: Relatório
ID: 14753
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