Mãos unidas para enfrentar as adversidades
Diante dos inúmeros desafios impostos pela pandemia do Covid-19, é comum olharmos somente para a excepcionalidade deste ano. Afinal, cada um, cada uma de nós está sendo significativamente impactado, impactada e muitas pessoas têm sofrido perdas, sejam elas emocionais e/ ou financeiras. Todavia, enfrentar adversidades não é exclusividade da nossa geração. Um olhar atento ao passado revela que os nossos antecedentes também tiveram que superar desafios.
A história da imigração alemã possui vários relatos que revelam a determinação daquelas Comunidades em manter os seus valores culturais. A ética do trabalho, a ênfase na educação e a valorização da Igreja mobilizaram as pessoas imigrantes a construir povoados, escolas, hospitais e Igrejas, bem como mantê-las associativamente.
Caracterizadas pela ajuda mútua, as Comunidades preservaram e propagaram a fé evangélica. Mesmo onde não haviam Pastores nem Professores formados, pessoas foram motivadas para o Ministério e para a Docência, de modo que as novas gerações fossem instruídas e, assim, pudessem exercer a maravilhosa dádiva da liberdade cristã, lendo e estudando a Bíblia e o Catecismo.
Talvez a lógica de consumo na qual estamos inseridos e inseridas tenha nos acostumado a terceirizar alguns compromissos. Nesta fase de isolamento social, com templos e escolas fechadas, voltamos a perceber que manter viva a nossa comunhão com Deus não depende somente do Pastor, da Pastora nem é exclusividade dos Professores e das Professoras a responsabilidade pela educação dos nossos filhos e das nossas filhas. Tampouco podemos esperar somente do Estado o auxílio às pessoas necessitadas, embora seja um compromisso cristão exigir políticas a favor da justiça e da solidariedade.
Relendo a Declaração do XXIV Concílio da IECLB, realizado em São Leopoldo/RS, em 2004, elaborada quando da celebração dos 180 anos das primeiras Comunidades luteranas no Brasil, ficam evidentes os princípios que impulsionaram as pessoas imigrantes luteranas diante do desconhecido. Ao adaptar-se ao novo contexto, assumiram a identidade de cidadãs brasileiras sem deixar de preservar os seus valores, mesmo diante de tantas dificuldades.
Embora as adversidades deste momento nos desorientem, dar o ano como perdido pode ser uma atitude conformista. Que a nossa fé nos anime e nos mobilize para enfrentar as dificuldades conjuntamente, mantendo vivo o espírito comunitário que nos trouxe até aqui.
Prof. André Sträher | Diretor do Colégio Sinodal do Salvador, em Porto Alegre/RS
PRONUNCIAMENTO |
Primeiras Comunidades de Fé
Somos gratos pela herança eclesial e teológica. Constituíram-se Comunidades de fé. Igreja e Escola andaram de mãos dadas. Aqueles imigrantes e seus descendentes perseveraram na fé evangélica e a transmitiram a seus filhos e suas filhas. Quando não havia Pastores nem Professores formados, escolheram dentre os seus membros quem melhor pudesse assumir as funções. Mantiveram e desenvolveram um espírito sóbrio no trato das questões religiosas, respeitando crenças diferentes das suas. Vivenciaram de maneira peculiar a maravilhosa dádiva da liberdade cristã. A Bíblia, o Catecismo - preponderantemente o Catecismo Menor de Lutero - o canto e a oração alimentaram a sua fé.
Posicionamento sobre Declaração da IECLB nos 180 anos das suas primeiras Comunidades (2004)