Como és grande, ó Senhor, nosso Deus!
O Lema do Mês foi tirado de uma oração de agradecimento do rei Davi (2Sm 7.18-29). Esta oração faz parte de um bloco que engloba os capítulos 5 a 8 do livro de 2Samuel e narra a consolidação do reinado de Davi sobre Judá e Israel: a conquista de Jerusalém, vitórias militares, expansão do reino e a transferência da Arca da Aliança, que simbolizava a presença de Deus, para Jerusalém.
O capítulo 7.1-17 traz uma promessa de Deus a Davi. O profeta Natã, que estava ligado à corte real e era conselheiro do rei Davi, anunciou a promessa: Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre (2Sm 7.16). A tua casa e o teu reino... teu trono... para sempre... Deus promete construir para Davi uma casa, isto é, uma dinastia. A sua descendência reinaria para sempre. Esta promessa é um dos textos mais signifi cativos do Antigo Testamento, porque sobre ela se fundamenta uma esperança: a esperança do Messias (Messias signifi ca Cristo em Grego e Ungido em Português).
Em Cristo, Deus cumpriu a sua promessa. As primeiras palavras do Novo Testamento (Mt 1.1-17) lembram que José era da casa de Davi, por isso ele e Maria foram alistar-se em Belém, a cidade de Davi, conforme determinava o decreto do imperador Augusto, onde nasceria Jesus.
O capítulo 7 de 2Samuel inicia contando dos planos de Davi, que queria construir uma ‘casa’ para Deus. Tendo chegado ao topo do poder, ele sente que algo não está certo e sabe que deve o seu sucesso ao Senhor dos Exércitos. Deus está muito acima dele. Como pode ser que o rei habite a sua própria ‘casa’ e todos podem ver o seu poder enquanto a arca de Deus continua sendo abrigada em uma tenda?
Se o Deus de Israel está acima de Davi, então isso precisa ficar visível por meio de uma ‘casa de cedros’, um templo que representa toda a grandeza desse Deus. A tenda, segundo a lógica do rei, não refl ete condignamente a glória e a majestade de Deus, por isso Davi quer construir um templo digno da glória do Senhor.
Lema do Mês Não há ninguém igual a ti; somente tu és Deus; não existe outro. 2Samuel 7.22 |
O profeta Natã é da mesma opinião e dá o seu aval ao projeto de construir um templo para a arca de Deus. Ele presume que haja uma sintonia grande entre o rei e Deus, que tem aprovado tudo o que Davi faz. Prova disso é o sucesso do rei em todos os seus empreendimentos: o Senhor é contigo (v. 3). Os planos do rei (tudo quanto está no teu coração, v. 3) são também os planos de Deus, deduz o profeta.
Não é bem assim... A palavra do Senhor veio a Natã (v. 4) e corrigiu a opinião do rei e do profeta. Não será Davi a construir uma ‘casa’ para a arca de Deus, mas o herdeiro de Davi, Salomão (1Rs 6).
Não deve ter sido fácil para Davi aceitar esta mudança, mas ele reconhece que as coisas não acontecem como ele queria e, ao ouvir a promessa que Deus construiria uma ‘casa’ para ele, que a sua descendência reinaria para sempre, ficou maravilhado, agradeceu e engrandeceu o Senhor.
Na sua oração de agradecimento, Davi lembrou do amor de Deus ao libertar o povo de Israel das mãos de muitos inimigos e da prosperidade do seu reinado. Louvou ao Senhor especialmente pela promessa revelada por meio do profeta Natã, de que a sua descendência reinaria para sempre: Como és grande, ó Senhor, nosso Deus! Não há ninguém igual a ti; como temos ouvido dizer, somente tu és Deus, não existe outro (2Sm 7.22).
O versículo fala sobre o respeito e a consideração diante da grandeza de Deus. Davi mostra profunda sabedoria de vida. É preciso ter em mente que as coisas nem sempre são como a gente quer. Às vezes, a vida segue por caminhos diferentes. Também Deus têm planos para nós.
Todos já sabem disso... Faço planos, estou animado com certo projeto, então surge algo, há obstáculos no caminho e já não consigo mais avançar nem tenho forças para isso. Em algum momento, preciso reconhecer: o que planejei é demais para mim, não vou conseguir fazer.
Talvez seja uma das coisas mais difíceis da vida: reconhecer os próprios limites, abrir mão de planos, descer até o chão da realidade. No início, fi co triste, mas, em algum momento, também humilde e grato, pois é libertador não precisar mais correr atrás de algo que está além dos próprios limites. É libertador deixar-me dizer que outro vai fazer.
Que Deus nos ilumine e guarde! Amém!
P. Dieter Juergen Thiel | Ministro na Paróquia Apóstolo João, em Pomerode/SC