Nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino Demônios domésticos
Com a separação, a mãe saiu de casa. Tempos depois, constituiu um novo lar. O mesmo fez o marido. A filha adolescente ficou com o pai, visitando a mãe de tempos em tempos. Tudo corria bem até que a menina voltou da visita da casa da mãe com uma confusão mental. Nada que falava tinha nexo.
Como pessoas católicas, apelaram para o Padre, que fez a visita acompanhado por um colega Psicólogo. Pediram para conversar com a menina, com a porta do quarto aberta. Não foi necessário muito tempo para a menina revelar que o seu padrasto a havia assediado sexualmente, mas ela tinha conseguido se esquivar.
Ainda enquanto os Padres estavam naquela casa, apareceram dois Pastores de uma igreja exorcista. Vendo os Padres, disseram que voltariam em outro momento. Fico imaginando como teriam sido os encaminhamentos espirituais de pastores exorcistas. Diriam que a menina estava ‘endemoniada’, fariam exorcismos, ganhariam algum dinheiro e a menina continuaria sofrendo com o assédio do padrasto. Desta fez, o caso foi para a Polícia, sendo a padrasto preso e mãe condenada por conivência.
Casos como esses acontecem diariamente no Brasil. Segundo informações da Polícia, referendadas pelos órgãos de saúde e de segurança pública, ocorrem 135 casos de estupros por dia contra mulheres. Dentre as crianças, aproximadamente 75% são meninas e 25% são meninos. 51,9% das meninas estupradas estão na faixa de 1 a 5 anos e 42.9% têm de 6 a 9 anos. Quase a metade dos estupros ocorre em casa e são praticados por homens da família: pai, padrasto, irmãos mais velhos e outros parentes.
Especialistas no assunto dizem que estes dados estão subnotificados, chegando apenas a 15%. Portanto, a tragédia é muito maior, chegando de 300 a 500 mil casos por ano. Os estupros de meninos, explicam os Especialistas, são menos denunciados em razão da vergonha da família. Como a violência é doméstica, é encoberta pela família, tornando ‘invisível’ o drama de crianças e mulheres.
A família, que deveria ser lugar seguro para milhares de crianças e mulheres, é um espaço de uma violência inominável e que marcará para sempre a vida destas pessoas, ainda mais se os casos não forem denunciados e as pessoas violentadas não forem tratadas.
Somos um povo que se diz quase 90% cristão. Somos o maior país católico do mundo, o maior país evangélico e o maior país espirita. Então, diante de uma violência brutal como essa, devemos nos perguntar pela responsabilidade de Igrejas e religiões e também lembrar uma advertência de Jesus: Nem todo aquele que diz Senhor, Senhor entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus (Mt 7.21).
Com o Dia das Crianças e das Professoras em outubro, podemos dar um novo sentido para estas datas refletindo sobre esse tema, que, sim, diz respeito e todos e todas nós, pessoas cristãs!