Feliz novo ano! Que seja leve e solidário!
À beira de um riacho vivia uma Comunidade de monges que prezavam o silêncio. Eles sabiam que uma chuva forte fazia o riacho trasbordar rapidamente, dificultando o trânsito das pessoas. Com a experiência de quem conhecia o comportamento do riacho, os mais velhos ajudavam as pessoas a passar as águas turvas.
Certo dia de chuva forte, o monge mais velho colocou em suas costas uma pessoa má, permitindo que voltasse para casa a salvo. Durante o jantar, os monges mais novos recriminaramno por ter ajudado a pessoa mais odiada do vilarejo. Até o mais novo dos monges manifestou a sua opinião contrária ao gesto do líder da Comunidade: ‘Ela não merece ajuda. Deveria tê-la feito esperar as águas baixarem para ela aprender a respeitar as outras pessoas’.
Por vários meses, a indignação dos monges com aquele gesto voltava às conversas à mesa. Por muito tempo, o monge ficou apenas na escuta, em busca de uma resposta. Certo dia, o assunto voltou e o monge solidário com a pessoa má deu uma resposta a todos: ‘Eu carreguei somente uma vez aquela pessoa, mas vocês continuam carregando-a nas suas costas até hoje’. Houve um sábio silêncio e que durou muito tempo.
Em breve, vamos entrar em um ano que esperamos seja novo, sem pesos de 2019. Assim, na passagem de ano, estaremos diante da situação daqueles monges: carregar situações doloridas de pessoas para o outro lado ou ficar carregando velhas situações, como os monges novos.
Não sei o que cada pessoa leitora deste texto tem de peso nos seus ombros. Além disso, nem todos os pesos podem ser descartados, em razão dos nossos compromissos solidários. Afinal, não cremos que certas situações sejam descartáveis, como querem as igrejas da prosperidade mágica.
Como o monge experiente, podemos levar nas costas as pessoas perversas para o outro lado da vida ou, como os monges novos, poderemos continuar carregando desnecessariamente certas situações.
A decisão não é fácil, como a maioria das decisões, especialmente quando não nos damos conta das nossas perversidades pessoais, comunitárias, sociais e políticas, que se avolumam a cada dia. Em outras palavras, podemos imitar o monge silencioso e, ao mesmo tempo, nos colocar como pessoas que precisam ser carregadas para o outro lado.
A presença de Deus na simplicidade da manjedoura veio nos carregar, a salvo, para o outro lado, porque só um Deus frágil, sem os suportes das armas, pode nos salvar das nossas perversidades.
Glória a Deus nas alturas e paz na terra!