Pastores de Trump: seríamos dEUses e dEUsas?
Em fevereiro deste ano, foi recebida, por autoridades brasileiras, uma comitiva de pastores dos Estados Unidos conhecidos por ‘pastores de Trump’, evidente referência a uma aliança entre evangélicos e o Governo norte-americano. Como não poderia acontecer em um país onde o Estado é laico, trono e altar se abraçam, na relação entre lideranças evangélicas e agentes públicos.
O que dizem esses pastores? Para situar leitores e leitoras, vou expor duas frases do pastor Victor Azevedo, que fundou a sua igreja e está nas Redes Sociais. Primeira frase: ‘Quando olho para Deus, sou tão justo que não me percebo inferior a ele’. A segunda frase, ainda mais herética: ‘Deus não me chama de Victor, ele me chama de Cristo’. Negam a cruz!
A sua mensagem não precisa de muita explicação. Tal pastor se coloca no lugar de Deus e no lugar de Cristo. Biblicamente, estamos diante de uma blasfêmia. Sim, se coloca no lugar de Cristo, mas não quererá ser crucifi cado em favor de nós.
A tentação de querer ser como Deus vem de longe, mas comecemos pelo que está mais perto. No final do século XIX, o Pensador francês Émile Durkheim (1858- 1917), considerado o pai da Sociologia, disse que, no futuro, o individualismo transformaria os homens e as mulheres em dEUses ou dEUsas. Brinco com as letras para expressar a ideia da divinização das pessoas individualistas: dEUs. Eu sou dEUs! Este tempo chegou a Brasília...
Séculos antes, Lutero comentou a queda dos seres humanos em Gênesis 3. Ele disse que o diabo inverte as palavras de Deus e exemplifica com o Primeiro Mandamento: Eu sou teu Deus, não terás outros deuses. Assim não podemos confi ar na própria obra para que sejamos salvos. Lutero disse que invertem tudo, não importando o que Deus faz. O pastor Victor inverte a Palavra de Deus ao se colocar no lugar Dele e de Jesus.
Se comeres da árvore, morrerás. Não, disse o diabo, não morrerás se comeres da árvore, mas serás igual a Deus. Por esta razão, Cristo chama o diabo de pai da mentira, comenta Lutero.
Costumo dizer nas aulas o que aprendemos da Reforma e do poder secular. Se uma Igreja precisa do Governo para a sua Missão, ela não confia na Palavra de Deus. Se um Governo precisa da Igreja para governar, ele é incompetente.
A colaboração entre Estado e Igreja está prevista na Constituição, mas o caso acima comentado extrapolou a colaboração, por perverter a Palavra de Deus. Nunca seremos iguais a Deus, mas a organização The Send Brasil pensa que sim... e muitas autoridades assim se portam.