Pilatos lavou as mãos...
Estamos confinados há semanas, a fim de seguir o que as autoridades de saúde orientam com base da Ciência. Faço parte daquela população acima de 60 anos e que, portanto, é mais vulnerável. Por ser tempo de penitência, quando lembramos da paixão de Jesus, fica mais fácil suportar o momento em que vivemos, pois a Quaresma leva à vitória em Cristo.
Meditando sobre o caminho de Jesus para a cruz, especialmente no Evangelho de João, me deparei com uma frase ainda atual: Então, Pilatos viu que não conseguia nada e que o povo estava começando a se revoltar: Aí, mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão e disse: Eu não sou responsável pela morte desse homem. Isso é com vocês (Jo 27.24).
Pilatos lavou as mãos, e não era tempo de Coronavírus, mas estava infectado por um vírus com poder letal maior, para o qual o confinamento não é solução: preservar o seu cargo. Não queria conflitos. Ao lavar as mãos, deixou de assumir a sua responsabilidade para se dar bem com o poder romano dominante, jogando a responsabilidade da morte de Jesus sobre as lideranças do seu povo.
No Brasil, há um conflito entre autoridades, políticos, órgãos de saúde, empresários e intelectuais. O que deve estar em primeiro lugar? A economia ou a saúde da população? As leitoras e os leitores do Jorev são pessoas sábias. Logo, saberão discernir, que é o dom do Espírito mais necessário nos dias de hoje.
Não são apenas algumas autoridades que estão lavando as mãos como Pilatos. Há muitos evangelistas midiáticos que se posicionaram contra as normas de saúde e disseram que os seus cultos estariam abertos. Quando viram que os seus públicos lhes deram as costas, voltaram a fazer prédicas triunfalistas: ‘Se você está com Deus, nada vai acontecer’, enquanto o Salmo 91, que nos exorta a confiar em Deus, é explicado de forma irresponsável, expondo os seus fiéis ao vírus.
Sobre estas pessoas que tentam a Deus com as suas prédicas, Lutero disse que Deus é inimigo do atrevimento seguro de si e incrédulo, que dele se esquece. Vamos guardar esta profunda expressão de Lutero nestes tempos de enormes cuidados: atrevimento seguro de si! Apesar das seguras orientações da nossa Igreja, que segue as regras das autoridades sanitárias, vemos alguns pregadores em nosso meio imitando os pregadores atrevidos, seguros de si. Saibam estes poucos que Deus é inimigo do atrevimento seguro de si.
O Coronavírus é ‘democrático’ e cego. Atinge as pessoas indistintamente, mas não é Deus. Pode infectar os infectados pelo atrevimento seguro de si, tornandoos inimigos de Deus, que nos cuida e pede para não nos expormos à tentação.
Lembremos das palavras do Profeta Jeremias 6.14: Eles tratam dos ferimentos de meu povo como se fosse uma coisa sem importância e dizem: ‘Vai tudo bem’, quando, na verdade, tudo vai mal.