Lutero - Reforma: 500 anos
O Reformador Martim Lutero estava frequentemente distante de casa. Durante essas viagens, escrevia cartas para Catarina, sua esposa, e para os seus filhos e as suas filhas. Entre os seus escritos, há uma belíssima carta enviada ao seu filho Hans, de quatro anos.
O que chama a atenção na carta é a forma pedagógica como Lutero descreve para Hans, uma criança, o Reino de Deus. Ele entra no mundo imaginário do filho e apresenta um jardim com frutas deliciosas, brinquedos, músicas e danças. Qual criança não gostaria de fazer parte daquele jardim? É algo que vem como um convite e não como uma imposição ou ameaça.
Em um tempo no qual a criança ainda era vista como uma pequena adulta, em que a infância não era considerada e as crianças eram educadas com castigos severos, a atitude de Lutero é certamente inovadora. Aliás, quando adentramos nos escritos do Reformador, vamos descobrindo muitas novidades para aquele contexto. Dentre elas, estava a sua defesa de escolas públicas para meninos e meninas, onde fosse possível estudar Línguas, Ciências e História de forma prazerosa e com alegria. Dois escritos seus registram claramente a sua posição sobre a educação escolar: Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs e Uma prédica para que se mandem os filhos à escola. Aos pais, Lutero pede que enviem as suas crianças à escola, reforçando que todas possam receber uma educação cristã formal, e às autoridades cabe a tarefa de criar e manter essas escolas. Ele afirmava: ‘Não há dano maior na cristandade do que negligenciar as crianças, porque, se nós queremos ajudar outra vez a cristandade, então você tem que começar de fato com as crianças, como aconteceu em tempos antigos’.
Lutero também desejava que todas as pessoas pudessem ler a Bíblia. Foi por isso que ele a traduziu para a Língua Alemã. Também escreveu o Catecismo Menor para crianças e o Catecismo Maior para as pessoas adultas.
As ideias luteranas relacionadas à educação das crianças foram fundamentais para a entrada de um novo tempo, pois contribuíram para um novo olhar sobre a criança como alguém com direito à educação e à cidadania, anunciando um novo pensamento pedagógico, com a ruptura em relação aos métodos medievais tradicionais, que consideravam o castigo em detrimento do prazer e da alegria no ato de aprender.
Para a IECLB, a educação cristã é componente essencial da sua missão. Uma Comunidade que batiza é também uma Comunidade que educa. É função dos pais, das mães, dos Padrinhos, das Madrinhas e da Comunidade o zelo pela educação cristã das suas crianças.
Bem mais tarde, imigrantes alemães trouxeram na sua bagagem para o Brasil a Bíblia, o Catecismo e a herança pedagógica luterana. Houve sempre uma preocupação e um cuidado com a formação das crianças, tanto no espaço do lar como também no espaço escolar.
Para a IECLB, a educação cristã é componente essencial da sua missão. Uma Comunidade que batiza é também uma Comunidade que educa. É função dos pais, das mães, dos Padrinhos, das Madrinhas e da Comunidade o zelo pela educação cristã das suas crianças. Batizar não signifi ca apenas tornar público o nascimento dos nossos filhos ou das nossas filhas. No Batismo, Deus acolhe a criança no seu colo e ela passa a fazer parte da grande família cristã. Esta marca de pertença pede um modo alternativo de viver a vida.
Diante disso, surge, muitas vezes, a pergunta: o que e como nós, pais, mães e Comunidade, podemos fazer para educar a criança na fé? A carta de Lutero ao seu filho Hans pode nos dar algumas luzes. Vejamos:
- Lutero entra no imaginário de Hans e aproxima os conteúdos da fé das coisas que o menino gosta e conhece, valorizando a sua bagagem de vida;
- Lutero respeita a faixa etária do seu filho e usa uma linguagem compreensível;
- na carta, transparece o caráter lúdico. Lutero menciona brincadeira, música, dança, coisas elementares para crianças;
- Lutero não impõe a oração e o estudo, mas os apresenta de forma carinhosa, incentivando o menino para que os cultive.
Assim como Lutero, também nós podemos exercitar algumas ações simples que podem auxiliar nesse processo, tanto em casa como na Comunidade.
• Ore com a criança. As crianças prestam muita atenção nos gestos das pessoas adultas. Elas percebem, por meio da voz e da postura do seu pai, da sua mãe, de Orientadores e Orientadoras que algo importante está acontecendo. Inicie com pequenas orações de agradecimento pela refeição, pelo dia, pelo descanso e pela saúde. À medida que a criança cresce, amplie os temas e peça pelas pessoas, pela natureza. |
• Faça, se possível, as refeições em família, sempre agradecendo pelos alimentos recebidos. Estimule para que a criança, vez ou outra, também possa conduzir a oração. |
• Conte histórias bíblicas. Há belos livros com histórias bíblicas adaptadas para a linguagem infantil. Na Igreja, há o espaço do Culto Infantil. Em casa, contar histórias à noite, antes de dormir, cria um clima de aconchego e afeto. Procure aproximar as histórias bíblicas da vida da criança. |
• Leve a criança, mesmo bebê, ao culto. Este é o contato com a Comunidade cristã. É o espaço onde diferentes gerações celebram a fé em Jesus Cristo. |
• Leve-a para participar de encontros promovidos pela Comunidade e ao Culto Infantil. |
• Envolva a criança nos preparativos das grandes festas cristãs (Natal, Páscoa). A preparação da árvore de Natal, a montagem do presépio, o uso pedagógico do Calendário de Advento, os cantos de Natal e Páscoa, a confecção de biscoitos ou bolachas natalinas, a pintura de cascas de ovos e a criação de cartões para serem oferecidos às pessoas queridas produzem momentos signifi cativos para a criança. Envolver os sentidos (visão, tato, gustação, audição e olfato) ajuda a guardar as boas vivências. |
• Participe de eventos para famílias oferecidos pela Comunidade. Ali é um espaço rico de troca de experiências e partilhas com outras famílias. |
• Caso seja Orientador ou Orientadora do Culto Infantil, participe de Seminários e Encontros de formação oferecidos pela sua Paróquia ou pelo seu Sínodo. |
• A diaconia, o serviço ao próximo, faz parte da essência cristã. Gestos de partilha e solidariedade devem ser sempre estimulados. |
• As dicas acima não são receitas prontas e terminadas. Cabe a cada família, a cada Comunidade e a cada liderança comunitária que trabalha com crianças descobrir a melhor forma de torná-las concretas na convivência diária. |
Cat. Maria Dirlane Witt , Coordenação de Educação Cristã, Secretaria de Formação, Secretaria Geral da IECLB, em Porto Alegre/RS