Lutero - Reforma: 500 anos
O que queres para a sua vida e para a vida dos seus filhos e das suas filhas?
Muitas vezes, nos perguntam isso e sempre respondemos que queremos ‘o melhor’. Na busca pelo que é melhor, procuramos caminhos que nos ajudem a progredir, alcançar felicidade e bem-estar. Isso inclui emprego bom, renda boa, moradia digna, saúde, fé, lazer e diversão.
Até aqui, não há problema nenhum, mas e quando o ‘melhor’ que buscamos nos faz optar por caminhos do mal e não do bem? Vemos isso com frequência, quando não se medem atitudes nem palavras, que ferem outras pessoas, para satisfazer interesses pessoais. Em busca da autopromoção, da fama e do sucesso, pessoas terminam derrubando os seus concorrentes com fraudes e tramas diabólicas.
Viver bem é o mais importante. Uma vida plena e abundante faz parte da promessa de Deus para todo o tempo e toda a gente. Neste contexto: Como é possível estar bem quando, à nossa volta, enxergamos miséria, destruição e injustiças provocadas pelo egoísmo de algumas pessoas? Como ser feliz diante da dor e do sofrimento de tantas pessoas que não conseguem alcançar condições mínimas para uma vida digna?
Em meio à busca pela vida tranquila e feliz, torna-se necessário distinguir com clareza o que é prioritário para a vida. Cabe-nos avaliar, à luz do Evangelho, do que realmente necessitamos para viver bem e com dignidade. Pensando nisto, a IECLB propôs para 2016 o Tema Pela graça de Deus, livres para cuidar e o Lema bíblico Buscai o bem e não o mal (Am 5.14a). Somos, assim, chamadas e chamados a refletir sobre a ética e a vivência da fé.
O Tema traz à tona a reflexão sobre o uso da liberdade, palavra de grande impacto em nossos dias. Somos livres, mas para quê? Pela graça de Deus, somos livres para cuidar. A graça, que manifesta o amor de Deus, nos impulsiona ao exercício da liberdade comprometida com a vida, recheada de compromisso ético e moral.
Desde a época do profeta Amós (760 AC) até os dias de hoje, as pessoas anseiam e buscam por uma vida melhor. Atrelado a essa busca tem caminhado o desenvolvimento econômico e tecnológico, o qual, lamentavelmente, ainda não foi capaz de produzir uma sociedade mais justa, segura e digna para todas as pessoas. Por esse motivo, a voz profética, que denuncia os acordos fraudulentos, que enriquecem e beneficiam poucas pessoas à custa do sofrimento de outras, não pode calar.
Viver bem é o mais importante. Uma vida plena e abundante faz parte da promessa de Deus para todo o tempo e toda a gente. Neste contexto: Como é possível estar bem quando, à nossa volta, enxergamos miséria, destruição e injustiças provocadas pelo egoísmo de algumas pessoas? Como ser feliz diante da dor e do sofrimento de tantas pessoas que não conseguem alcançar condições mínimas para uma vida digna?
A liberdade que Deus dá consiste em ações coerentes com os princípios éticos da fé cristã. Estes são resumidos no duplo Mandamento do amor: amar a Deus acima de todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo (Mt 22.37-39). Esse amor, segundo o apóstolo Paulo, não maltrata, não procura os seus interesses, não se alegra com a injustiça, mas com a verdade (1Co 13.5-6).
A liberdade dada por Deus amplia o nosso olhar de cuidado para além de interesses pessoais, em vista do cuidado e do benquerer de todas as pessoas e da Criação. Lógico, não podemos ser negligentes na providência de bens materiais, necessários para a nossa vida e subsistência. É preciso trabalhar, economizar, planejar. O Evangelho não nos proíbe nada. No entanto, ele nos motiva a cuidar para que essa liberdade não nos torne escravos e escravas de nada nem de ninguém, tampouco nos leve a fazer coisas que não edificam.
Deus, pela sua graça, nos dá a oportunidade de escolher amar, obedecer e ficar perto dele. Quando erramos, reflexão, arrependimento e perdão são, por vezes, necessários para iniciar uma mudança. O Evangelho vem ao nosso encontro para orientar as nossas decisões e nos ajudar a fazer escolhas que promovam a vida, a justiça e a paz.
Nessa busca por uma vida mais digna e justa, o nosso compromisso é com aquele que nos chamou para exercer a liberdade na preservação de toda e qualquer forma de vida ao nosso redor.
Essa vida que foi posta ao nosso redor, foi criada e pensada com muito cuidado. Lemos em Gênesis sobre a boa obra da Criação de Deus: E viu Deus que isso era bom!
Deus olha a obra das suas mãos, em vários pontos do processo da Criação, e declara que o que Ele criou é bom. Ao fim dos seis dias da Criação do mundo, o livro de Gênesis constata: Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom (Gn 1.31a). Quem constata isso é Deus. Não somos nós!
Quando Deus separou a porção seca das águas, Deus viu que era bom (Gn 1.10). Quando a terra produziu ervas e arvores frutíferas, Deus viu que era bom (Gn 1.12). Quando foi feita a separação entre luz e trevas, viu Deus que era bom (1.18). Quando os animais marinhos e os que voam foram criados, viu Deus que era bom (Gn 1.21). Quando os animais terrestres foram criados, viu Deus que era bom (Gn 1.25). Quando finalmente criou homem e mulher e contemplou toda a Criação, viu Deus que era muito bom (Gn 1.31).
A Escritura Sagrada nos ensina que a Criação de Deus é boa, pois ela foi feita e esculpida pelo perfeito Criador. A Criação é um grande reflexo da magnitude e sabedoria de Deus. A razão para lermos sobre a constante afirmação que Deus viu ser bom o que fazia demonstra que Ele se preocupou e se ocupou em toda a sua Criação, vendo nela as características do seu perfeito querer.
Veio, todavia, o pecado e este manchou a Criação de Deus - homens e mulheres, agora, carregam a semente da corrupção e a natureza geme em dores de parto, aguardando a redenção (Rm 8.22), mas isso não significa que as coisas deixaram de ter a sua beleza, mas, sim, que, por causa do desvio da humanidade diante de Deus, ela tem dificuldade para enxergar a verdadeira beleza; seu senso de ‘belo’ e ‘feio’ foi terrivelmente pervertido, pois, ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 3.6), o ser humano percebeu que, conquanto fosse perfeito, a sua perfeição não era tal como a de Deus, a ponto de que ele pudesse lidar com o mal sem com ele se enredar. Quis ser como Deus e incorreu na condenação.
Martim Lutero, no estudo de Gênesis 1, observa: ‘Muitas coisas que, quando vistas por Deus, são muito boas, quando vistas por nós, são péssimas. Assim, as aflições, os males, os erros, o inferno e até todas as melhores obras de Deus são péssimas e condenáveis perante o mundo. Que é melhor que Cristo e o Evangelho? E que é mais execrado pelo mundo? Por conseguinte, só Deus e aqueles que veem com os olhos de Deus – isto é, os que possuem o Espírito – sabem de que maneira é bom diante de Deus aquilo que para nós é mau’.
Deus, pela sua graça, nos dá a oportunidade de escolher amar, obedecer e ficar perto dele. Quando erramos, reflexão, arrependimento e perdão são, por vezes, necessários para iniciar uma mudança. O Evangelho vem ao nosso encontro para orientar as nossas decisões e nos ajudar a fazer escolhas que promovam a vida, a justiça e a paz.
Quando Deus criou o mundo e tudo o que nele existe, Ele o fez ‘com as melhores das intenções’. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Em termos bem simples, ter a ‘imagem’ e a ‘semelhança’ de Deus significa que fomos feitos para parecermos com Deus
O bem que eu quero fazer esse não faço... O Apostolo Paulo faz uma constatação que nos incomoda. Ele diz: Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim (Rom 7.19-21).
Você já faltou ao trabalho e se desculpou com seu chefe e colegas dizendo que estava chovendo? Se pudéssemos, gostaríamos de ficar dormindo e não ir trabalhar, ficar uma semana por mês viajando pelo mundo sem nos preocuparmos com o trabalho. Quem nunca deu ouvidos à razão quando queria ter dado créditos ao coração ou vice-versa?
Uma canção bem popular é Conflito, gravada por Raimundo Fagner: Ah, meu coração que não entende o compasso do meu pensamento e o pensamento se protege e o coração se entrega inteiro sem razão. Se o pensamento foge dela; o coração a busca aflito…
Fazer o bem - De que maneira cada pessoa, filho e filha de Deus, irá direcionar o bem em prol da vida, dependerá das circunstâncias e do ambiente no qual vive. Cada qual irá perceber os desafios aos quais poderá responder.
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus (Mt 7.21). Jesus deseja que orientemos a nossa vida pela Palavra de Deus e que a realizemos na prática – nem mais nem menos do que isso. Uma fé viva tem a capacidade de moldar o nosso estilo de vida e transformar o nosso cotidiano.
Madre Teresa disse: ‘Não importa o quanto você faz, mas o quanto de amor você coloca no que faz’. Deus transforma o mal em bem quando faz com que milhares de pessoas se arrependam e reflitam sobre a sua vida. Quando faz perceber que a guerra produz mais guerra. O ódio produz mais ódio. A intolerância produz mais intolerância.
É verdade que nem todos percebem isso. Talvez, poucos. Isso nos mostra que a obra de Deus não terminou. As pessoas vão fazer muito mal ainda. Muito ódio vai ser mostrado ainda. Deus continuará mudando o mal em bem. Quando, então, o maior mal nos atingir, a própria morte, Deus mudará o nosso corpo mortal em corpo imortal. Esta será uma mudança que permanecerá para sempre e ninguém mais vai mudar isso.
Enquanto isso, Amós convida: Buscai-me e vivei, buscai o bem, e não o mal, para viver em meu amor: assim diz o Senhor (HPD 199).
Pa. Ma.Tânia Cristina Weimer, Pastora Sinodal do Sínodo Nordeste Gaúcho