Jornal Evangélico Luterano

Ano 2019 | número 826

Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Porto Alegre / RS - 18:17

Unidade

Série Especial - Deixo com vocês a minha paz

No Evangelho de João, há, por fim, uma terceira coirmã da paz. Trata-se do amor: Permaneçam no meu amor... O que eu lhes ordeno é isto: que vocês amem uns aos outros (Jo 15.9-17). O amor de Cristo é essencial para o estabelecimento da paz por uma razão muito simples: ele é universal. Cristo o deu para todas as pessoas, independentemente de classe ou condição social, política e religiosa. Ele assim o fez por entender que todas as criaturas, indistintamente, eram filhas queridas do Pai do céu. Se permanecermos e defendermos este amor universal de Cristo, promovemos a paz: Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5.9). Nesse caso, defenderemos políticas públicas, governos e projetos voltados para o bem comum e não, como costuma ser, para minorias privilegiadas. Uma paz que procure pelo bem comum estará sintonizada com a verdadeira paz de Deus que Jesus veio trazer. Deus não quer o bem de poucas pessoas, mas de todas.

No tempo em que vivemos, as relações em todos os âmbitos (inclusive na família) estão determinadas pela polarização. A tendência é optar por um dos polos como sendo a única verdade. Exclui-se a possibilidade de convivência na diversidade. Desconhece-se ou ignora-se a complexidade dos fatos. É uma polarização odiosa que atrapalha e até impede o nosso desempenho na Missão de Deus. Quanta energia se gasta por causa do ódio nosso de cada dia!

Em meio a essa realidade, a Teologia evangélico-luterana nos diz que, por causa do pecado, as Ordens da Criação e todas as pessoas estão sob a marca da imperfeição. Justificadas por graça por meio da fé, permanecemos sob o pecado. Somos pessoas, simultaneamente, justas e pecadoras (simul iustus et peccator). Vivemos em meio a essa ambiguidade. Daí que nunca uma suposta verdade estará plenamente deste lado ou do outro. Ter clareza dessa condição certamente nos ajuda a compreender as dificuldades e os desafi os para promover a paz. Se as três Ordens existem para o louvor a Deus e para a promoção e organização da vida, então o caminho não está na polarização que divide, mas na busca conjunta para a convivência em favor da paz. Com essa busca, a IECLB está comprometida ao insistir, por exemplo, no tema da justiça de gênero.

Abandonar o ódio para, conjuntamente, promover a paz no mundo ainda tem outra motivação: se, em comum, temos a condição de pessoas pecadoras, carregamos também, em comum, a marca do Batismo. Congregamos na Igreja. Integramos o mesmo corpo. Em Cristo, somos um só corpo (1Co 10.17). Reafi rmar este princípio evitará que nos percamos em meio a conflitos, confrontos e contradições. O Tema e o Lema do Ano nos motivam a agir em regime de colaboração na construção de pontes de aproximação para o melhoramento do mundo.

O amor de Cristo é essencial para o estabelecimento da paz, pois ele é universal. Cristo o deu para todas as pessoas por entender que todas as criaturas, indistintamente de classe ou condição social, política e religiosa, eram filhas queridas do Pai.

Diante das forças, na sociedade e também na IECLB, que dificultam e até impedem que nos reconheçamos como irmãos e irmãs, somos porta-vozes do Evangelho, a alegre notícia. Dali provém o anúncio da paz como antítese à onda do ódio, por isso um dos objetivos do Tema é justamente apontar formas de baixar essa onda, sinalizando o que já se faz em favor da paz. A paz que Jesus deixou entre nós é motivo para que nos perguntemos de modo bem franco e direto, tanto Ministros e Ministras, quanto membros e a sociedade em geral: As minhas palavras e a Palavra que eu anuncio contribuem no quê? No que contribuem as nossas ações? Ajudam a sair do círculo dramático no qual se cultiva o ódio nosso de cada dia? A Palavra de Deus é a fonte inspiradora e orientadora para que nossas palavras fomentem a paz, sem mascarar a realidade.

Ao promover a paz (que beija a justiça, a verdade e a não violência) e romper a escalada do ódio e da polarização, nos defrontamos com a via do diálogo, da mediação e da reconciliação. A persistência sincera nisso não pode, obviamente, acobertar injustiça, inverdade, violência. Diálogo em vista da reconciliação requer compromisso com a identificação e a superação de barreiras e fossos que impedem o florescimento da paz. De igual modo, diálogo, mediação e reconciliação, inspirados no Evangelho, contribuirão para identificar balizas e limites para a boa convivência. O diálogo não pressupõe concordância e aceitação de tudo. Não podemos concordar, por exemplo, com discursos racistas ou que pregam o extermínio de quem é diferente.

A Igreja contribui (e pode contribuir ainda mais) na promoção da paz por meio do diálogo, da mediação e da reconciliação. As Comunidades da IECLB oferecem um sem-número de ocasiões para reunir os membros do corpo de Cristo para analisar e interpretar o que se passa no contexto em que vivem, iluminando esse contexto com a luz do Evangelho. Exatamente diante dos fossos que nos distanciam é que insistimos no diálogo com vistas à construção de pontes como exercício do amor e da cidadania.

Importa reaprender a ouvir e evitar impor a ‘minha verdade’. Haja mais diálogo e menos ofensas! Não se trata de aproximar pessoas para que pensem da mesma forma, mas de identificar iniciativas, a partir das quais seja possível caminhar na mesma direção, vislumbrando a paz que Cristo deixou entre nós. Opiniões e posicionamentos divergentes precisam ser ouvidos. O foco deve estar nas causas e não nas pessoas com as suas posições. Esta prática é parte do DNA da IECLB! Não temos na IECLB uma instância que dita a verdade. Orientamo-nos e nos inspiramos no Cristo que é a Verdade. Somos Igreja a caminho. Construímos o entendimento a caminho. Somos Igreja sinodal! Nisso precisamos insistir e apostar mais e mais.

A vontade de Deus se traduz na sua decisão de criar, preservar (vida digna) e salvar. Nessa decisão está expresso o amor de Deus e a própria força do amor que dele emana. Tudo passa. O amor fica. É esse amor que quer a paz. Paz é o alvo. Amor é o meio.

Igreja, Economia e Política são corresponsáveis pelo cuidado ou pela depredação da Criação de Deus. Consideremos, por exemplo, o que representam em nosso país a poluição decorrente do gás carbônico, do uso indiscriminado do plástico e dos agrotóxicos. A IECLB não tem a força de um Governo, mas, como Igreja, contribuímos (e interferimos) com iniciativas de gestão ambiental responsável e de preservação da Boa Criação de Deus (Gn 2.1-3). O Programa Ambiental Galo Verde é um exemplo. Ele promove gestão ambiental em Comunidades e instituições, ajudando a reduzir a pegada ecológica. As Comunidades e instituições que o adotam elaboram um programa para reduzir o consumo de água e energia elétrica, para destinação correta dos resíduos de suas atividades, como festas e encontros, e colocam o cuidado com a Criação como uma das suas prioridades. O objetivo é ir além do discurso e vivenciar a responsabilidade ambiental. O Galo Verde tem como lema: A Criação é de Deus. A responsabilidade é nossa! Ao implantar um programa de gestão ambiental, a Igreja demonstra que a fé é vivida com responsabilidade.

Políticas e modelos econômicos são determinantes para que a paz vingue ou mingue. Também são necessárias ações de empreendedorismo que reconheçam a função social das empresas na geração de postos de trabalho dignos, na distribuição da renda e na preservação ambiental. Há, a partir de Comunidades da IECLB e em parceria ecumênica, iniciativas de empreendedorismo que se perguntam pelo papel da empresa na sociedade e pelo desenvolvimento econômico como fator para a promoção da justiça. Tais iniciativas, que surgem a partir da escuta do Evangelho, merecem pleno apoio.

Para regar a semente da paz semeada por Jesus, a IECLB apoia, há quatro décadas, iniciativas no âmbito da agroecologia por meio do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa). Nos últimos anos, o Capa desenvolveu o projeto Comida boa na mesa, que promove reflexão sobre o acesso à alimentação saudável, o papel da agricultura familiar, das feiras, das cooperativas e das organizações de apoio. Em 2018, na celebração dos 40 anos de história e testemunho do Capa, fez-se este registro: ‘Como sinal de esperança, anunciamos a Agroecologia como projeto de sociedade transformadora de vidas, que viabiliza relações sociais justas, harmonia com a natureza e oferta de alimentos saudáveis para todos os seres’.

O cuidado com a vida humana (diante de doença, desemprego, criança em situação vulnerável, pessoa idosa abandonada) deixa muito a desejar por parte do Estado brasileiro. Diante desse quadro, a IECLB não se omite. Ao nos aproximarmos da celebração do jubileu de 200 anos de história da IECLB (1824-2024), podemos olhar com alegria e gratidão para as iniciativas das Comunidades da IECLB no âmbito da Diaconia. Há muitos projetos de cuidado de pessoas onde a vida dói, não importando se o abraço alcança membros ou pessoas que nem integram a IECLB. Temos consciência que as ações diaconais da Igreja não são suficientes para suprir a omissão do Estado, mas temos a alegre convicção que as nossas ações diaconais demonstram que, da solidariedade no sofrimento humano, brota a paz semeada por Jesus.

A vontade de Deus se traduz na sua decisão de criar, preservar (vida digna) e salvar. Nessa decisão está expresso o amor de Deus e a própria força do amor que dele emana. Tudo passa. O amor fica. É esse amor que quer a paz. Paz é o alvo. Amor é o meio. Igreja - Economia - Política. Diante das ordens criadas pelo Pai, o Filho afiançou: Deixo com vocês a paz, a minha paz lhes dou (Jo 14.27a).

Presidência da IECLB (Texto Motivador - parte 2/2)

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