Jornal Evangélico Luterano

Ano 2019 | número 830

Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Porto Alegre / RS - 02:29

Unidade

Deixo com vocês a minha paz

Assinale (V) para Verdadeiro e (F) para Falso

Certa vez, ouvi uma filha afirmando que a sua mãe sempre sabia a verdade e não adiantava tentar esconder-lhe algo, omitir ou dizerlhe uma mentira tentando encobrir a desobediência a alguma recomendação da mãe!

Verdade é palavra desgastada. Para esclarecer a verdade dos fatos, gastam-se horas em processos morosos. Cada pessoa apresenta o seu ponto de vista como verdadeiro, a partir das suas concepções e crenças.

No Antigo Testamento, a busca pela verdade exigia o testemunho de duas pessoas. Hoje, são usadas imagens de câmaras de segurança, espalhadas nas ruas, nos locais de trabalho e mesmo nas residências. As filmagens com aparelhos celulares se espalham em Redes Sociais e apresentam fatos como verdadeiros. Sem cuidados nem critérios, expõem ao conhecimento público pessoas e situações

Em processos nos tribunais, contudo, poucas pessoas testemunham algo que presenciaram, pois não querem se comprometer no esclarecimento das questões debatidas. Há quem se comprometa a dizer a verdade em troca de favorecimentos futuros. Por outro lado, quando alguém afirma que vai dizer ‘umas verdades’, isso normalmente é sentido como um ataque e podemos nos preparar para tudo. Normalmente, é uma fala carregada de raiva, rancor, mágoa e, em algumas situações, desejo de vingança.

Jesus ensina-nos que a verdade liberta (Jo 8.32). As pessoas que creem em Cristo têm em seu Senhor a verdade. Jesus, em seu autotestemunho, apresenta-se como sendo a verdade (Jo 14.6) e o seu testemunho é verdadeiro (Jo 8.14), porque tem a sua fonte em Deus.

Diante de Deus, somos quem somos. Nada lhe fica escondido ou oculto – nem mesmo os pensamentos. Somos pessoas pecadoras e amadas por Deus. Na linguagem da criança, é a mãe que ama, tudo sabe e não há modos de esconder-lhe algo! Estamos desnudos e desnudas diante de Deus e a graça é que não precisamos nos esconder – a graça e a verdade vieram por meio de Cristo – ele é o amor fiel e leal de Deus (Jo 1. 17).

O governador Pilatos, quando teve Jesus diante de si para realizar o seu julgamento, interrogou-o e, por fim, perguntou ‘O que é a verdade?’. O que é a verdade para mim e para você? O que é a verdade para quem crê no Deus verdadeiro? A graça e a verdade vieram por meio de Cristo. Ao crermos em Cristo, ao nos confiarmos a Deus e ouvirmos a sua Palavra, somos verdadeiramente seus e suas. A mentira não nos pertence. É certo que isso tem consequências em nosso viver diário, em nosso viver neste mundo.

Que verdade é essa sobre a qual Jesus nos fala? Na oposição à verdade está a mentira. O diabo é o pai da mentira (Jo 8.44). Mentiras causam confusão e não são chão firme para viver.

Para conhecermos a verdade, é preciso permanecer na Palavra de Deus, pois ela diz a verdade. É consolador sabermos que Jesus é a verdade, nele podemos confi ar – ele diz a verdade a nós, o que inclui não esconder o pecado, mas denunciá-lo e chamar ao arrependimento e àmudança da mente e das ações.

A verdade descrita na Bíblia orienta-nos em todas as situações da vida, levando-nos pelo melhor caminho: caminhos de justiça e paz, caminhos de amor e perdão. Se sabemos a verdade, temos a oportunidade de viver conscientes das nossas limitações, imperfeições e falhas. Quando percebemos essa realidade, vivemos, então, ancorados, ancoradas, seguros e seguras pela graça de Deus.

Há um exercício aplicado em provas escolares que pergunta ao estudante se a afi rmação é verdadeira ou falsa. Hoje, estamos precisando de discernimento para buscar saber se as notícias que ouvimos são verdadeiras ou falsas. Temos um Mandamento, o oitavo, que nos orienta a não falarmos mentiras. Tudo a ver com verdadeiras e falsas notícias... Certo é que vivemos dias nos quais não buscamos mais saber sobre o que é verdade e o que é boato, falso, portanto mentira.

Quando foi trazida até Jesus a mulher para ser condenada ao apedrejamento por conta de suas ações (Jo 8.1-11), o Mestre, que estava no templo, assentado e ensinando, vai escrever com o dedo na terra. Jesus permanece assim diante da pergunta insistente daqueles que queriam condenação sumária e aplicação da pena. Em sua fala sobre a situação ali trazida, chama todas as pessoas a refletirem sobre a verdade das suas próprias ações. Temos aqui um recurso pedagógico importante quanto a emitir juízos apressados. Escrever com o dedo na terra é mais útil que escrever e divulgar fatos sem investigar se são verdadeiros ou falsos, se conduzem à prática da justiça, da paz e do amor ao próximo.

Há verdades dolorosas! Nós nos decepcionamos com pessoas, nos damos conta da nossa falibilidade e a consciência disso, em um primeiro momento, nos deixa sem chão, desorientados e desorientadas. Uma situação que causa especial angústia é saber a verdade quando ficamos doentes: conhecer o diagnóstico e o que irá nos acontecer.

Familiares de pessoas doentes se debatem com esta pergunta. Profissionais da saúde precisam lidar diariamente com a pergunta. A Médica Ana Claudia Quintana Arantes, especialista em cuidados paliativos, considera que a verdade sobre a doença não mata. Quem mata é a própria doença. Saber a verdade, por mais dolorosa que seja, leva-nos a refletir sobre a finitude da vida e como vivê-la

Liberdade para viver a vida responsavelmente é assumir as consequências das nossas decisões, das nossas falas, das nossas ações e, até mesmo, dos nossos pensamentos e o melhor critério é o amor a Deus e ao próximo.

Liberdade! Abre as asas sobre nós!

Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós! Esse refrão de um samba conhecido em nosso país, que emprestou trechos do Hino da Proclamação da República, em homenagem ao Centenário do regime brasileiro (1989), é um clamor por liberdade. As asas da liberdade estão sobre nós: Jesus libertou-nos da prisão do pecado. A sua morte é por nós, é libertação do que nos escraviza.

Se vocês permanecerem na minha palavra, são verdadeiramente meus discípulos, conhecerão a verdade e a verdade os libertará (Jo 8.32), diz-nos Jesus. A palavra que Jesus fala é palavra libertadora. Jesus explica que somos escravos, pois quem pratica o mal é escravo do pecado e nós, sempre de novo, sucumbimos e caímos em tentação. Jesus liberta-nos.

O exemplo de liberdade, por excelência, na Bíblia, é a libertação do povo escravizado no Egito para a terra prometida, a terra da liberdade e, consequentemente, a aliança de Deus com o seu povo amado. Deus libertou o povo da escravidão do Faraó e firma uma aliança com o povo liberto: Eu serei seu Deus (Ex 19.5-6). Agora, o povo é de Deus, não mais do Faraó. A liberdade, então, significa ser liberto, por Deus, das prisões do mundo e ter um único Senhor – o Deus libertador.

As questões agora são: Vivemos de forma comprometida com a condição de pessoas libertadas. O que é viver de maneira responsável a liberdade, uma vez que foi para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5.1)?

Quando era criança, pensava ingenuamente que liberdade era fazer o que eu tivesse vontade, ter todos os meus desejos atendidos, poder fazer o que quisesse! Essa liberdade para a qual Cristo nos libertou é muito mais que essa ideia infantil! O Apóstolo Paulo nos ajuda a entendê-la, afirmando que a liberdade é sermos servos uns dos outros, pelo amor (Gl 5.13). Liberdade para viver a vida responsavelmente é assumir as consequências das nossas decisões, das nossas falas, das nossas ações e, até mesmo, dos nossos pensamentos e o melhor critério é o amor a Deus e o amor ao próximo.

Nós não precisamos nos deixar levar pelos modismos, pela prática de injustiças e mentiras. Nós não precisamos viver deste modo, porque cremos em Jesus e somos dele. A vontade de Deus é que vivamos em liberdade, verdade e paz!

Vale a pena dizer a verdade?

É certo que precisamos de critérios claros para buscarmos a verdade. Sabemos que a verdade é libertadora, embora a verdade nos faça reconhecer as nossas falhas e as nossas limitações. Somente assim conseguimos entender a razão dos acontecimentos e dos comportamentos.

Se vale a pena viver no mundo lindo feito por Deus (LCI 559), vale a pena dizer a verdade, pois ela liberta! Não precisamos ir muito longe para perceber que mentiras são espalhadas entre nós. Elas prejudicam e muito os relacionamentos que temos. Mentiras geram desconfiança, insegurança, rompem relações. Por mais doloroso que seja saber a verdade, é só a partir dela que podemos nos deixar transformar e transformarmo-nos pela renovação da mente (Rm 12. 2).

Refl ita: você prefere saber e entender as suas limitações e ter a opção de buscar ajuda ou que seja omitida a razão de você não ter sido a pessoa escolhida para realizar esta ou aquela tarefa? É sempre melhor sabermos a verdade, para nos corrigirmos e nos aperfeiçoarmos, em vez de viver em um mundo fantasioso, no qual sempre as outras pessoas são culpadas e eu me isento da minha responsabilidade.

Reflita mais: ao procurar os recursos da Medicina quando está doente, pois quer saber a causa do seu mal-estar e buscar a cura, você prefere saber o que se passa ou que lhe seja escondido o que está acontecendo? É doloroso saber que algo vai mal conosco, mas, ainda assim, a verdade permite-nos viver bem os dias com os quais Deus nos presenteia.

Há outras tantas situações em que a falta da verdade está presente... Os meios de comunicação social andam cheios de mentiras (ou inverdades).São as conhecidas fake news, supostas notícias, mas, na verdade, informações falsas que são espalhadas como se fossem verdades. As pessoas leem, não buscam saber se as informações são verdadeiras e saem a espalhar as fake news.

Neste mundo de tantas mentiras, dizer a verdade é uma arte. Por que dizer a verdade? Porque somos de Deus e Ele é a verdade! Como dizer a verdade? Lembremos de Jesus escrevendo na terra com o dedo. A sua resposta aos que trouxeram a mulher até ele e o questionamento que lhe fizeram nos ajudam a saber que não precisamos esconder a verdade, mas dizê-la amorosamente! Nem à mulher nem aos seus acusadores foi omitida a verdade. Ao contrário, a verdade os libertou do desejo de aplicação da pena sumária ao chamar todos à sua responsabilidade.

Nós não precisamos nos deixar levar pelos modismos, pela prática de injustiças e mentiras. Nós não precisamos viver deste modo, porque cremos em Jesus e somos dele. A vontade de Deus é que vivamos em liberdade, verdade e paz! 

Pa. Vera Lucia Engelhardt
Pastora Sinodal do Sínodo da Amazônia

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