Jornal Evangélico Luterano

Ano 2019 | número 832

Sexta-feira, 29 de Março de 2024

Porto Alegre / RS - 02:42

Unidade

Deixo com vocês a minha paz (Convivência em favor da paz)

Portanto, vão a todos os povos do mundo e façam que sejam meus seguidores, batizando esses seguidores em nome do Pai, do Filho  e do Espírito Santo Mateus 28.19-20

A IECLB tem uma estrutura nacional, constituída por 18 Sínodos, do norte ao sul do país, e está presente em quase todos os Estados brasileiros. Cada um dos Sínodos apresenta uma realidade específica, conforme a região em que atua e conforme a história que ajudou a construir. Vamos ter Sínodos que ocupam pequenas regiões de um Estado e Sínodos que atuam em mais de um Estado da Federação, por isso somos uma Igreja formada por diferentes contextos sociais, por diversas culturas, sotaques, cores e histórias. Somos uma Igreja que vem aprendendo a viver e a conviver com a diversidade, mas também uma Igreja de abrangência nacional, que, na diversidade que a marca, não perdeu a sua identidade. Parafraseando as palavras do apóstolo Paulo assim também nós, embora muitos, somos um só Corpo em Cristo e cada membro está ligado a todos os outros (Rm 12.5).

Ora, viver respeitosamente a diversidade em uma Igreja de abrangência nacional é motivo de alegria e louvor ao Senhor, mas o desafio que Deus nos coloca, especialmente quando somos instigados e instigadas pelo Tema e Lema da Igreja nesse ano, é ainda mais desafiador: conviver (na diversidade e em unidade) buscando e promovendo a paz! Que desafio para os dias de hoje, quando consideramos o contexto de conflitos que vivemos – nas famílias, nas Comunidades e na sociedade –, provocadas, entre outras questões, pelas ideologias políticas.

Somos uma Igreja que vem aprendendo a viver e a conviver respeitosamente com a diversidade, mas também uma Igreja de abrangência nacional, que, na diversidade que a marca, não perdeu a sua identidade, motivo de alegria e louvor.

Relações que antes eram marcadas pelo respeito e por uma história comum, são destruídas por compreensões de mundo diferentes. Esse fenômeno sempre mais evidente, de estilhaçamento da fraternidade, já relatado nos testemunhos bíblicos, na história de Caim e Abel, por exemplo, emerge vigoroso, a ponto de a IECLB trazer, entre as refl exões para 2019, um questionamento do nosso testemunho enquanto pessoas cristãs! Na minha convivência, estou promovendo paz?

Nesse contexto de rompimento dos elos fraternos e de esfriamento do amor, é oportuno destacar alguns pontos que marcam a natureza da vida cristã. É assim que somos lembrados e lembradas de uma vocação especial, de uma vocação que, no decorrer da história, nos manteve unidos e unidas mesmo nas adversidades: que seguimos um mesmo e único Senhor (1Co 12). Falemos sobre essa vocação a partir de alguns pontos que a tradição luterana nos deixou por herança, pontos comuns a todos os membros da IECLB e que marcam a nossa identidade. Elas são como balizas que nos conduzem a Cristo. São como dedos apontando para o Senhor.

Carregamos a marca do pecado

O pecado nos afasta de Deus, que é a fonte da paz. O pecado rompe os laços de irmandade entre os seres humanos e nos faz ver a outra pessoa como ameaça para a nossa existência. O pecado nos aliena de quem somos em Deus, lançando-nos para dentro de nós mesmos, para uma vida de autojustifi cação por obras. Separados de Deus, de nós mesmos e das outras pessoas, perdemos a capacidade de produzir sinais de paz (Sm 11 e Sl 51). Neste sentido, o apóstolo Paulo afirma, em um poético e profundo texto da carta de Romanos, quando trata da natureza carnal e espiritual do ser humano, que somos prisioneiros do pecado que habita em nós e, por isso, nós não fazemos o bem que preferimos fazer, mas, o mal que não queremos fazer, esse nós fazemos (Rm 7.14-25).

Lutero exemplificou isso com o seu testemunho de vida. Ele procurou incansavelmente a face de um Deus justo. Sofreu a angústia de não conseguir cumprir a Lei e de não agradar a Deus a partir dos seus esforços, não havendo outra possibilidade senão a condenação, e concluiu: a nossa condição humana é incapaz de satisfazer a vontade de Deus, por isso nos é libertador o resgate de um princípio fundamental da graça: a pessoa justa viverá pela fé (Rm 1.17). A partir da graça, não há mais distinção entre as pessoas e todas estão na mesma situação diante de Deus, carentes da sua misericórdia: porque, pela graça, sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, mas é dom de Deus, não de obras, para que ninguém se glorie (Ef 2.8-9).

Carregamos a marca do Batismo

Martim Lutero, no Catecismo Menor, diz que o Batismo, como água unida à Palavra de Deus e a fé que confia nesta Palavra, realiza o perdão dos pecados, livra da morte e do diabo e dá a salvação eterna a todas as pessoas que creem nas promessas de Deus (Mc 16). Que, por esta água cheia de graça, somos nascidos pelo Espírito Santo, um novo nascimento e uma nova vida, quando Deus, na sua misericórdia, derrama o Espírito em nós, por meio de Jesus, vocacionando a pessoa para ser luz nesse mundo (Tt 3).

A vivência do Batismo faz a ponte, é o elo que reconcilia o ser humano com Deus, que nos liberta de nós mesmos e nos leva em direção a outras pessoas. O Batismo traz consigo a promessa na qual confi amos: Deus se faz conosco, sempre

Isso significa que, por arrependimento diário, a velha pessoa em nós, aquela que está alienada de Deus, das outras pessoas e de si mesmo, marcada pelo pecado, é afogada e morre com todos os pecados e maus desejos. Por sua vez, ela ressurge nova pessoa, ressuscitada, para viver em justiça, reconciliada com Deus, com as outras pessoas e consigo mesmo. Essa é a dinâmica cristã, do Batismo, dinâmica contínua, de todos os dias, da simultaneidade do pecador e do justificado, do perdido e do salvo, daquele que sabe da sua natureza agressiva e daquele que compreende e produz a paz. Simultaneidade que encontra nas palavras de Paulo a sua referência: assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Portanto, a vivência do Batismo é criação, salvação e santificação da nossa vida por Deus, conforme confessamos no Credo Apostólico.

A vivência do Batismo traz consequências para a vida. Ela reúne pessoas  que confessam o Trino Deus e a essa reunião damos o nome de Igreja, Comunhão dos Santos, Corpo vivo de Cristo no mundo. Neste sentido, a IECLB compreende que todas as pessoas batizadas integram o Sacerdócio Geral das pessoas que creem: na diversidade dos nossos dons, nos colocamos a serviço da unidade e do fortalecimento do Corpo. Percebemos isso, entre tantos exemplos que poderiam ser citados, no fato de existir grandes Comunidades que contribuem para o fortalecimento das pequenas. O mesmo acontece em nível sinodal, naqueles Sínodos com mais recursos financeiros e que se comprometem solidariamente com os Sínodos que atuam na diáspora.

Na nossa Igreja, há incentivo para formação cristã contínua e há formação específica para pessoas que se dedicam ao Ministério com Ordenação. Há espaço para que as pessoas sirvam e, assim, vivam o seu Batismo no dia a dia. Além disso, a IECLB é Igreja ecumênica. Ela não pretende ser melhor que as outras Igrejas, mas se dispõe ao diálogo e respeita a diversidade de formas de se relacionar com Deus, sem perder a responsabilidade de não se desviar do Evangelho de Jesus Cristo.Todos esses exemplos são sinais de uma Igreja que se entende como Corpo que vive a marca do Batismo, conforme aprendemos na carta à Comunidade de Corinto (1Co 10).

A vivência do Batismo ainda traz outras consequências. Ela nos compromete, por exemplo, a não dar somente testemunho verbal da fé – a carregar um titulo ou fazer parte de uma tradição apenas –, mas, principalmente, a vivermos de tal modo que a nossa vida seja um testemunho vivo da nossa filiação a Deus. A vivência do Batismo nos vocaciona a sermos presença de Deus no mundo. Isto signifi ca que nos tornamos sal e luz, construtores e construtoras de esperança e de paz em um mundo que se divide, promotores e promotoras da reconciliação em contexto de rivalidades. Ora, a sociedade precisa da nossa tolerância e do nosso cuidado, sob pena dela continuar se dividindo. A vivência diária do Batismo faz a ponte, é o elo que reconcilia o ser humano com Deus, que nos liberta de nós mesmos e nos leva em direção a outras pessoas. O Batismo traz consigo a promessa na qual confiamos: Deus se faz conosco, sempre!

Assim, como pessoas batizadas, templo da presença de Deus, passamos a atuar como promotores e promotoras da paz nas três Ordens da Criação, que, segundo Lutero, Deus instituiu para o ser humano viver no mundo: Igreja, Economia e Política. Elas foram estabelecidas para que a vida pudesse ser cuidada e promovida, para que, na nossa sociedade, houvesse organização, dignidade e justiça.

Como Igreja, acreditamos que este pode ser o caminho para a busca conjunta de uma convivência que seja em favor da paz. É disso que tratam o Tema e o Lema da IECLB em 2019: desafiar a agir em regime de colaboração na construção de pontes de aproximação entre as pessoas para o melhoramento do mundo. Esse deve ser o testemunho da nossa fé enquanto pessoas que vivem o Batismo. Que Deus nos ajude nesta tarefa!

Pa. Patrícia Bauer
Pastora Sinodal do Sínodo Brasil Central

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