Jornal Evangélico Luterano

Ano 2019 | número 834

Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Porto Alegre / RS - 07:48

Unidade

Tudo passa, mas o amor fica!

Em muitas empresas, negócios ou lojas há um quadro na parede. Diversas vezes, o quadro está visível e, outras vezes, nem tanto. Neste quadro ou banner, são expostos os valores da organização. Isso faz parte da boa gestão e governança de um empreendimento ou organização. Em geral, estão expostos no quadro os seguintes valores: atendimento, qualidade, respeito ao cliente, crescimento, etc. São valores das empresas e dos negócios e mostram o que é importante para essas organizações, por isso elas cuidam desses valores e priorizam a sua atuação por esses valores.

Assim como as organizações, também as pessoas expressam os seus valores. Valores são as ideias, as causas, os princípios que norteiam a vida das pessoas. Os valores são usados para decidir, avaliar e julgar a realidade e as circunstâncias da vida. A própria vida, por exemplo, é um valor considerado universal. Praticamente ninguém questiona que devemos valorizar (valor) qualquer espécie de vida.

Os valores são expressos pela fala e pelo comportamento. Os valores são mostrados, por exemplo, nos nossos dias, nas Redes Sociais! De forma explícita ou não, as pessoas mostram o que é importante para as suas vidas, aquilo que consideram prioridade. Muitos são os contatos que temos nas Redes Sociais. São pessoas ligadas a alguma Comunidade Cristã ou não, mas todas exprimem valores e compartilham valores. Não é raro encontrar pessoas dizendo: ‘Eu sigo valores cristãos!’, ‘Eu tenho valores cristãos!’. Não é raro encontrar pessoas postando em Redes Sociais expressões, palavras, frases, fotos, ‘memes’ e vídeos que transmitem certos valores que, muitas vezes, se autodenomimam ‘valores cristãos’.

Ao colocar a palavra ‘cristão’ após ‘valor’, está se qualificando a palavra. Valor cristão, portanto, é aquilo importante para a vida, aquilo que é prioridade para a vida a partir de Jesus Cristo. Pela lógica, valor cristão está ligado ao Cristo. Contudo, muitos valores que as pessoas pensam ser valores cristãos nada ou pouco têm a ver com Cristo – o que Ele propôs como valor nos Evangelhos, ou seja, o que Jesus considerou importante e prioritário pelo qual se deveria nortear e conduzir a vida.

Ao colocar a palavra ‘cristão’ após ‘valor’, está se qualificando a palavra. Valor cristão é aquilo que é prioridade para a vida a partir de Cristo. Muitos valores que as pessoas pensam ser valores cristãos, entretanto, nada ou pouco têm a ver com Cristo.

Coloca-se nas falas, nos compartilhamentos nas Redes sociais e nas atitudes que valores cristãos são família, trabalho, propriedade e educação. Estes são os mais comuns que aparecem nas publica ções em Redes Sociais e nas conversas informais. Precisa-se perguntar: São estes os valores, por excelência, da pessoa cristã? Esses são os valores que Cristo ensinou, defendeu, viveu e pelos quais entregou a sua vida em favor de nós? Isso quer dizer que um descrente em Cristo, e há muitos, não valoriza a família? Significa que os muçulmanos ou os judeus não valorizam a família? Quanto ao trabalho, se ele é um valor das pessoas cristãs, significa que os budistas não o valorizam? O Japão é um país com maioria budista... Seriam eles pessoas que desvalorizam o trabalho? Seriam eles pessoas que desvalorizam a educação? Da mesma forma, educação não é exclusividade cristã. Casamentos e famílias não são exclusividade cristã. Propriedade não é valor cristão. Estes são valores que perpassam todas as culturas e religiões!

Lutero, para citar um exemplo dos seus escritos, expressa isso no Catecismo Maior, na explicação ao Terceiro Artigo do Credo Apostólico, quando diz: ‘Por aí você vê que o Credo é uma doutrina bem diferente dos Dez Mandamentos. Estes ensinam o que devemos fazer, mas aquele nos diz o que Deus faz para nós e nos dá. Os Dez Mandamentos, de qualquer forma, estão escritos no coração de todas as pessoas, já a fé nenhuma inteligência humana consegue compreender...’. Respeitar pai e mãe, não adulterar, não matar, não roubar, não cobiçar propriedade alheia estão inscritos nos corações humanos, independente da fé. Família, trabalho, propriedade, educação são, a bem da verdade, organização das Ordens da Criação: Economia e Política. Talvez, com isso, fica-se assustado e pergunta-se: O que é, então, valor cristão?

Jesus, o Crucifi cado e Ressurreto, mostra pelo seu ensino, pela sua vida e pela sua entrega vicária, ao menos dois valores básicos pelos quais a nossa vida deve ou deveria orientar-se. São os valores com os quais as pessoa cristãs deveriam ser reconhecidas diante das diversas culturas e religiões no mundo e na sociedade, os valores vivenciados a partir da fé no Senhor Jesus Cristo. O valor básico cristão é o amor. Jesus expressa isso no grande Mandamento: e amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma, de todo teu entendimento, e com toda a tua força... amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior que esse (Mc 12.30s). Fazendo uma paráfrase, pode dizer-se que não há valor maior que esse. O valor por excelência da pessoa cristã é o amor.

Amor e renúncia são os valores cristãos por excelência. Estes valores vividos por Cristo transformam o mundo. O Filho veio trazer-nos paz e mais: deixou-nos a paz! A paz que vem de Deus só pode ser construída quando há amor e renúncia.

O apóstolo Paulo explicita esse valor, que é o amor a Deus e ao próximo. Escreveu o apóstolo: Agora, portanto, permanecem a fé, a esperança e o amor, essas três coisas. A maior delas, porém, é o amor (1Co 13.13). A famosa passagem diz: Se eu não tivesse amor, eu nada seria. Não adianta falar línguas de homens ou anjos, não adianta profetizar, conhecer mistérios e ciência, distribuir bens ou ainda ter fé, sem amor nada vale. Não adianta ter tudo sem o amor. Família, trabalho, propriedade, educação nada servem sem amor. Aliás, todas estas coisas passam. Os familiares, cedo ou tarde, vão. No trabalho, chega o dia em que não há mais forças. As propriedades mudam de dono (veja Lc 12.15-34). A educação transforma-se. O valor que deve permear todas essas partes da vida é o amor. O valor cristão que conduz a nossa vida é o amor.

Esse amor é exigente, como disse Jesus Cristo: Se vocês amam somente aqueles que os amam, o que estão fazendo demais? Até pecadores amam as pessoas que os amam (Lc 6.32). A pessoa cristã é chamada a amar onde não há recompensa, amar o desprezado, amar aquele que não merece, assim como Jesus Cristo amou quem não merecia: nós! Ao viver este valor básico cristão, o mundo será diferente. Nisso consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviounos o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, devemos, nós também, amar-nos uns aos outros (1Jo 4.10- 11). Isso quebra o ódio e a polarização dos nossos dias. É necessário discernimento para viver a vida cotidiana? Precisa tomar decisões? O amor é o limite!

Junto ao amor vem o segundo valor básico cristão: a renúncia. É o que vem depois da aceitação do seguimento a Jesus. Deixar para trás! Os discípulos deixaram tudo e seguiram ao Senhor. Valor evangélico, conforme Lucas 14.33: Igualmente, portanto, qualquer de vós que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo. Igualmente aqui, Jesus é exigente: você não pode servir a dois senhores (leia Mt 6.24). Seguir exige renúncia (leia Lc 9.57-62). Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. Muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado é o caminho que conduz para a Vida. Poucos são os que o encontram (Mt 7.13- 14). Para passar por uma porta estreita, não é possível levar muita bagagem. A renúncia é viver com o necessário, é reconhecer que, de muitas coisas, eu não necessito. Não é preciso estar no topo, não é preciso sempre ter razão, não preciso sempre progredir, não preciso ter o último lançamento! Qual é o motivo de tantas brigas nas famílias? Quais são as ‘coisas’ que não se deixam para trás? A pessoa cristã renuncia a grandezas e ao poder, pois sabe que nem grandeza nem poder conduzem para a vida verdadeira.

Por outro lado, a pessoa cristã renuncia ao ódio, renuncia à violência. Alguma vez na história humana algo foi resolvido com ódio e violência? Ódio e violência já geraram paz em algum lugar? O valor da renúncia é decorrente do valor do amor. Somente quem ama consegue renunciar. Inclusive, há no próprio Cristo este valor, conforme testemunha o apóstolo: Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele, estando na forma de Deus, não usou de seu direito de ser tratado como um deus, mas se despojou, tomando forma de escravo (Fp 2.5-7).

Amor e renúncia são os valores cristãos por excelência. Estes valores vividos por Cristo transformam o mundo. Com amor e renúncia, como seriam as famílias? Com amor e renúncia, como seriam as relações de trabalho? Com amor e renúncia, como seria a educação? Com amor e renúncia, como usaríamos nossas propriedades?

Igreja, Economia e Política são ordens na Criação de Deus pelas quais Ele deseja cuidar de toda a sua Criação. A vontade de Deus é criar, preservar com dignidade a vida e, por fim, salvá-la. O Senhor almeja a paz para a sua Criação. Deixo com vocês a paz, a minha paz lhes dou (Jo 14.27). O Filho veio trazer-nos paz e mais: deixou-nos a paz! A palavra ‘deixar’ não tem a conotação de abandono: deixei algo e esqueci, larguei. A palavra ‘deixar’ tem a compreensão de entrega: deixo contigo o compromisso e a tarefa. Agora é com você! A paz nos é deixada como compromisso e tarefa. A paz que vem de Deus só pode ser construída quando há amor e renúncia

P. Afonso Adolfo Weimer
Pastor Sinodal do Sínodo Rio Paraná

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