Jornal Evangélico Luterano

Ano 2012 | número 757

Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Porto Alegre / RS - 17:09

Unidade

Lutero - Reforma: 500 anos

   Precisei de ajuda! Então, recorri a textos de Lutero em ‘Livro de Concórdia’ e ‘Obras Selecionadas - Volume 2’, além de outros dois livros, um do Teólogo sueco Gustaf Wingren, que, traduzido para a Língua Alemã, ganhou o nome ‘Luthers Lehre vom Beruf’ (Como Lutero compreende a Vocação), e o do Pastor e Professor da nossa IECLB, P. Dr. Martin Norberto Dreher, ‘Igreja, Ministério, Chamado e Ordenação’.
   Vocação vem do Latim vox. Em Língua Portuguesa, voz. Na vocação, alguém usa a voz para chamar. Vocação é chamado. Aqui, quem chama é Deus! Aqui, o chamado é de Deus. Deus chama. Chama a quem? Chama para quê? Chama como?
   O propósito de Deus é chamar todas as pessoas e integrá-las todas no seu Reino. Que todas as pessoas do mundo façam parte do seu Reino e experimentem e promovam as bênçãos deste Reino. Jesus manda os seus discípulos irem para todos os povos, proclamarem e ensinarem a Palavra de Deus. Para marcar nitidamente a entrada no mundo das pessoas chamadas, e que ouviram o chamado e responderam a ele, Jesus institui o Batismo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mateus 28.19-20).
   Muitas vezes, usamos também outra palavra da Sagrada Escritura para falar sobre o que acontece no Batismo, a palavra do profeta Isaías 43.1: Não tenha medo, pois eu o salvarei; eu o chamei pelo seu nome, e você é meu, na Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Na tradução de João Ferreira de Almeida: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu.
   O Batismo é o grande instrumento da vocação. Através da voz do Pastor ou da Pastora, que, naquele momento, é a voz da Comunidade, e é também voz de Deus, Ele chama a pessoa batizada, chama-a pelo nome, criança ou adulta (em meus mais de 50 anos de Ministério, batizei centenas de crianças e, entre vários adultos, um dia batizei um senhor de 81 anos e lhe disse ‘você é meu’, ‘tu és meu’).
   A pessoa cristã precisa do Batismo, como criança ou como adulto. É necessário para a salvação. Ninguém ganha licença de não ser batizado, mas Deus não depende do Batismo. Se em uma família cristã uma criança ou um jovem falecer antes de ser batizado, mesmo assim Deus tem a liberdade de acolhê-la no seu Reino eterno. Também há pessoas que não sabem que não foram batizadas. Deus pode chamar uma pessoa também fora do Batismo. Deus diz para o profeta Jeremias que antes do seu nascimento, quando você ainda estava na barriga da sua mãe, eu o escolhi e separei para que você fosse um profeta para as nações (Jeremias 1.5).
   Deus não está amarrado ao Batismo no sentido de que, se uma pessoa for batizada, mas depois não respeitar e não viver o Batismo, Deus não está obrigado a lhe conceder as suas bênçãos. O Batismo aqui é aquele de que Lutero fala no Sacramento do Batismo e diz que ele implica em que a pessoa batizada ‘por arrependimento diário, a velha pessoa em nós deve ser afogada e morrer com todos os pecados e maus desejos. E, por sua vez, deve sair e ressurgir diariamente nova pessoa, que vive em justiça e pureza diante de Deus para sempre’ (Catecismo Menor: O Sacramento do Batismo – item Quarto).
   É por isso que Deus chama repetidamente pela sua Palavra, falada, escrita, exibida na TV e no computador. Deus chama, de uma maneira, muito forte, na Santa Ceia. Para pessoas cristãs e para a Comunidade e Igreja cristãs, o chamado com sentido de vocação é especialmente o Batismo, por isso a celebração de cada Batismo precisa ser bem preparada e consciente e só realizada se as pessoas estão dispostas a se deixar chamar por Deus e a responder a Deus com as suas palavras e com as suas vidas. É motivo de grande preocupação quando famílias solicitam o Batismo dos seus filhos sem depois administrá-lo responsavelmente pela vida afora, como se o Batismo fosse uma garantia mágica sem compromisso posterior. A simples celebração em culto, sem vivência posterior, é um desrespeito ao verdadeiro propósito do Batismo. Deus chama, as pessoas ouvem. Entretanto, as pessoas precisam fazer mais do que apenas ouvir, precisam responder, com palavras e a vida do dia a dia.

A Palavra de Deus viva e os Sacramentos vivos são as fontes e os critérios de todos os aspectos da vocação em
todos os tempos e em todas as situações específicas.



 
  Egon Franz, o tradutor para a Língua Alemã do livro de Gustaf Wingren diz no seu prefácio: ‘Quando na Idade Média a palavra vocação era usada apenas no sentido religioso, Lutero foi o primeiro a aplicá-la também para a ocupação em atividades terrenas, querendo indicar com isso que não apenas os representantes dos ministérios eclesiásticos, mas também os agricultores, príncipes, operários, etc. são chamados por Deus para entender seu trabalho como vocação por Deus’. A pessoa cristã pode entender a sua atividade profissional, seja ela qual for, como sendo vocação por Deus. Ela foi chamada por Deus para exercer tal profissão para servir ao próximo.
   Lutero estende a vocação para a profissão e, com isso, para o serviço no mundo. Este é o assunto do livro de Gustav Wingren. A profissão, como vocação de Deus, torna-se um serviço e um testemunho para dentro da Comunidade, mas também para dentro da sociedade e do mundo mais amplos. Com o exercício da profissão, a pessoa se torna cooperadora de Deus no mundo. Deus cuida de pessoas por meio de outras pessoas. A pessoa cristã não exerce a sua profissão apenas por gostar dela ou para ganhar dinheiro, mas exerce-a também – ou até prioritariamente – como resposta a um chamado de Deus, como um serviço prestado por incumbência de Deus.
   Um Pedreiro não é só Pedreiro porque gosta dessa profissão ou porque quer ganhar dinheiro com ela, mas também porque entende que Deus o chama para este serviço, por meio do qual ele presta serviço ao próximo. Isso tem enormes consequências. Este Pedreiro vai caprichar no seu trabalho para construir uma boa casa para quem vai morar nela. O Advogado que entende que Deus o quer nesta profissão vai entender e citar as leis em favor do próximo. A cozinheira vai incluir o seu amor na receita da comida para torná-la gostosa para quem dela se alimenta.
   Vocação por Deus tem a ver com profissão e vice-versa. Tenho a impressão de que poucas pessoas têm consciência disso, que Deus as chamou para desempenharem tal profissão e que ela seja exercida com o espírito do Evangelho de Jesus Cristo. As profissões de Pastor, Pastora, Diácono, Diácona, Missionário, Missionária e Catequista, para estas, sim, pessoas sentem-se chamadas por Deus, mas Motorista, Agricultor, Pintor, Engenheiro, Comerciante, Industrial, estas e as muitas outras profissões, as pessoas escolhem porque gostam delas ou porque ali existe uma vaga de trabalho que possibilita ganhar o dinheiro necessário para viver. Lutero propõe e defende uma leitura muito diferente.
   Para ajudar as Igrejas e as Comunidades a administrar as várias dimensões da vocação, Deus institui o Ministério da pregação da Palavra e da administração dos Sacramentos. Para esta tarefa, Deus chama e ordena pessoas, especialmente, por meio da Comunidade, vocaciona para uma tarefa especial, para o ‘Ministério que ensina o Evangelho e administra os Sacramentos’ (Confissão de Augsburgo - Artigo V). A Palavra de Deus viva e os Sacramentos vivos são as fontes e os critérios de todos os aspectos da vocação em todos os tempos e em todas as situações específicas.

Na vocação, alguém usa a voz para chamar. Vocação é chamado. Aqui, quem chama é Deus!



   As pessoas com vocação, esta especial, são pessoas batizadas, de dentro da Igreja, e que são membros de Comunidade, com dignidade espiritual igual, não superior nem inferior, à dignidade de todos os outros membros da Comunidade, mas com a tarefa de cuidarem especialmente da pregação da Palavra e da administração dos Sacramentos do Batismo e da Santa Ceia. Cada Comunidade deve ter um Ministro para esta tarefa e, em caso de necessidade, pode nomear um dos seus membros para isso. Em circunstâncias emergenciais, quando não houver Ministro ordenado acessível, qualquer membro pode, interinamente, assumir este papel. Em circunstâncias normais, os Ministros e Ministras recebem por parte da Igreja um preparo e um chamado especial, recebem uma Ordenação e um envio públicos. A partir daí, desempenham uma tarefa também especial, mas continuam no nível de todos os outros membros da Comunidade.
   O P. Martin Dreher diz isso assim: ‘Constatamos que Lutero acentua a igualdade entre os cristãos, mas isso não é tudo. Ele também pode falar sobre diferenças entre os cristãos, mas não são diferenças de estamento. São diferenças de ‘função e ocupação’, que, no entanto, não atingem a igualdade das pessoas. As pessoas não têm dignidade maior ou menor se atuam como Artesãos ou se ministram Sacramentos, pois cada pessoa tem sua função ou ocupação para servir’ (pág. 60). Cabe à Igreja como um todo administrar este processo.

P. Wilfrid Buchweitz foi Pastor e Professor em Comunidades e escolas em Santa Cruz do Sul/RS, Venâncio Aires/RS, Novo Hamburgo/RS, na Faculdade de Teologia (hoje, Faculdades EST), em São Leopoldo/RS e também em Puerto Montt, no Chile
 

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