Quaresma e Quarentena
Estamos no período da Quaresma.
Este período que antecede a principal celebração do Cristianismo, a Páscoa.
A quarta-feira de Cinzas dá o inicio deste período, simboliza o arrependimento e a contrição até a Paixão de Cristo na Sexta-feira. Neste tempo somos chamados para refletirmos sobre nossa vida, através da oração, do jejum e do silêncio. Tempo que somos levados a reconhecer nossas limitações, fragilidades, pequenez, finitude e sobre tudo, nossa natureza pecadora.
O corona vírus tem posto a gente em quarentena. Um tempo igualmente que nos recolhemos de forma compulsória. Mas que da mesma forma mostra que somos muito frágeis. Um vírus invisível aos olhos humanos, porém mortal, capaz de mudar toda nossa rotina. Paralisar nossos projetos, cancelar tantos eventos, suspender férias, trabalho, escola, fechar comércios, mudar quase que completamente nossa vida.
É tempo para pensar e refletir. Tempo de muitas perguntas e de poucas respostas. Tempo de muitas suspeitas e tempo de poucas certezas.
Eclesiastes capítulo 3 diz:
“Há um momento certo para tudo, um tempo para cada atividade debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher.
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de construir.
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de se entristecer, e tempo de dançar.
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar, e tempo de se afastar.
Tempo de procurar, e tempo de deixar de buscar; tempo de guardar, e tempo de jogar fora.
Tempo de rasgar, e tempo de remendar; tempo de calar, e tempo de falar.
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
E, no entanto, Deus fez tudo apropriado para seu devido tempo. Ele colocou um senso de eternidade no coração humano, mas mesmo assim ninguém é capaz de entender toda a obra de Deus, do começo ao fim”.
Este texto fala sobre ciclos da vida: viver e morrer, saúde e enfermidade... Fala das nossas emoções: chorar e rir; entristecer e dançar... Fala projetos: derrubar e construir, plantar e colher; espalhar e ajuntar... Fala de relações: calar e falar, amar e odiar... A cada tempo temos nossos desafios, nossas perguntas e as respostas de ontem podem não servir para as de hoje. Por tanto, a cada tempo um novo jeito de se reinventar.
O Corona vírus e sua propagação nos apresenta um novo momento. Tempo de resistir e de sobreviver. Não é tempo de dança, não é tempo de festejar, não é tempo de abraçar, não é tempo de estarmos todos juntos. Este tempo é tempo de ficar em casa, de usar telefone, tempo de orarmos, e de buscarmos a Deus, de sermos solidários mais do que nunca em não sermos transmissores do vírus. Este é um vírus que testa nossa humanidade, porque não há pobres e nem ricos, negros ou brancos, mulheres e homens. É um vírus que conspira contra a humanidade. Hoje é tempo de nos unirmos no isolamento, e mostramos nossa capacidade de reclusa.
Este tempo de quarentena vai passar e quando passar teremos ele apenas em nossas memórias e contaremos como uma história. Como sobrevivemos a tantas questões e outras doenças ao longo dos século, sobreviveremos a mais esta.
A quarentena da Páscoa nos lembra: Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão? (1 Co 15.55)
Teremos dias difíceis, mas não impossíveis. Até mesmo a morte não é forte o suficiente para o amor de Deus consumado em Cristo Jesus. O pecado que é um atentado a humanidade também foi vencido. “Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. (Romanos 8.38,39)
Neste tempo de reclusão tenha certeza, que nada nos separa do amor de Deus, nem mesmo o corona vírus. E ainda que a contaminação venha, ela não tem a última palavra. A última palavra não é do corona e nem da morte, é de Cristo Jesus que diz está consumado: as correntes da morte não puderam me segurar.
Se na nossa correria do dia a dia éramos atropelados por tantas atividades, agora em tempo de quarentena temos nosso tempo de Quaresma, buscando a Deus, no silêncio, no aquietar-se da vida que mudou por estes dias.
Miss. Samuel Scheffler
Paróquia de Luzerna
