Suicídio, tema mais do que urgente

12/09/2019

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SETEMBRO AMARELO

Suicídio, tema mais do que urgente

Pesquisa: P. Rafael Coelho, Jaraguá do Sul/SC
Texto: P. Clovis Horst Lindner, Blumenau/SC
Jornal O CAMINHO, Setembro de 2019

O suicídio é um tema varrido para debaixo do tapete na sociedade e na igreja. Na imprensa, por exemplo, manchete de suicídio é considerada um gatilho que leva outras pessoas a atentarem contra a própria vida. Direito ao sigilo sobre o drama familiar ou medo da cobrança da sociedade também estão entre os motivos para não tratar o tema como notícia. A abordagem recente do Fantástico sobre depressão e suicídio, com a competente condução do Dr. Dráuzio Varella, é uma exceção bem-vinda (Veja, utilizando o QR-Code, na galeria de imagens acima).

Também na igreja o assunto é tabu. Sob a ótica do quinto mandamento, o suicida é condenado como pecador sem perdão. Diz-se que quem atenta contra a própria vida, dom de Deus, comete um pecado imperdoável, ao atentar contra a própria existência. Ao contrário do assassino, não há mais chance de arrependimento.

A história registra casos dramáticos, relacionados à interpretação radical da lei de Deus. Suicidas eram sepultados fora do cemitério, em posição invertida aos demais, sem participação do ministro religioso e seu jazigo era abandonado à própria sorte. Num julgamento antecipado, o suicida era condenado ao inferno. Hoje, a maioria das igrejas distanciou-se disso. Suicidas, via de regra, não são mais banidos. Mas, ainda há uma clara antecipação do juízo final, inclusive nas redes sociais.

Mas, esconder não resolve o drama. O suicídio é considerado uma epidemia global pela Organização Mundial da Saúde-OMS. É a 17ª principal causa de morte no mundo e a segunda maior entre jovens de 15 a 29 anos. Cerca de 800 mil pessoas por ano tiram a própria vida no mundo. Portanto, é um problema prioritário de saúde pública global. Ainda, segundo a OMS, para cada suicídio consumado, pode haver outras 20 tentativas.

Os dados são estarrecedores. E são mascarados. Especialmente em países como o Brasil, onde muitos casos não aparecem para as estatísticas, porque acabam sendo registrados como “acidente”.

Pesquisa – Por esses e outros motivos – e porque “setembro amarelo” trata do suicídio –, o jornal O Caminho promoveu uma pesquisa entre seus leitores e leitoras para abordar o assunto. Com o encaminhamento de um questionário nas redes sociais, um total de 266 pessoas participou, um terço de pessoas entre 46 e 60 anos, 25,2% de 31 a 45 anos, 21,4% acima dos 60 anos, 18,4% de 18 a 30 anos e 3,8% abaixo de 18 anos.

Nesse universo, 91% das pessoas se declararam membros da IECLB. A maioria absoluta (51,9%) afirmou ter experiência com depressão ou crise de ansiedade, enquanto 30,16% já teve experiência direta com algum ato de suicídio na família ou no círculo de relacionamento próximo.

O dado mais preocupante, entretanto – pelo grau de sinceridade que a pergunta requer, apesar da segurança do sigilo de identidade –, é que um em cada quatro participantes revelou já ter pensado em dar cabo da própria vida.

Tema urgente – Um espaço para opinar também foi reservado na pesquisa, e o resultado imediato foi surpreendente. Entre as razões para o ato ou para pensamentos suicidas, a principal causa apontada não foi buscar um fim para a própria existência, mas “querer terminar com a sua dor... tem a ver como lidamos com a dor”, na opinião de um dos participantes. O sentimento é expresso pela “dificuldade de sentir a presença de Deus em meio a crises”.

A pergunta pelas causas que levam ao suicídio passou por diversas razões, desde problemas de saúde, de fé e até psicológicos. A pergunta se “causas materiais” podem estar por trás é respondida pela própria OMS, que constata que 78% dos casos mundiais de suicídio acontecem em países de renda média ou baixa, embora o quadro não seja mais animador em países ricos.

A urgência da abordagem do tema transpareceu na constatação de que “a igreja não dá a devida importância”, mesmo que já tenha sido assunto no “Vida no Limiar da Morte”, por exemplo. A cobrança de que a igreja não fala abertamente sobre o assunto ou trata com mais cuidado da prevenção apareceu com insistência na pesquisa, com especial apelo para a prevenção e por orientações que ajudem a evitar o pior.

Classificado como “extremamente importante”, o tema “deve ter atenção especial”. Ao apontar os Salmos como recurso para tratar do sofrimento, um participante questiona a igreja por fazer “pouco uso dessa riqueza para falar sobre sofrimento a partir do testemunho bíblico”. As principais perguntas que apareceram, giram em torno da forma de lidar com indícios de depressão e suicídio. “Como nós, pessoas cristãs, podemos agir quando alguém próximo está em estado grave de depressão ou tenta o suicídio?”, foi uma das perguntas.

Entre os desejos mais manifestados, estão pedidos por ajuda para identificar gatilhos, bem como mais clareza sobre sintomas e tratamento da depressão, ou dicas claras de ação e de ajuda das famílias em relação a pessoas com pensamentos suicidas.


Veja também: Suicídio. Não precisa terminar assim
 

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Ainda não somos o que devemos ser, mas em tal seremos transformados. Nem tudo já aconteceu e nem tudo já foi feito, mas está em andamento. A vida cristã não é o fim, mas o caminho. Ainda nem tudo está luzindo e brilhando, mas tudo está melhorando.
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