Santos. Quem são?

30/05/2008



Os seres humanos costumam estar sempre em busca de algum tipo de “ídolo” em quem possam se espelhar ou encontrar alguma diretriz para a vida. Fazemos isso pela vida toda: quando crianças, nos espelhamos em nossos pais e mães; na escola, em nosso professor ou professora preferida; quando jovens, procuramos por alguém que consiga expressar o ideal de vida que almejamos (quando o jovem não encontra essa referência em seus pais, vai procurá-la em outros lugares, optando algumas vezes por alguém que não será exatamente uma referência positiva). Na vida adulta continuamos buscando referências. Independentemente da idade, procuramos sempre algum tipo de ancoradouro no qual possamos encontrar segurança e projetar nossa própria vida.

Carecemos, no entanto, cada vez mais de referenciais positivos e construtivos. Que referenciais têm nossos jovens? As “celebridades” da TV e das revistas? Os jogadores de futebol que ganham milhões? Mulheres magérrimas que ditam uma moda que não inclui a grande maioria da população? Alguns buscam apoio em representações distorcidas e inadequadas para uma vida que faça sentido a longo prazo – um sentido profundo e verdadeiro. A falta de referenciais realmente construtivos ajuda a explicar a confusão de valores que estamos vivendo.

Os ancoradouros verdadeiros são pilares capazes de sustentar nossas referências e ideais de vida e que nos inspiram a viver uma vida que faça sentido. Temos figuras maravilhosas na história da Igreja Luterana que podem muito bem servir de inspiração e referencial de vida. Albert Schweitzer e Dietrich Bohnhoeffer, por exemplo. O primeiro foi pastor luterano, escritor, filósofo, missionário, organista e médico. Pregou em Estrasburgo (hoje na França, na época território alemão), recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1952 e foi considerado “o maior homem do mundo” pela revista Time.

Schweitzer já completara 30 anos quando decidiu estudar medicina para ser missionário na África. Formado, deixou a Europa em 1913, com 38 anos de idade, para viver no Gabão. Na cidade de Lambarene construiu um hospital que inspirou muitas pessoas mundo afora e no qual trabalhou até a morte, em 1965, aos 90 anos (o hospital continua funcionando até hoje).

Já Dietrich Bohnhoeffer foi um pastor luterano martirizado no campo de concentração de Flossenburg, na Alemanha, no final da II Guerra Mundial. Durante o regime nazista, exerceu clandestinamente seu ministério e esteve ligado a movimentos para derrubar o governo hitlerista, que mandava tantas pessoas para a morte nos campos de extermínio da Alemanha e da Polônia. Foi enforcado porque, até o último momento, se manteve firme em sua fé, que o comprometia a lutar a favor dos irmãos e irmãs, fossem estes cristãos ou judeus.

Esses dois homens não são santos, no sentido em que nós normalmente costumamos pensar. São, no entanto, dois seres humanos que souberam sentir e fazer jus à faísca divina que carregavam em seus corações, dedicando sua vida ao próximo e a Deus. Eles são, ou deveriam ser, principalmente para nós, luteranos, referências e inspiração.

Os santos são, nada mais nada menos, pessoas que com suas falhas, tropeços e desvios tentaram dedicar sua vida a Deus e ao próximo. Os santos representados nas imagens nos templos não devem ser vistos como divindades, porque são obras das mãos humanas, como nos adverte o Salmo 115.4. Contudo, as imagens são obras de arte que retratam a vida daquela pessoa, cujos atos podem ser uma referência para outros cristãos e cristãs. Ainda assim, é preciso refletir quando a adoração a imagens gera uma prática que pode vir a escravizar e a levar a uma veneração e adoração sem limites ao santo/ídolo preferido.

É claro que devemos respeitar nossos irmãos e irmãs que incluem as imagens em sua maneira de viver a fé, o que no mínimo é um exercício de cidadania e de convivência com a diversidade, prerrogativa para o diálogo ecumênico. Porém, é preciso ter cuidado com os limites, porque certo é que somente a Deus cabe a verdadeira veneração e adoração, e que nessa relação entre Criador e criatura é indispensável a presença do Espírito Santo e de Jesus.

Vera Cristina Weissheimer, Pastora da IECLB na Igreja Martin Luther, Paróquia Centro, São Paulo


Autor(a): Sínodo Sudeste
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8362
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