A Campanha


 

1. (Ver) Viver o batismo: onde você está?

Duas são as perguntas pronunciadas por Deus no início do texto bíblico: “Onde você está?” (Gn 3.9) e “Cadê o seu irmão?” (Gn 4.9). Elas colocam em evidência, por um lado, que cada pessoa é única, exclusiva. Tamanha é sua grandeza que faz o salmista exclamar que ela foi criada “um pouco menor do que Deus” (Sl 8.5). Por outro lado, destacam que ninguém é uma ilha. Na vida, sempre estamos perante alguém: Deus, si mesmos/si mesmas, as outras pessoas e a natureza com suas diversas formas de vida. Em outras palavras, toda pessoa existe numa tensão entre a sua individualidade e a teia de relações de interdependência que existe entre ela e seu contexto socioambiental.. Assim sendo, no nascimento, toda pessoa ingressa numa comunidade e torna-se um elo da corrente de gerações. Desta forma, ela pertence a algo maior do que ela mesma. E com isso, enquanto membro de uma comunidade, toda pessoa é herdeira de um passado, de um patrimônio construído ou preservado pelas suas antecessoras, bem como das que lhe são contemporâneas. Quer queira, quer não, cada indivíduo partilha dos males e dos benefícios da sua comunidade socioambiental, sem ter feito nada para merecê-los.

Nesse contexto, o grande desafio da vida consiste em que cada pessoa/indivíduo faça uso da sua liberdade para construir, com criatividade e autonomia, um projeto de vida que leve em conta tanto o bem-estar e a realização pessoais como os da sua comunidade socioambiental. Quer dizer, cada pessoa tem o compromisso de ir além da herança da sua comunidade e abrir novas possibilidades de futuro. Ela tem o dever de usar com criatividade todos os benefícios oportunizados pela sua comunidade para, com sabedoria e coragem, frear e/ou vencer os males que assolam essa comunidade socioambiental que a viu nascer e crescer.

Lamentavelmente, muitas pessoas vivem divididas em relação à comunidade. Para algumas, o ônus que há nela é pesado demais, e por isso acabam lhe dando as costas. Outras, sem muito compromisso, pegam o bônus da sua herança, mas não querem o seu ônus. Ainda há quem acredite que a única maneira de alcançar o pleno desenvolvimento seja negando toda a herança da sua comunidade socioambiental. Assim, de costas para sua herança, muitas pessoas constroem seus projetos de vida orientados pelo individualismo e egoísmo, cuja finalidade é a busca do próprio prazer. Fecham, assim, suas vidas em si mesmas. Mas não só indivíduos orientam suas vidas desta maneira. Há também grupos de pessoas, com seus empreendimentos, e até sociedades inteiras, assim orientadas. Muitos dos males deste mundo se alimentam dessa orientação, por exemplo: a falta de solidariedade e compaixão, injustiças, indiferença, abusos, violências, mentiras, corrupção e exploração de pessoas, entre outros.

Entretanto, mesmo com toda essa negação, a verdade é que toda pessoa tem sua vida amarrada a uma comunidade socioambiental, com toda a sua herança. E é exatamente por isso que toda pessoa / indivíduo é livre e responsável, não só pela sua vida, mas também pelo mundo que a recebeu ao nascer.

2. (Julgar ) Viver o batismo: porque o que fizeste a uns destes pequeninos a mim o fizeste

Nossa fé evangélica de confissão luterana entende que o batismo “radicaliza” a relação de interdependência entre o indivíduo e sua comunidade socioambiental. O apóstolo Paulo, falando da pessoa batizada, escreve: “Somos todos um só corpo..., Contudo, ele concedeu a cada um de nós um dom especial” (Ef 4.4a,7a). No batismo Deus confirma o nosso valor como pessoas únicas. Por meio dele Deus diz SIM à pessoa batizada e reafirma ser ela sua parceira de diálogo. No sacramento do batismo é Deus quem nos reconhece e vocaciona, quando cada pessoa é chamada pelo seu nome (Is 43.1). Também, no batismo, recebemos o abraço de Deus (Lc 18.16), indicando com isso a aceitação da nossa individualidade. Deus nos aceita assim como somos com todas as nossas características e peculiaridades.

Mas no batismo também se confirma que cada pessoa vive inserida numa comunidade ou corpo. No batismo, diz o apóstolo Paulo, a pessoa tem sua vida costurada à de Cristo, tornando-se uma espécie de sombra sua (Rm 6.3-5; 1Co 3.23). Pelo batismo a pessoa passa a ser seguidora, discípulo e discípula, de Cristo. Mas esse seguimento de Cristo não é uma caminhada solitária. Por isso, inserida no corpo de Cristo (1Co 12.27; Gl 3.27), a pessoa batizada recebe um chamado, uma vocação e dons para o exercício dessa vocação (Ef 4.4,7a), que não é outra coisa senão seguir o exemplo de Cristo: abraçar o mundo com o seu amor.

Em outras palavras, podemos dizer que a vida da pessoa batizada está marcada pela morte e ressurreição de Jesus Cristo (Rm 6.3-5). Isso significa que ela constrói o seu projeto de vida não segundo os valores e interesses procedentes do individualismo e do egoísmo. Para a pessoa batizada, vale a afirmação apostólica que diz: “Assim também vocês considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Rm 6.11). “Entre vocês não será assim”, diz Jesus a seus discípulos e discípulas (Mc 10.43). A pessoa batizada recebe uma vocação e dons para construir um projeto de vida que abrace o mundo, sua comunidade socioambiental, em Cristo, com Cristo e por Cristo. Isto é, orientado pelo exemplo de Cristo (Ef 5.1).

As palavras anteriores apontam para o fato de que a pessoa batizada vive, atua e age neste mundo e para este mundo (Jo 17.18), mas ela o faz na contramão da sociedade que vive sob as orientações do individualismo e do egoísmo impostas como formas de se relacionar neste mundo. Ou, como diz o apóstolo Paulo: “não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme” (Rm 12.2). A pessoa batizada não vive contra sua comunidade, nem lhe dá as costas, ignorando-a. Muito pelo contrário, vive sob a vocação e a oração de Jesus que diz: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal” (Jo 17.15).

Exemplo de atitudes, posturas e ações para a construção de um projeto de vida encontramos nas cartas de Paulo aos Efésios (5.7-9), Romanos (12.9-21), e 1ª Tessalonicenses (5.1-28), entre outros textos. Um bom exemplo há, também, na oração de Francisco de Assis, que busca concretizar o caminho de Cristo:

Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Assim, a pessoa batizada vive sua individualidade a serviço da transformação da sua comunidade socioambiental, do seu mundo, à sombra de Cristo. E, com criatividade e coragem, semeia sementes do bem, da justiça, da misericórdia, da verdade, do amor e da paz (Ef 4. 22-32), confiante na promessa de que o Senhor dará o seu fruto no seu tempo, e que um novo mundo será possível pela força e inspiração do Espírito Santo que tudo recria (Ap. 21.5).

3. (Agir) Viver o batismo: propostas práticas

A Campanha Nacional de Ofertas para a Missão Vai e Vem abraça o desafio lançado pelo Tema do Ano de 2021 de Viver o batismo – dons e serviço. O objetivo deste desafio é oportunizar processos de renovação e transformação nos mais diversos contextos, segundo o evangelho de Jesus Cristo. A Campanha Vai e Vem entende que viver o batismo destaca o valor único de cada pessoa e o enorme potencial da comunidade socioambiental onde ela está inserida. Inserida no corpo de Cristo, que é a comunidade de fé, a pessoa batizada exerce sua vocação, seu “sacerdócio”, seu serviço, segundo seus dons, para a transformação de todo contexto. Seguindo o exemplo de Cristo, e sob a inspiração e coragem do Espírito Santo, trabalhamos para criar novas possibilidades de vida nos âmbitos pessoal, familiar, laboral, comunidade de fé, sociedade e meio ambiente. Quando assim agimos, tornamo-nos instrumentos do Espírito de Deus, conforme o lema de 2021: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap. 21.5).

No âmbito da comunidade de fé, a Campanha Vai e Vem motiva-nos a desenvolver ações missionárias que concretizem a promoção de uma nova vida. Para tanto, precisamos desenvolver algumas práticas lá onde vivemos o nosso batismo e exercemos nossos dons e serviço:

1. Criar espaços para refletir, estudar e dialogar sobre viver o batismo e a missão de Deus. Por exemplo: o que significa viver o batismo na sua Comunidade? Como viver o batismo tem oportunizado o desenvolvimento dos dons? Como viver o batismo tem oportunizado o serviço na forma do perdão, reconciliação e transformação para uma nova vida?

2. Pedir a Deus, em oração, para sustentar o testemunho que surge da vivência do batismo. Esse testemunho acontece por meio das diversas ações missionárias e diaconais que vão além da nossa Comunidade, Paróquia, Sínodo e Igreja. Quais testemunhos são lembrados nas nossas orações?

3. Promover ações missionárias vinculadas à vivência do batismo na família, na Comunidade, na sociedade. Para tanto, é necessário realizar um diagnóstico do contexto no qual está inserida a Comunidade. Esse diagnóstico deve considerar as Metas Missionárias 2019-2024, aprovadas pelo XXXI Concílio, em Curitiba/PR. Elas contêm indicativos para o fortalecimento da ação missionária nos âmbitos nacional, sinodal e local. Após o diagnóstico, tem lugar a elaboração do Planejamento Missionário.

4. Apoiar, mediante oferta, as iniciativas missionárias sinodais e nacionais. A metade dos recursos arrecadados com a Campanha de Ofertas para a Missão Vai e Vem, descontados os investimentos feitos na Campanha, é partilhada entre os Sínodos para projetos de missão no seu respectivo âmbito de atuação. A outra metade dá suporte a projetos missionários definidos em âmbito nacional.


AÇÃO CONJUNTA
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Toda a vida dos crentes não é outra coisa senão louvor e gratidão a Deus.
Martim Lutero
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