Estudo 6 - Pastor, um caso especial de ser cristão (CA V,XVI e XXIII)

Estudos da Confissão de Augsburgo

23/01/1980

ESTUDO 6
PASTOR, UM CASO ESPECIAL DE SER CRISTÃO
(CA V, XIV e XXIII)

Rolf Droste

1. Para rir e para chorar 

Também na igreja acontecem coisas pitorescas. Diários e artigos escritos por pastores, principalmente pastores aposentados, contêm verdadeiras pérolas humorísticas. Que situação constrangedora, por exemplo, viveu aquele pai que na hora do batismo dos seus filhos gêmeos não conseguiu distinguir o Jacó do Henrique. Eles naturalmente foram batizados com os nomes trocados .. . 

Há algum tempo, porém, um membro da igreja disse: Os pastores muitas vezes escrevem sobre os foras que os membros dão; mas também fazem das suas. E lembrou aquele pastor que costumava ler textualmente do púlpito prédicas de sermonários, porque durante a semana gastava muito tempo com suas predileções agro-pecuárias. E, de fato, a história da igreja registra muitos tipos de pastores; sisudos, tímidos, folclóricos e outros. Tudo isto é possível. O que não é possível, é ser pastor sem vocação e sem pregar de qualquer forma a Palavra de Deus. Em todo caso, o pastor é um homem publicamente exposto e, por isto, também vulnerável. De certa forma, ele não pertence exclusivamente a si mesmo. Certo presidente de igreja, tido como causador das críticas que eram feitas à sua igreja por organismos internacionais, disse estar disposto a licenciar-se do cargo para não prejudicar a igreja. Um membro presente se levantou e disse: O senhor é Presidente, porque nós o elegemos. Não está aí porque quis. O senhor já não pode fazer o que quer. E nós queremos que o senhor fique. E ficou. 

O exemplo acima pode sugerir a seguinte colocação: Não é o pastor que tem uma Comunidade, e, sim, é a Comunidade que tem um pastor. Isso tem muitas consequências. 

2. Venha e ajude-nos 

Este é o chamado que Paulo ouviu antes de passar do continente asiático para o europeu (At 16.6ss). Temos muitos exemplos que mostram como o profeta não se fazia profeta por conta própria, e como os apóstolos eram chamados e enviados pelo Senhor (At 1.8). 

Em nossa igreja cabe à Comunidade decidir sobre a vinda ou saída de um pastor. A ela, inclusive, é atribuída a tarefa de cuidar da pregação pura da Palavra de Deus e da reta administração dos sacramentos (Constituição da IECLB, Art. 11 - alínea a). A Comunidade se alimenta, essencialmente, da Palavra de Deus e dos Sacramentos. Consequentemente precisa de alguém que os alcance a ela. 

Por isso, ao estudarmos o Art. V da Confissão de Augsburgo, que fala do Ministério da Pregação, temos que falar também do pastor. Ministério sem ministro é como uma máquina sem operador. — O que os reformadores disseram nesse Artigo V?

Para que alcançássemos esta fé, Deus instituiu o ministério da pregação e nos deu o evangelho e os sacramentos, — meios pelos quais ele nos concede o Espírito Santo, o qual faz nascer, quando e onde o Espírito quer, a fé naqueles que ouvem o evangelho. Este evangelho ensina que temos um Deus gracioso pelo merecimento de Cristo, e não por merecimentos próprios, — se assim o crermos (Gl 3.14). 

Sabemos que a fé vem pela pregação (Rm 10.17), mas sabemos também que o processo é muito mais amplo. Para invocar o Senhor é preciso crer; para crer é preciso ouvir; para ouvir é preciso pregar; para pregar é preciso ser enviado (Rm 10.14,15). Deus se serve de pessoas para veicular a sua Palavra. Não de quaisquer pessoas. Ele costuma chamá-las por sua iniciativa própria. Segue-me, disse Jesus a Levi (Mc 2.14). — Fazei discípulos..., ennsinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado (Mt 28.18-20). 

Ensinar o que ele manda, isto é muito importante. Por isto não é suficiente estar por dentro da situação política e social do povo, mas também por dentro do evangelho. Apenas é o óbvio, quando se constata que o pastor incumbido do Ministério da Pregação deve calçar os pés com a preparação do evangelho da paz, tomar também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus (Ef 6.15ss). Estas são as armas que Deus coloca nas mãos dos seus ministros da Palavra, os quais ele usa para testemunhar o seu evangelho no mundo. 

Uma das teses sobre Ministério(s) — Serviços e Ordenação aprovada por igrejas luteranas, reformadas e unidas em Gallneukirchen/Áustria (29-9-1979 Leuenberger Lehrgespraech) diz: Cabe ao ministro ordenado da Palavra a tarefa de pregar na Comunidade o evangelho e ministrar os sacramentos, como também congregar e enviar a Comunidade. Assim a Comunidade será edificada e a sua unidade será preservada. 

3. Uma pessoa não alienada; nem do mundo, nem de Cristo 

O Ministério da Pregação, hoje, pelo menos, está em crise. Pastores há que já não preferem pregar na forma tradicional do alto de um púlpito. Gostam mais de refletir em grupo, sem despontarem como pastores. É um assunto vasto e controvertido, mas que a Comunidade deveria examinar. Diria, aqui, que se trata principalmente de formas. Não desmerecendo a sua importância, é certo, contudo, que a verdade evangélica é inalienável. O evangelho ensina que temos um Deus gracioso pelo merecimento de Cristo (CA V). 

É tarefa inalienável do ministro do Senhor testemunhar o Cristo de Deus, morto e ressuscitado em favor de todos nós, e auxiliar todo o mundo a encontrar em Cristo (Mt 16.13-16), que se identificou com os caídos e marginalizados, um novo sentido para as suas vidas e respostas para as suas perguntas. — Para que alcançássemos esta fé, Deus instituiu o ministério da pregação (CA V). Fazer discípulos, portanto, vai muito além da politização de pessoas; implica ensinar e educar na justiça (11 Tm 3.16), transformar a mente (Rm 12.2), para que cada discípulo realmente seja sal da terra e luz do mundo. 

É claro que não é dado ao pastor obrar tamanho milagre. No entanto, Deus o usa para, anunciando o evangelho, despertar a fé nos ouvintes e conceder-lhes o seu Espírito, o selo de sua propriedade. Para isto Jesus convocou apóstolos, e para isto o Senhor chama e envia ainda hoje ministros seus. Graças a Deus! Como crerão naquele de quem nada ouviram? (Rm 10.14) 

4. Uma profissão de serviço 

Pastores também são chamados de ministros. Um ministro é apenas um auxiliar e executor de programas e ordens superiores. Todo o seu trabalho deve desenvolver-se dentro de certos critérios. — Cristo é o criador do ministério e é o seu próprio conteúdo. E cabe ao seu ministro cumprir com fidelidade, por palavras e ações, as suas determinações. Por palavras e ações, isto é, o ministro do Senhor deverá anunciar por todos os meios o evangelho da reconciliação (II Co 5.18). É para isto que o ministro de Deus se deve prestar, o que implica uma profunda dimensão diaconal do ministério (Lc 22.27). (Ministério é uma palavra de origem latina e significa serviço). Isso, pelo menos, precisamos ter na lembrança, quando falamos em ministério da pregação. Na verdade, o ministério eclesiástico é pluralista. Mas não há dúvida nenhuma que o ministério da pregação tem destaque. — Disto os pastores devem ter consciência. E as Comunidades também. Porque o sacerdócio universal dos crentes é inseparável, para não dizer dependente, da fidelidade e dedicação (Rm 12.7; II Tm 4.5) do ministério da pregação! 

5. Igual aos demais, porém, um caso especial

É estranho como muitos membros de Comunidades analisam e julgam o pastor. Gostam que ele fale bem e bonito, mas poucos perguntam se prega o evangelho como lhe foi confiado. Fazem vistas grossas, quando um membro do Presbitério não vem às reuniões, mas ai do pastor se ele faltar. Assim também é em relação ao seu comportamento moral e social. Parece que projetam sobre ele os seus ideais cristãos não alcançados e frustrados. Também o pastor é uma pessoa que sente e sofre, se alegra e vibra. Sem isto seria um robô, incapaz para serviços pastorais (exemplo: poimênica). Ele é um cristão normal, e por isto vive semelhante às demais pessoas (CA XXIII). Mas enquanto muitos outros são absorvidos pelos bens e valores meramente seculares, materiais e passageiros, o pastor está alerta. Vigia. 

Enquanto Moisés falava com o Senhor,

o povo dançava em redor do bezerro de ouro.

Enquanto pastores se ajoelhavam

junto à manjedoura do Filho de Deus,

o povo se divertia nos botequins de Jerusalém.

E nada mudou: antigamente, como hoje,

o povo dança em redor de bezerros de ouro.

Porém, também ainda existem pastores. 

                                                         (E. Killinger) 

Não resta dúvida que o pastor, agraciado e distinguido com a pregação do evangelho e a administração dos sacramentos, é uma espécie de vigia. Sua tarefa é vigiar para que os homens não sejam afastados de Deus, não deixem de respeitar os direitos fundamentais do próximo e não morram no ódio, mas sobrevivam no amor. — Ser pastor é um 'caso especial' de ser cristão (G. Brakemeier, em Discipulado e Ministério Pastoral). Em verdade cada qual é sacerdote (pelo batismo e pela fé), mas nem cada qual é pároco, disse Lutero. 

Quer dizer que o pastor ou tem tarefas especiais, para Ninguém deve ensinar ou igre¡a sem que se¡a chamado o ministro da pregação as quais foi ordenado. pregar publicamente na legitimamente (CA XIV). 

Nisto ele é um caso especial. Esta é também a sua autoridade. Chamado e enviado pela igreja, em nome de Cristo, ele é o embaixador do Senhor, onde quer que vá ou esteja. Não querer esta autoridade é fugir de responsabilidades. Deus usa o seu ministro para falar ao mundo. Deus mesmo quer falar pela boca do seu servo (Lc 10.16). É nisto, por sua vez, que vai a humildade do ministro do Senhor, que nada mais quer do que ser servo. — A Comunidade não necessita de personalidades brilhantes, mas de servos fiéis de Jesus e dos irmãos. Ela também não se ressente da falta daqueles, mas destes. (Bonhoefer) 

6. Sugestões para trabalho em grupo. 

a) Como se relacionam e como se diferenciam o ministério da pregação (pastorado) e o sacerdócio universal dos crentes? 

b) O ministério eclesiástico da igreja é pluralista. O ministério da palavra, da pregação (At 6.4) é fundamental, porém, não exclusivo. — Qual é a posição e a função do ministério da pregação em relação aos demais ministérios (serviços e colaboradores) na Comunidade (At 6.1-7)? 

c) Na igreja nos defrontamos com valores permanentes (evangelho) e temporários (formas externas). — Qual é o conteúdo dos valores permanentes e inalienáveis (At 20.24), e o que é mutável no ministério da pregação? 

d) Ninguém pode ser ministro de Deus, sem escutar-lhe a voz. — O que os pastores (e as Comunidades) fazem para ouvir a voz do seu Senhor? (At 6.4; Mt 10.27) 

e) Exercer o pastorado, como qualquer outro ministério na Comunidade, sempre é graça (Mt 10.8b; Ef 3.2). No entanto, muitas vezes ouvimos que Comunidades acham este ministério da graça muito caro. — Quando um pastor realmente se torna muito caro para a Comunidade? 

f) Que podemos fazer para despertar vocações para pastor na comunidade? 

7. Hinos sugeridos 

Nr, 94: Acorda, Espírito alteroso
Nr. 95: Santo Espírito alteroso.

Veja:


Confessando Nossa Fé – Estudos da Confissão de Augsburgo

A Confissão de Augsburgo (sem notas e comentários)

 


Autor(a): Rolf Droste
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Confessando Nossa Fé - Estudos da Confissão de Augsburgo / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1980
Natureza do Texto: Educação
ID: 19763
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