Saudação pela Presidência da IECLB

Seminário Bilateral Misto Católico Romano - Evangélico Luterano - Os Ministérios

07/09/2000

SAUDAÇÃO PELA PRESIDÊNCIA DA IECLB

P. Dr. Walter Altmann
Pastor 1°. Vice-Presidente em exercício da IECLB 

1 — Saudação e acolhida, em nome da IECLB. 

2 — Temos uma história em comum, em nosso diálogo ecumênico, uma história pela qual damos graças a Deus. Oxalá essa história nos dê reservas espirituais e teológicas para enfrentar em amor e solidariedade novos desafios que parecem abalar profundamente as relações ecumênicas no mundo e, por conseguinte, também no Brasil. 

3 — Embora já seja bastante conhecida entre nós, recordamos um pouco dessa história. Esse recordar nos fortalece em nossa caminhada comum, assim como o povo de Israel e a Igreja cristã sempre solidificaram sua fé, esperança e amor, recordando os feitos de Deus, em seu meio e em seu favor. É a graça de Deus que nos move, graças a Deus, e não compromissos que tenhamos assumido por nossa própria razão autônoma. E a graça de Deus se faz valer, a despeito das falhas, limitações e pecados humanos, também presentes na Igreja, como a história infelizmente nos revela, sempre de novo. Nessa graça, que conjuntamente celebramos na declaração conjunta acerca da Justificação, seguimos confiando. 

4 — Nosso diálogo começou em tempo ainda pré-Vaticano II. Houve aqui mesmo, em São Leopoldo/RS, os primórdios do diálogo teológico entre estabelecimentos de formação teológica. Neles se forjaram um clima propício e as bases teológicas para uma relação de confiança que pôde posteriormente colher ricos frutos com a ampla abertura ecumênica ensejada pelo movimento ecumênico no mundo protestante e pelo Vaticano II, tão renovador. Posteriormente, foram se intensificando os contatos em função de causas comuns. Intensificou-se a cooperação prática como, por exemplo, no empenho pela criação do CONIC, na Pastoral da Terra, na questão indígena, na UBCB- União Cristã Brasileira de Comunicação. No engajamento por essas e outras causas concretas, ambas as Igrejas se aproximaram e se conheceram como parceiras solidárias. Assim, face aos clamores da sociedade brasileira e latino-americana, as experiências comuns fortaleceram os laços de confiança e de cooperação. 

5 — É claro que, simultaneamente, essa caminhada recebeu fortes impulsos pelo Concílio Vaticano II e pela releitura comum da Bíblia, ensejando um crescente intercâmbio teológico que, na área de publicações, se refletiu na abertura para co-edições e distribuição recíproca de literatura bíblica e teológica. 

6 — Pessoalmente lembro com alegria e gratidão a Comissão Nacional Católico-Luterana, em sua primeira fase, nos anos 70. Tive o privilégio de integrá-la junto com o Padre Jesús Hortal, o então padre, hoje bispo, Sinésio Bohn (posteriormente o Padre Bonifácio) e o Pastor Bertholdo Weber. Traduzimos e atualizamos para nosso contexto textos do diálogo católico-luterano internacional, como o fundamental Relatório de Malta, realizamos um amplo seminário ecumênico no Rio de Janeiro, com o apoio do Instituto de Pesquisa Ecumênica de Estrasburgo, França, publicamos o livro Desafio às Igrejas (Loyola/Sinodal) e realizamos uma série de seminários de pastores e sacerdotes. Uma pesquisa efetuada nas duas Igrejas, através de um questionário, nos levou a urna série de sugestões às duas Igrejas, entre as quais também se encontrava a sugestão de criar no Brasil um Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, para o qual se convidassem também outras Igrejas de nossas relações. Podemos abreviar a história aqui: ela deu bons frutos que redundaram na criação do CONIC o qual teve um ponto culminante de sua atuação com a celebração da Campanha da Fraternidade Ecumênica neste ano jubilar de 2000.

7 — Somos gratos por essa história. Ela foi essencial e facilitou muito a retomada dos diálogos oficiais, através da Comissão Mista Nacional Católico-Luterana, na última década (1996). O ensejo concreto dessa nova rodada de diálogos e seminários de estudo foi a solicitação de pareceres sobre a proposta de Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação elaborada pela Comissão Bilateral Internacional. Caiu como fruto maduro um primeiro seminário de estudos, com resultados convergentes sobre essa Declaração (novembro de 1996). Seguiu-se um segundo seminário (dezembro de 1998), sobre Hospitalidade Eucarística. A efetiva assinatura da Declaração Conjunta, em 31 de outubro de 1999, em Augsburgo, foi a culminância de décadas de esforços de diálogo e cooperação em nossas relações em nível mundial, processo no qual pudemos dar nossa modesta mas ainda assim significativa colaboração. Foi, sem dúvida, uma pedra (quem sabe uma pequena parede) nessa casa de fraternidade eclesial que queremos construir em comum. Essa assinatura foi essencial para fortalecer a base comum da fé que temos em nosso Senhor Jesus Cristo e, naturalmente, propicia a continuação tanto do diálogo teológico quanto da cooperação prática nas comunidades. 

8 — Não posso, porém, neste momento, deixar de mencionar com franqueza também as sombras, que precisamente nestes dias se levantarem fortemente sobre o movimento ecumênico. E peço que meus irmãos católicos compreendam minhas palavras como apelo de ajuda para um posicionamento que a IECLB provavelmente se sentirá chamada a formular nos próximos dias. (Entre parênteses digo que diversas vozes evangélicas têm solicitado também que o CLAI [Conselho Latino-Americano de Igrejas] se pronuncie; além disso, como não poderia deixar de ser, os meios de comunicação buscam, com alguma insistência, uma palavra da IECLB. Temos esperado para que nossa palavra seja mais serena e mais calcada nas experiências passadas pelas quais somos tão gratos, e menos na emoção do momento e na profunda decepção que a esteja movendo). Muitas Igrejas-irmãs já se pronunciaram, algumas de forma contundente. O Colégio Episcopal da Igreja Metodista do Brasil, por exemplo, se diz impelido a iniciar um processo de revisão das nossas relações oficiais com a Igreja Católica Romana. 

9 — Os irmãos sabem a que estou me referindo. Nem tanto à questão bastante debatida, nos últimos tempos, no interior de Igrejas evangélicas quanto ao alcance da promulgação de indulgências neste ano santo de 2000. Uma distinção serena saberá fazer a distinção entre o que foi o tráfico de indulgências, no século XVI, e a celebração penitencial de hoje, segundo a compreensão católica, ainda que não se deva esquecer a sensibilidade histórica no mundo protestante quanto ao termo indulgência. Tampouco me refiro à recente beatificação do Papa Pio IX, assunto também tendente a criar alguma tensão, sobretudo quando é percebido como sinal que reforça os demais. Refiro-me, sobretudo, às recentes declarações públicas do Cardeal Joseph Ratzinger e da Declaração Dominus Jesus que afirma a exclusividade da Igreja Católica Romana como Igreja de Jesus Cristo com tal contundência que não conseguimos perceber nela nada do espírito ecumênico o qual tem nutrido nossas relações ao longo destes anos, mesmo se formalmente se possa dizer que ela não altera na substância o que o Vaticano II formulou no tocante à Igreja e ao ecumenismo, contudo em bem outra ênfase e espírito. Praticamente nada encontramos nesse documento acerca da beleza do ecumenismo, do que nos une e das esperanças que temos para o futuro. Tudo parece auto-afirmação excludente. Sei que a agenda deste seminário já está estabelecida, e responde a uma trajetória comum. Ainda assim, gostaria de solicitar que, em sendo possível, este seminário pelo qual somos tão gratos, nos dê elementos que nos possam auxiliar na tomada de posição que, como IECLB, venhamos a efetuar. Ou então, quem sabe, venha a produzir uma manifestação conjunta das duas Igrejas acerca desse assunto. 

10 — Termino agradecendo a colaboração de todos irmãos e expressando a confiança de que o Senhor que até aqui nos conduziu tão ricamente, por seu Espírito nos conduza a um caminho a ser trilhado cada vez mais em comum, a despeito de nossas limitações e falhas, sempre pela força de seu Espírito, que nos move à fé, à esperança e ao amor. 

Muito obrigado.

Veja:

Os Ministérios

Palavra introdutória da Igreja Católica Romana - Dom Ivo Lorscheiter

Saudação da Presidência da IECLB - P. Dr. Walter Altmann

Teologia do Episcopado. Um ponto de vista católico - Pe. Alberto Antoniazzi

Algumas ideias sobre teologia do ministério. Especificidades luteranas na convergência ecumênica com a Igreja Católico-Romana - Luís H. Dreher

Declaração Final


 


Autor(a): Walter Altmann
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Os Ministérios / Editora: EDIPUCRS / Ano: 2002
Natureza do Texto: Artigo
ID: 20485
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