A tristeza de Anna

01/12/2011

A tristeza de Anna

Quando o esposo de Anna faleceu, e ela teve de viver totalmente só em sua casa, a TRISTEZA foi morar com ela. Ela veio sem tocar a campainha, sem bater à porta, sem pedir licença. A tristeza simplesmente foi se esgueirando pelo buraco da fechadura, e passou a acompanhar Anna em todos os seus passos. Sim, ela pretendia crescer e estabelecer-se forte dentro desta casa.

De início Anna até se alegrou, pois assim não estava mais totalmente só em sua casa. Mas, aos poucos as suas costas começaram a lhe doer, porque a TRISTEZA não lhe descia dos ombros durante o dia inteiro. Anna era obrigada a carregá-la por todos os cômodos da casa, e não mais conseguia livrar-se dela.

Não se faça tão pesada! — pediu Anna. A TRISTEZA se fez de ofendida e por um instante se recolheu num canto, emburrada. Mas quanto mais ela estava a sós com Anna, mais abusada ela foi ficando. Ela não descia mais dos ombros de Anna, e se metia em tudo. Ela não gostava quando Anna escovava seus dentes e penteava os cabelos. Para quem você se põe no longo caminho até o banheiro? Do mesmo não vem ninguém! disse-lhe a tristeza. Ela também xingava quando Anna regava as flores com água fresca. Quem é que dá alguma coisa a você?

Quando a campainha tocava, a TRISTEZA se espalhava no sofá de tal maneira, que mesmo uma pessoa magra como uma taquara não encontraria mais espaço nele. Se Anna, mesmo assim, ia até a porta, a TRISTEZA lhe cortava o caminho e lhe sussurrava no ouvido: Faz três dias que você não se lavou! Desse jeito você não pode receber ninguém!

Sim, agora a própria Anna o percebia. Ela até já sentia um cheiro forte e desagradável em si mesma, e assim ela não teve coragem de abrir a porta para ninguém. E, embora isto não fosse nenhum pouco do agrado da TRISTEZA, Anna tomou um banho, escovou os seus dentes e penteou o cabelo. Então ela foi até à porta, abriu e viu que não havia mais ninguém ali.

Quando, uma hora mais tarde, a campainha tocou de novo, a TRISTEZA empregou todas as forças para manter Anna no sofá! Não é na porta que a campainha está tocando; é só nos teus ouvidos! —foi o argumento dela para convencer Anna. Mas Anna ainda sabia identificar o que ouvia! E, embora a TRISTEZA a agarrasse pelas pernas e procurasse impedir os seus passos de qualquer maneira, Anna conseguiu ir até à porta. Ela a abriu, e diante dela estava a sua vizinha, com um buquê de flores. Meus parabéns, Anna! — ela disse. E só então Anna se deu conta de que aquele era o dia de seu aniversário.

A vizinha logo começou a conversar com ela sobre a TRISTEZA. E o fez como se ela também já tivesse recebido a visita da mesma. E enquanto as duas mulheres falavam sobre a TRISTEZA, esta foi ficando cada vez mais furiosa. Ela pulou -como um diabinho - do ombro de Anna sobre da vizinha, sapateando e gritando com voz esganiçada: Suas matracas fofoqueiras! Eu não suporto quando ficam falando mal de mim! Isso me deixa maluca!!

Mas as duas mulheres não lhe deram atenção. E quando a vizinha se despediu, Anna se sentia bem mais aliviada. E a TRISTEZA estava sentada num canto, com seu rosto desfigurado de raiva e ameaçava com seu pequeno punho cerrado: Anna, isto eu lhe digo, se você continuar desse jeito, eu vou-me embora daqui para sempre!

De Ditte Clemens,
publicado no Jornal O CAMINHO, agosto de 2011, suplemento em alemão, pág. 4, 
tradução de P. Dr. Osmar Zizemer 


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Autor(a): Ditte Clemens
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2012 / Editora: Editora Otto Kuhr / Ano: 2011
Natureza do Texto: Artigo
ID: 31878
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