Angolano faz Teologia no Brasil

01/12/2000

Angolano faz Teologia no Brasil

• Rui Bender •

A África tem uma teologia mais apocalíptica. O mundo não presta. Só depois desta vida vamos encontrar algo melhor. Aqui no Brasil aprendi que Jesus veio para transformar a nossa realidade agora. A palavra contextualização é muito importante na teologia luterana brasileira, observou Tomás Ndawanapo, um angolano que estudou teologia no Brasil durante quatro anos e meio. No meio do ano (2000), ele se formou e retornou a seu país para trabalhar no Instituto Bíblico da Igreja Evangélica Luterana de Angola (TELA).

Pescador e operário

Antes de vir estudar teologia no Brasil em 1996, este angolano teve uma trajetória no mínimo curiosa. Nascido em Shangalala (sul de Angola) no ano de 1961, Tomás tornou-se cristão apenas aos treze anos, quando se deixou batizar por opção própria. Aos dezoito anos, mudou para o litoral de Angola, onde trabalhou na indústria pesqueira. Abandonou a pesca e foi trabalhar como operador de máquinas na empresa Central Elétrica. Então teve que prestar serviço militar durante três anos. Depois de dar baixa no serviço militar, voltou à Central Elétrica.

Em 1985, Tomás casou com Isabel Navio Tchipa, formada em enfermagem. Deste casamento nasceram três filhos: as meninas Rodé e Emanuela e o caçula Afonso. Aliás, Isabel e os filhos acompanharam Tomás ao Brasil. Isabel aproveitou sua estadia em São Leopoldo (RS) para fazer um curso no Instituto de Música da Escola Superior de Teologia (EST).

Quando Tomás ainda vivia no litoral angolano, surgiu em 1986 a oportunidade de mudar para a região central do país para substituir um casal de finlandeses em Lubango. Tomás e Isabel assumiram a administração de uma casa que acolhia membros da [ELA que chegavam àquela cidade. Além disso, Tomás realizava ofícios religiosos para os luteranos de Lubango.

Formação teológica na África

Ali o casal permaneceu até 1989, quando Tomás se matriculou no Seminário Teológico Evangélico de Lubango, da Associação de Igrejas Evangélicas de Angola (AIEA). Estudou nesse seminário até 1991. No ano seguinte, por força da instabilidade política em Angola, voltou para sua região natal: uma província do sul. Ali então ingressou no Instituto Bíblico da IELA em Shangalala.

Este curso foi concluído por Tomás em 1993. No dia 13 de fevereiro de 1994, ele foi ordenado pastor. Foi designado para Lubango, com o objetivo de organizar e atender a comunidade luterana local. Naquela época, Tomás já sonhava em fazer um curso acadêmico de teologia no Brasil. Seu interesse para vir ao Brasil fora despertado alguns anos antes, quando conversara com estudantes de teologia brasileiros que atuavam em Angola. Sua igreja concordou, mas queria que ele se comprometesse a retornar a seu país logo depois.

Formação acadêmica no Brasil

Tudo se concretizou então em março de 1996. Apoiado financeiramente pela Missão Finlandesa, parceira forte da IELA, e pela Federação Luterana Mundial, Tomás e sua família viajaram para São Leopoldo (RS), onde ele iniciou seu curso de teologia. Quatro anos e quatro meses depois, em julho de 2000, ele estava se formando na Escola Superior de Teologia da IECLB. Findo o curso, Tomás e sua família regressaram a Angola, onde ele assumiu a atividade letiva no Instituto Bíblico em Shangalala, no qual já estudara no início dos anos noventa.

Tomás saiu do Brasil admitindo que a experiência de estudar na EST foi muito boa. Esta instituição tem um quadro de bons professores. Eu aprendi muito. Antes eu era mais espiritualista. Aqui aprendi a aproximar-me mais das necessidades das pessoas, reconheceu. Tomás retornou para Angola ciente de que terá muitos desafios pela frente. Há uma grande necessidade de formação e informação em meu país, afirmou.

Por isso ele quer dar sua contribuição para promover um sistema educacional que possa melhorar a situação das pessoas. Ele continua: Se nós conseguirmos educar as pessoas, vamos poder superar as dificuldades na sociedade e na igreja. Tomás entende que tem um dever de contribuir para com sua igreja e seu povo. Por isso jamais lhe passou pela cabeça ficar no Brasil após a conclusão de seu curso de teologia, embora isso lhe parecesse interessante.

IELA — uma igreja rural

Tomás revelou que a situação financeira de sua igreja, a IELA, é muito delicada. A IELA tem cerca de 20.000 membros e é uma igreja predominantemente rural. Seus membros contribuem com o dízimo, mas de uma forma espontânea. As comunidades não conseguem nem pagar seus pastores: são cerca de 35 obreiros. Embora a Missão Finlandesa ainda auxilie financeiramente a IELA, esta ajuda está diminuindo gradativamente.

Comparando a realidade eclesiástica angolana com a brasileira, Tomás observa que é muito difícil deparar na África com as diferenças teológicas existentes aqui no Brasil. Por isso ele se surpreende que diferentes correntes teológicas consigam conviver numa mesma igreja.


O autor é jornalista e integra a equipe editorial da Editora Sinodal, e reside em Novo Hamburgo, RS


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Autor(a): Rui Bender
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2001 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2000
Natureza do Texto: Artigo
ID: 32986
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