Hebreus 1.1-9

Auxílio homilético

25/12/1990

Prédica: Hebreus 1.1-9
Leituras: Isaías 52.7-10 e João 1.1-5 (6-8) 9-14
Autor: Augusto E. Kunert
Data Litúrgica: Natal
Data da Pregação: 25/12/1990
Proclamar Libertação - Volume: XVI
Tema: Natal

1. Introdução

Um assunto deu-me algum trabalho. Refiro-me à limitação dos versículos da perícope. Alguns exegetas afirmam que a perícope deve constituir-se dos versículos 1.1-4. Afirmam que neles temos um hino de louvor com caráter dogmático c que os demais versículos são o desdobramento da tese com exemplos práticos.

Outros novamente limitam a perícope em 1.1-6. Reconhecem que os vv. 1-4 formam uma tese dogmática. Opinam, porém, que a inclusão dos vv. 5 e 6 ajuda na melhor definição e compreensão da tese.

Outros exegetas dizem que o cap. l forma uma unidade entre tese e seu desdobramento. No mínimo, assim sugere esse grupo, deveríamos, no anúncio da perícope assumida, ler o capítulo todo com a comunidade.

Eu fiquei com dúvidas! Perguntei pela razão da Comissão Litúrgica definir a perícope em 1.1-9. Reconheci que a limitação em 1-4 ou 1-6 não esclareceria suficientemente o motivo do texto ser destinado para o Natal, pois há corrente teológica que prefere o texto para a pregação no dia da Ascensão.

A abrangência da visão global do texto que deixa o eterno entrar em nosso tem¬po e a elevação ao trono do Filho que tornou-se homem nos dão a entender que o acento está no Filho que veio para o que era seu, que veio tomar morada entre nós, que aqui na vivência terrestre fez a purificação dos pecados. Temos boa motivação para usar essa perícope como texto de Natal.

2. Exegese

Vv. 1-2 — Há concordância entre os exegetas consultados de que os vv. 1-4 são a temática do capítulo 1. Esse novamente orienta toda a Epístola aos Hebreus. O v. l ressalta o falar de Deus. Ele desdobra o falar de Deus em antigamente e nos últimos dias. Antigamente Deus falou aos pais pelo profetas. Nos últimos dias Deus falou a nós. Com o seu falar aos pais e seu falar a nós está evidente que Deus coloca em relação direta sua revelação aos pais e sua revelação no Filho Jesus Cristo. Deus se revelou no passado, então, interpretando 2 Pe 1.21, silenciou por algum tempo para revelar-se em definitivo em Jesus nos últimos dias. Com a vinda do Filho iniciaram os novos tempos. Entra o tempo final em nosso tempo. Entrou o eterno no tempo passageiro. No final dos tempos viveram o escritor e os membros da comunidade recebedora da carta. Vivemos também nós. Exatamente no final dos tempos o Filho entregou-se para trazer a purificação dos pecados (veja 9.26). Veja também l Pe 1.20: O qual, na verdade, já foi conhecido antes da do mundo, porém manifestado nestes últimos tempos por amor a nós. Compare também l Co 10.11: Todas estas coisas lhes sobrevieram em figuras, estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os finais dos tempos.

O escritor da carta, os membros da comunidade dos hebreus e nós nos dias de hoje, ou seja, nos últimos dias, somos os privilegiados recebedores da revelação de Deus em seu Filho Jesus Cristo. Antigamente Deus falou aos antepassados, através dos profetas. Agora fala a nós, a comunidade de Jesus Cristo. Jesus Cristo, ocupando a posição especial de Filho e sendo o Filho a pessoa através de quem Deus falou e fala, traz a revelação total e definitiva de Deus. Aconteceu o que nos é dito em João 1.18: Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, no-lo declarou.

V. 3 — O teólogo Henning Schroer afirma: O v. 3 contém valiosas peças de confissão cristológjca, as quais, quanto ao seu conteúdo, têm muita semelhança com as confissões cristológicas em Cl 1.15-20, Fp 2.9-11 e l Tm 3.16. O esquema ’tomai forma de servo/ser enaltecido’ é característico de todas. (P. 50.)

Há uma controvérsia entre Bornkamm e Käsemann quanto ao conceito sumo sacerdote. Enquanto que o primeiro o vê como contribuição teológica do escritor da Carta aos Hebreus, o segundo nega isto, dizendo que esse conceito já pertencia à tradição teológica da época como título existente no AT. A controvérsia dos dois pouco esclarece. O importante é o fato de que a identificação do Filho como sendo o sumo sacerdote vem a ser uma contribuição teológica valiosíssima. Traça uma linha do AT para o NT que se cumpre no Filho sumo sacerdote que fez por si mesmo a purificação dos nossos pecados. Assim se estabelece a ligação entre o passado e o presente (veja v. 1). O passado, na vinda do Filho, apontando os tem pôs finais, é futuro. E o futuro com a sua dimensão escatológica, com a presença de Jesus Cristo, já é presente (compare Henning Schroer, pp. 50 e 51).

A afirmação: Ele sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder significa que Jesus Cristo não deixa o mundo recair no caos.

A outra afirmação: e a expressa imagem de sua pessoa mostra a unidade do Pai e do Filho. Isto significa o mesmo que o Evangelho de João expressa com: Eu e o Pai somos um. Fica evidente que Hebreus quer dizer que o poder de Deus está presente no Filho que é igual a Deus. O poder de Deus está relacionado com o Antigo Testamento e se reflete agora no caminho do Filho. Sua obediência no caminho que culminou na cruz tem consequências redentoras para o mundo e para os homens. O mundo é libertado do seu gemido e os homens têm a purificação dos seus pecados. Isto nos alerta que o Filho de Deus e as criaturas (filhos) de Deus são interligadas e não são separáveis. O Filho veio para os filhos e os filhos dependem do Filho. A carta, em especial o v. 3, visa o caminho da obediência ao sofrimento de Jesus Cristo como abertura do acesso a Deus.

O v. 3 ressalta o relacionamento do Pai e do Filho. Entre eles há idoneidade, há unidade. O Pai vem no Filho. Ele fala pelo Filho.

O v. 3 aponta a purificação dos nossos pecados, portanto o caminho de sofri mento e de obediência do Filho. O caminho de Jesus no mundo culmina na cruz co¬mo obra de salvação do mundo. O versículo indica também a ascensão do Filho, o que representa a sua entronização como Senhor e coloca sua posição de superioridade em relação aos anjos. A sua superioridade aos anjos tem ainda, ao lado do título de Filho, purificação dos pecados, entronização como Senhor, a marca de herdei¬ro do universo. Nele e através dele foi feito o que se fez. O mesmo mundo feito por ele é governado por ele. Nenhum anjo tem posição semelhante. Os anjos são servido¬res, instrumentos e vasos nas mãos de Deus. Jesus, presente nos princípios dos tem¬pos, assentando-se à direita do Pai, é o eterno que entra em nosso tempo. Ele se di¬ferencia dos anjos e de nós, que somos novamente os seus herdeiros. Nascemos no tempo e somos, de um todo, dependentes da purificação trazida pelo Filho que se fez homem. O título Filho, dado a Jesus Cristo, é exclusivo e recebe no v. 3 a identificação de resplendor da sua glória; imagem da sua pessoa.

V. 4 — O teólogo Hermann Strathmann diz: O Filho se funde com o Pai como a luminosidade o faz com a fonte de luz. (P. 70.) O relacionamento entre Pai e Filho assinala a razão da íntima natureza de ambos. A luz não existe sem a fonte de luz e não há imagem sem o original. A inextinguível relação de vida entre ambos revela a Jesus Cristo como o Senhor e mantenedor do mundo. Ele sustenta o mundo pelo poder da sua palavra. Ela é tão poderosa como o foi quando Deus disse: Haja luz, e houve luz. (Gn 1.3.)

O v, 4 se refere, de maneira especial, ao relacionamento de Jesus com os anjos, declarando a intenção dos versículos iniciais: na morte e na ascensão Jesus ocu¬pa uma posição de superioridade ímpar em relação aos anjos.

Vv. 5-7 — Estes versículos, como de resto os demais do capítulo l, querem comprovar a tese dogmática dos vv. 1-4. No que diz respeito à comprovação, o teólogo Hermann Strathmann diz que o escritor usou termos comparativos da LXX. Existem, na sua opinião, diferenças entre os textos em hebraico e em grego; que o escritor usou pensadamente essas diferenças entre o AT (texto hebraico) e LXX (texto grego) como inspiração divina (p. 71). Sabemos que o AT é uma coletânea das manifestações de Deus na história de Israel. O sujeito é Deus. E quando Deus fala, ele o faz através de pessoas, sejam elas os poetas dos Salmos ou os profetas do AT. Essas pessoas, porém, são secundárias. Elas são instrumentos. Veja por exemplo Hb 4.7: Dizendo por Davi... O rei é simplesmente o vaso do Deus que fala.

Temos vários textos que apóiam as teses dos vv. 1-4. No v. 5 lemos: Tu és o meu Filho, hoje te gerei. Na tradição do AT encontramos o mesmo texto em Sl 2.7. A comunidade de Israel interpretou o Salmo 2 de maneira messiânica e a jovem comunidade cristã viu a profecia cumprida em Jesus Cristo.

Nesse particular há concordância entre as exegetas. A dúvida que levantam é dada com o significado, ou melhor, com o período do hoje. Uns determinam o hoje como sendo a ressurreição, outros fixam-no com a ascensão. Não faltam os que afirmam com argumento sólido que Jesus recebeu sua posição de Filho nem pela ressurreição, nem com a sua ascensão, nem com a sua qualificação de sumo sacerdote, antes a recebeu com o seu batismo, lembrando no contexto a semelhança com Lc 2.22 e Sl 2.7.

Tanto no v. 5 como no v. 6 temos os dizeres: e outra vez. No v. 5 o outra vez se refere à comparação com os anjos. No v. 6, porém, está ligado com a introdução do primogênito no mundo.


As dúvidas que existem em torno da época do outra vez geraram alguma controvérsia. Uns afirmam que se trata do nascimento, outros dizem que se refere A segunda vinda de Jesus Cristo. Hermann Strathmann pensa a respeito que nesta citação se trata da introdução do Filho no mundo, da vinda de Jesus no final dos tempos e não do nascimento de Jesus Cristo (p. 74). A posição dos anjos é bem diferente. Eles não estão, segundo a determinação de Deus, acima da criação, ao contrário, estão inseridos nela como parte dela e sujeitos às transformações inerentes a todas as forças em ação no mundo.

Vv. 8 e 9 — Os dois contrapõem à posição dos anjos a inegável e indeformável posição de Senhor que o Filho ocupa. Esses versículos têm citação no Salmo 45. O Salmo provocou muita discussão. O problema está no quem fala. Analisam se possíveis erros de tradução do hebraico para o grego da LXX e mesmo possíveis erros na transmissão do texto em hebraico. O escritor da Carta aos Hebreus, baseando-se preferencialmente no texto grego, usa deliberadamente a tradução controvertida do texto, o que lhe vem a ser de utilidade. No Salmo 45 quem fala é o poeta ou o cantor do salmo. Na Carta aos Hebreus, sem sombra de dúvida, é Deus quem fala. Ele se dirige a outrem como Deus. E quem poderia ser este outrem, senão o próprio Filho? Ao Filho o Pai garante o trono eterno; a ele ungiu para distingui-lo dos anjos. O Filho é o eterno Senhor do mundo e o seu cetro distingue-se pela justiça e pureza.

3. Meditação

1) A prédica acontece no Natal. Passou o dia conhecido como véspera de Natal. Nessa noite houve muita festa. As reuniões foram marcadas pelos presentes, cumprimentos e bons desejos, boa comida e bebida. Foi uma festa em família e entre amigos. Indústria e comércio estavam movimentados como sempre nesta época. Os meios de comunicação, como se anunciassem um grande progresso, informam que os negócios aumentaram em X por cento. A razão, o motivo, o sentido do Natal ficou encoberto como se uma neblina cobrisse os olhos e as pessoas comportaram se como cegadas pelas coisas externas.

2) Uns passam o Natal na alegria com as coisas externas, outros sofrem a mão fria da pobreza. Uns satisfeitos com a abundância e riqueza, outros tristes com a pobreza de sua vida, sem condições de, pelo menos no Natal, comprar um pouco mais do que o seu feijão e arroz. Mesmo diante deste quadro social chocante, pergunta-se entre os alegres, satisfeitos, solitários e tristes: o que aconteceu realmente no Natal? O texto nos responde: Deus falou. De que serve para mim o falar de Deus? Estou aí com as minhas dificuldades e angústia!

No entendimento de que o falar de Deus é algo do passado, encontro-me com estórias bonitas como o é a do menino nascido na estrebaria. Mesmo assim, escutando a estória como um falar de Deus no passado, sinto que a aflição de Maria e José por não encontrarem lugar em estalagem alguma provoca sentimentos de solidariedade. O nascimento do menino em lugar sem o mínimo de conforto para a parturiente mexe com a gente. Ainda mais, a atitude dos pastores, abandonando tudo para se dirigirem ao local de nascimento do menino, me provoca estranha sensação. Co mo se isso não bastasse, os anjos entoam: Glória a Deus nas maiores alturas. Sinto-me intranqüilo; será que tudo isso é somente passado?

É bom que leiamos a perícope Hebreus 1.1-9 com muito vagar, atenção e reflexão, que nos deixemos tirar as vendas e a neblina dos olhos para compreensão e entendimento. E vamos descobrir que Deus falou aos pais pelos profetas, .lá então anunciou nas profecias que virá o Messias. E o mesmo versículo da perícope nos diz que Deus voltou a falar a nós, e isto pelo seu Filho, o anunciado Messias. Então vamos sentir os acontecimentos do Natal não como estória bonita e comovente, mas como a mensagem de vida. E aqui está o centro dos acontecimentos: Deus falou a nós pelo Filho. Esta é, exatamente, a mensagem da vida. Deus falou tem o mesmo significado como Deus agiu. E o seu agir aconteceu aos pais pelos profetas de diversas maneiras. No centro estava o anúncio do Messias. O seu agir é uma ação contínua para revelar-se integralmente no falar pelo Filho. No seu falar pela palavra do poder a nós ele está presente, está entre nós. O falar de Deus no Natal é profundo e abrangente.

3) O texto explica tudo isso. Vamos senti-lo. Ele enumera conceitos dos mais profundos para o mundo e para as pessoas. Vejamos: Deus diz que o menino pobre da manjedoura é o seu Filho; que ao Filho fez herdeiro; que seu Filho é o resplendor da sua glória; que o Filho é a expressa imagem da sua pessoa; este Filho sustenta todas as coisas. E olhe bem, o verbo está no presente e não no passado. Jesus Cristo está sustentando todas as coisas. O Filho está em ação; ele está presente; sua ação acontece hoje.

E a nós que nos perdemos na caminhada da vida; que somos ambiciosos, insensíveis para a miséria humana; que cobiçamos a mulher e a propriedade alheias; que temos facilidade em enganar em defesa dos próprios interesses, Deus anuncia o acontecimento decisivo: o Filho, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à direita da majestade nas alturas.

Repito, é bom ouvir o texto e senti-lo em sua mensagem profunda e abrangente. E assim nos será dado compreender que o Filho está presente no poder da sua palavra. Ouvir, enxergar, sentir e assumir isso é receber a mensagem da salvação. O Natal torna-se vida e não permanece encoberto ou diminuído pelo barulho dos festejos, pelo martelar da propaganda de venda. A mensagem do Natal torna-se atual, presente e é, para mim pobre pecador, a mensagem da vida. Ela vem como nova esperança em meio à maior problemática que eu viva e às maiores dificuldades que tenha a sociedade brasileira.

4) Hebreus, entendido como carta de admoestação, ataca o cansaço, a indife¬rença e a confusão confessional na comunidade. A carta visa o avivamento da fé. É sua intenção motivar os membros para participarem da obra de Jesus Cristo. Ela lembra a herança de Jesus Cristo. O acesso à herança foi aberto pelo Filho, e nós temos a oportunidade de sair da prisão dos pecados e de entrar no avivamento da esperança. Somos feitos herdeiros da remissão dos pecados.

A epístola faz um ataque frontal contra os diversos cultos da época. A comu¬nidade dos hebreus confrontou-se com o gnosticismo e com cultos místicos. Hoje não dá outra. Estão aí os cultos afro-brasileiros, seitas e mais seitas, e não falta o espiritismo em suas variações. E a Carta aos Hebreus é uma grande ajuda na orientação da comunidade. A sua confissão é centralmente cristológica. Ela chama para uma fé viva e atuante no Cristo que veio para o que era seu e que entregou-se para a remissão dos nossos pecados para que tenhamos vida em abundância. A prédica deve apontar claramente que no Natal veio a nós aquele que recebeu o título máximo de Filho; que veio o que abriu o acesso ao Pai, dando-nos participação na herança; que veio aquele no qual devemos ser salvos e que tem o nome diante do qual devem-se dobrar todos os joelhos.

5) Acho que a prédica não deve alongar-se com o assunto dos anjos. Sugiro que o pregador coloque o assunto como tentativa daqueles que procuram diminuir a posição de Jesus Cristo, igualando-o aos anjos, declaram-no simples homem. E nesse particular a epístola é decisiva. Ela deixa claro que Jesus Cristo é homem verdadeiro e Deus verdadeiro; que o eterno entrou em nosso tempo no corpo humano; que Deus, vindo para o que era seu, o fez na estrutura da pessoa humana.

Jesus teve uma missão especial. Ele a teve como Filho de Deus. Nele Deus entrou em nosso tempo. Não permaneceu afastado e inacessível. Ele fala conosco pelo Filho. Nele Deus se comunica conosco e entra para o nosso convívio. E o Filho é homem verdadeiro e Deus verdadeiro com uma posição inigualável, que nada e ninguém pode superar.

A palavra profética é anunciada na promessa de que aquele que manda anunciá-la haverá de revelar-se a seu tempo. A palavra de Jesus hoje anunciada à comunidade tem sua cobertura naquele que falou e que hoje está entre nós em espírito e na verdade. Sem a presença do Filho a Palavra se perderia no tempo e no espaço. Na vinda do Filho a revelação de Deus recebeu nova qualidade. (Voigt, p. 54). Ele mesmo é a Palavra. Exatamente isto a mensagem de Natal nos quer transmitir: ele mora conosco. Ele entra em nossos lares; ele caminha conosco pelas mesmas ruas; assenta-se conosco à mesa; está conosco no mesmo barco, treme, chora e alegra-se como nós. Um homem verdadeiro, se assim não fosse, não estaríamos tão ligados com ele. E este homem é o Filho de Deus. O Criador entrou em sua criação e veio habitar em nosso meio. Isso quer dizer que Deus se fez homem. A diferença entre Criador e criatura foi superada no Filho. (Voigt, p. 57.)

6) É importante verificarmos que o texto diz que Deus falou a nós nestes últimos dias pelo seu Filho. E o falar de Deus nos atinge como participantes dos acontecimentos; nos integra nas ocorrências. Daí não se trata de uma estória que conta algo sobre um menino nascido numa manjedoura, mas Natal é a história do Filho de Deus com os homens. O falar de Deus não acontece no vazio, não ocorre à revelia da sociedade humana e dos homens. O seu falar tem o seu tempo, seu lugar e o seu endereço. Ele falou no Natal. Ele falou na manjedoura de Belém. E fala a nós no poder da sua palavra. Portanto, o seu falar se dirige ao homem no contexto de sua vida. Deus fala ao mundo que sofre, desde o gemido da natureza com a ecologia ameaçada pela devastação do homem caído, sem paz, sem justiça.

Nestes últimos dias Deus falou a nós. Quem fala é o Deus presente. É o mesmo Deus que hoje nos fala no poder da sua palavra. Isso me alerta que Deus está presente e ativo no hoje como o foi no ontem e o será no amanhã. Esta é mensagem de consolo. Ela me enche de esperança. Ela me dá nova possibilidade de vida em comunhão. Mesmo que me tenha perdido no emaranhado dos caminhos da vida, posso alegrar-me com o Deus comigo, com o Deus por mim, com o Deus que veio para a purificação dos nossos pecados. O falar de Deus nos anuncia: Vim em meu filho para junto de vocês e, por maior que sejam as dificuldades, a culpa, o medo e a aflição, saibam: entreguei-me a mim mesmo para a purificação dos pecados de vocês. E o nosso Deus fala também hoje conosco no poder da sua palavra, dizendo-nos que nos acompanha, que está conosco no futuro. Por mais sombrias que sejam as perspectivas, podemos viver na esperança e confiança no Deus conosco, no Deus que se revela em seu Filho. Por isso o Natal é festa da alegria — não provocada pelas coisas deste século, mas pela vinda do doador da nova vida — e os anjos, servidores de Deus, no júbilo do acontecimento do nascimento do Deus conosco, entoam o Glória a Deus nas maiores alturas.

4. Subsídios litúrgicos

Confissão dos pecados: Santo e eterno Deus, tu és o nosso Pai em Jesus Cristo! Não merecemos a graça e a fidelidade que tens para conosco. Não fomos nós que te amamos, mas tu nos amaste primeiro e enviaste o teu Filho como Salvador do mundo. Pedimos-te, em nome de Jesus Cristo: ajuda-nos e purifica-nos dos nossos pecados na fé em teu Filho, dando-nos a graça de sermos teus filhos pela riqueza da tua misericórdia. Tem piedade de nós, Senhor!

Coleta: Ó Deus da graça! A ti agradecemos pela mensagem de que o teu Filho veio a nós. Ajuda-nos a assumir com corações humildes o milagre do teu amor. Acor¬da em nós a gratidão como resposta ao amor que tens para conosco, para que te amemos e também as pessoas do nosso convívio. Abre-nos os corações para que na¬da desejemos mais ardentemente do que ter o teu Filho em nossos corações e na fé viva, e que na fidelidade da obediência nos tornemos herdeiros da graça de Jesus Cristo. Amém!

Oração final: Misericordioso Deus e Pai, que enviaste o teu Filho em nosso corpo humano para purificar-nos dos pecados pelo sofrimento e morte de cruz, dei¬xa-nos encontrar, como teus seguidores fiéis, força e alegria nos caminhos da vida. Ajuda-nos, Senhor, no caminho da vida na convicção de que tu, feito homem em Jesus Cristo, estás conosco no poder da tua palavra, que és o Deus conosco. Vem com a riqueza de teu amor aos pobres. Vem com a tua graça envolver os que se des¬viaram de ti. Vem e segura-nos com a tua misericórdia em nossa culpa. Liberta os corações em angústia. Faze com que a tua luz nasça sobre os enlutados e oprimidos, sobre os solitários e tristes. Sara, Senhor, as nossas feridas. Prepara-nos com a tua palavra para entoarmos, alegres e agradecidos, com o coro dos anjos o Glória a Deus nas maiores alturas. Amém!

5. Bibliografia

H. Schroer. Meditação sobre Hebreus 1.1-6. In: Göttinger Predigtmeditationen. Ano 62. Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1973.
H. Strathmann. Der Brief an die Hebräer. 5. ed. Göttingen, Vandenhoeck & Ru¬precht, 1949.
G. Voigt. Das heilige Volk. Berlin, Evangelische Verlagsanstalt, 1979.
G. Voigt. Die lebendigen Steine. Berlin, Evangelische Verlagsanstalt, 1983.
G. Eichholz. Herr, tue meine Lippen auf. Vol. 4. 5. ed. Wuppertal-Barmen, Emil Müller, 1965.
K. Arper & A. Zillessen. Evangelisches Kirchenbuch. Vol. 1. 7. ed. Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1940.

Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia
 


Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Natal
Perfil do Domingo: Dia de Natal
Testamento: Novo / Livro: Hebreus / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 9
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1990 / Volume: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 11404
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