Lucas 1.67-79

Auxílio Homilético

30/11/1980

Prédica: Lucas 1.67-79
Autor: Ivo Lichtenfels
Data Litúrgica: 1º Domingo de Advento
Data da Pregação: 30/11/1980
Proclamar Libertação - Volume: V


I – Texto

V. 67: E Zacarias, seu pai, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou, dizendo:

V. 68: Louvado seja o Senhor, o Deus de Israel; porque ele (procurou) visitou o seu povo e o redimiu

V. 69: e nos estabeleceu poderosa (plena) salvação na casa de Davi, seu servo,

V. 70: como ele falou pela boca dos seus santos profetas desde a antiguidade,

V. 71: (para) nos libertar dos nossos inimigos e da mão de todos que nos odeiam,

V. 72: (para) usar de misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança,

V. 73: do juramento, o qual ele jurou a Abraão, nosso pai, V. 74. de dar-nos, que sem medo, livres da mão dos inimigos,

V. 75: o sirvamos em santidade e justiça perante ele todos os dias.

V. 76: Tu, porém, criança (menino), serás chamado profeta do Altíssimo; porque precederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos,

V. 77: dando ao seu povo conhecimento da salvação no perdoar dos seus pecados,

V. 78: por causa da cordial misericórdia do nosso Deus, pelo qual nos visitará o sol nascente das alturas,

V. 79: para aparecer (alumiar) aos que estão na treva e na sombra da morte, para dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.


II – Contexto

O cântico de louvor de Zacarias (Lc 1.67-79) faz parte do complexo maior, formado por Lc 1.57-80 (o nascimento de João). Nos vv.57-66 nos é narrado que Isabel teve um filho. Vizinhos e parentes se alegraram. O menino foi circuncidado e, conseqüentemente, introduzido no povo de Deus, e recebeu o nome de João.

Em Lc 1.13, o nome é revelado somente a Zacarias, um velho sacerdote do templo de Jerusalém. De onde Isabel sabe o nome, permanece uma questão aberta. Em 1.20 podemos constatar que Zacarias ficou mudo. Zacarias permanece mudo até o nascimento do menino, porque não acreditava que um casal sem filhos e já bastante idoso ainda pudesse ter filhos. Finalmente, ainda é interessante constatar que, em 1.80, o menino desaparece por um tempo; ele está no deserto. Não se trata mais da criança saudada há pouco, em Lc 1.67-79; trata-se agora daquele que esta criança deve anunciar.

III — Considerações exegéticas

O cântico de louvor de Zacarias traz uma série de expres¬sões que se relacionam com o AT. É mais um hino de louvor ao messias Jesus do que um canto dirigido a João Batista.

V.67: Aqui, no ponto alto da narração sobre o nascimento de João, acontece uma inserção. A boca de Zacarias se abre (v. 64) e, em sua exaltação a Deus a seguir, ele se mostra cheio do Espírito de Deus e como profeta.

Vv.68-75: Esse cântico de louvor chama-se Benedictus. Na primeira parte desse hino (vv.68-75), constatamos os mesmos traços típicos de um hino escatológico como no Magnificat (Lc 1.46-55). Também aqui o futuro é relatado como presente. O povo, cuja salvação inicia, é o povo de Israel; isso, porém, não tira a hipótese de uma salvação universal. A salvação aparece como libertação política (vv.71 e 74). Esse cântico parece ser um salmo que fala, de modo geral, da ação de Deus através do envio do messias. Toda a necessidade e ansiedade de um povo tem fim porque Deus cumpre as promessas dos profetas. A necessidade externa é entendida, ao mesmo tempo, como necessidade de fé. Se, com a ação do messias cair a carga externa e interna de Israel, aí sim, Israel pode servir a Deus em santidade e justiça. O resultado de tudo isso será o reino de Deus, que é o alvo de tudo. Exatamente isso é o que Deus faz através do descendente, do rebento da casa de Davi.

Vv.76-79: A segunda parte do Benedictus é uma profecia sobre a tarefa para a qual Deus designou o menino João (Batista). João é chamado, no v.76r de profeta do Altíssimo. Mas, apesar do pleno poder concedido a Jesus (cap. 1.32), ele sempre estará a serviço de alguém maior (Deus). A ação de João é relacionada diretamente com a vinda do messias prometido. Somente o messias pode ser chamado de o sol nascente das alturas. Essa expressão quer mostrar a magnitude do filho de Deus. As expressões, no fim do cântico, ratificam essa afirmação: para alumiar aos que estão na treva e na sombra da morte, para dirigir os nossos pés pelo caminho da paz (v.79).

Aqui, como no cântico de Maria, tudo é subordinado à magnificência de Deus, prometida nesse descendente da casa de Davi. O povo entenderá a salvação através do seu agir: perdoando-lhes os pecados. O tempo de salvação iniciou, mas se desdobrará por completo quando o messias iniciar aberta e publicamente a sua obra.

IV – Meditação

Israel tem uma longa história cheia de lances emocionantes, cheia de sucessos e insucessos. Israel tem inimigos. Mas, uma coisa nunca mudou; muito pelo contrário, permaneceu através dos séculos: o pacto e a promessa de Deus. A história de Deus com o seu povo não foi fácil e não é fácil hoje. Olhemos para o mundo dos cristãos: quanta injustiça, quanta miséria, quanto distanciamento de Deus.

Mas, apesar de tudo isso, Deus nunca quebrou a sua promessa. Prometeu até que um dia viria aquele que os libertaria e redimiria. O povo esperou. E aqui, no nosso texto, Zacarias vê esse acontecimento decisivo tão de perto, que acha até mesmo que já aconteceu. Zacarias diz: Deus visitou o seu povo e o redimiu. O que para as outras pessoas ainda é futuro, para ele já é presente. Deus está no mundo com os homens. A salvação que ele vê é uma salvação plena e poderosa para todos e não só para alguns. As pessoas que tomarem conhecimento e aceitarem essa salvação servirão a Deus, sem medo, em santidade e justiça.

João Batista precederá a Jesus Cristo e preparará o seu caminho. Os homens, através dele, tomarão conhecimento de que Jesus Cristo trará a salvação. A salvação está contida no perdão dos pecados, na bondade e na graça de Deus para conosco; e João Batista chamará os homens ao arrependimento. Jesus Cristo vem para as pessoas que se encontram nas trevas e na sombra da morte. Para todos que sofrem. Jesus vem para colocar os nossos pés no caminho da paz. Um caminho é feito para ser trilhado; porque somente assim ele terá um sentido. É bom lembrar que também os pequenos caminhos da vida (lar, matrimónio, educação de filhos) são importantes. Essa é a mensagem e a promessa de Deus para o Advento, a partir da análise deste texto.

V - Sugestões para a prédica

1. No início da prédica, pode ser feita uma breve introdução ao cântico de louvor de Zacarias. Por exemplo: quem é Zacarias, a sua visão de que Isabel terá um filho, a falta de fé, sinal da mudez até o nascimento do menino, circuncisão, a questão do nome e, finalmente, o louvor profético de Zacarias, cheio do Espírito Santo.

2. Deus cumpriu a sua promessa, visitou, libertou e redimiu o seu povo e estabeleceu salvação plena e definitiva através de Jesus Cristo, segundo a proclamação dos profetas. Será que nós ainda confiamos nas promessas de Deus, em meio a um mundo tão atormentado? Podem seguir alguns exemplos. Se cremos e confiamos nas promessas, porque não o servimos, sem medo, em santidade e justiça?

3. A nossa salvação está contida no perdão dos pecados, na bondade e na graça de Deus para conosco.

4. Jesus Cristo - O sol nascente: que coisa maravilhosa e fantástica! O sol vem para trazer luz, ele vem sem grande barulho e fogos de artifício. O sol nasce manso, mas resplandece, é o astro rei, é vida.

5. Jesus Cristo não vem para os que sabem tudo, nem para os que possuem tudo. Jesus não vem para os dominadores e nem para os sãos. Jesus Cristo vem, graças a Deus, para os ignorados, preteridos, fracos, oprimidos e injustiçados; para os que estão nas trevas e na sombra da morte. Ele vem para dirigir os nossos pés pelo caminho da paz. Deixemo-nos dirigir!

6. Perguntemo-nos neste Advento: Vivemos a nossa vida em santidade, retidão e justiça perante o nosso próximo? Ou será que tememos arriscar, colocando em jogo a nossa imagem e reputação? O que vale mais? Estamos esperando esse Senhor, louvado e exaltado através de um cântico por Zacarias, ou estamos esperando por um senhor que diz sim às barbaridades deste mundo, das quais também somos cúmplices?

VI – Bibliografia

- CARDENAL, E. Das Evangelium der Bauern von Solentiname. Wuppertal, 1976.
- FEINE, P.,/ BEHM, J. / KÜMMEL, W. G. Einleitung in das Neue Testament. Heidelberg, 1969.
- GATTWINKEL, K. W. Meditação sobre Lucas 1.57-67. In: Homiletische Monatshefte. Caderno 7. 1979.
- RENGSTORF, K. H. Das Evangelium nach Lukas. In: Das Neue Testament Deutsch. Vol. 3. Göttingen. 1965.
- VOIGT, G. Der schmale Weg. Göttingen, 1978.


Autor(a): Ivo Lichtenfels
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 1º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 67 / Versículo Final: 79
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979 / Volume: 5
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17423
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