Lucas 21.5-19

Auxílio Homilético

19/11/1995

Prédica: Lucas 21.5-19
Leituras: Malaquias 4.1-2a e 2 Tessalonicenses 3.6-13
Autor: Teobaldo Witter
Data Litúrgica: Penúltimo Domingo do ano Eclesiástico
Data da Pregação:19/11/1995
Proclamar Libertação – Volume: XX

1. Introdução

Olhamos para a época em que vivemos. Estamos vivendo o penúltimo domingo do ano eclesiástico. Estamos próximo do fim do ano eclesiástico e também próximo do fim do ano civil. Especialmente nesta época somos confron¬tados com a pergunta pelo fim. Pelo nosso fim e pelo fim de tudo o que existe ao redor de nós e dentro de nós. O Advento não é nosso.

O Ano Novo também não é nosso. Para nós eles não existem. Eles são de Deus. E se Deus quiser, Ele nos dará outro Advento e outro Ano Novo. Somos, portanto, lembrados de que o nosso tempo aqui vai ter fim. Pensar no fim nos leva a pensar sobre a vida que levamos agora. A nossa vida não é um inocente e descompromissado passeio à Disneylândia. Ela é um jogo de implicações decisivas. Neste jogo a gente pode perder. No combate a esta peste infernal Jesus orienta: sejam perseverantes no testemunho (Lc 21.13,19).

2. Considerações exegéticas

Lucas 21 está em correlação com Mc 13, que lhe serve de fonte principal. A notícia a respeito da tragédia no templo, isto é, a sua demolição, causou impacto também nos discípulos. O impacto foi tão abrangente que eles achavam que isso seria o fim de tudo. O que está em discussão é uma questão apocalíptica. O autor procura atualizar esta questão na cultura e no momento em que vive a comunidade de Jesus Cristo.

O autor do Evangelho segundo Lucas foi uma pessoa de origem gentílica, cristã e de formação helenística. Quer testemunhar Jesus Cristo na cultura helenística pela exposição do nascimento, da vida, da pregação, da morte, da ressurreição e da ascensão dele e do começo da Igreja Apostólica (esta última parte o autor trabalha mais no livro de Atos). Jesus é o Salvador bondoso de toda a humanidade. Ama as pessoas em busca de cidadania. Define a sua missão como evangelizar os pobres, libertar os presos, restaurar a vista aos cegos, libertar os oprimidos e anunciar que chegou o tempo em que Deus salva o seu povo (Lc 4.18-19). Jesus acolhe as pessoas humildes e as que estão em conflito consigo mesmas.

A sua bondade e paciência querem conduzir as pessoas à fé e à confiança nele. É paciente e espera a volta dos seus (Lc 15.11-32). Vai ao encontro das pessoas e, por sua presença, seus gestos, sua fala, faz arder o coração e abre os olhos delas (Lc 24.31-32). E as faz suas testemunhas (Lc 24.48). As suas testemunhas são perseverantes e fidedignas. Isso é necessário porque a Igreja Apostólica tem um longo caminho a percorrer.

A época da redação de Lucas é em torno do ano de 90 d.C. Não sabemos com certeza qual o local do surgimento do Evangelho de Lucas. O próprio Evangelho não permite outra dedução do que a de que ele deve ter surgido em qualquer parte no âmbito do cristianismo helenista (Lohse, p. 163).

O contexto menor anterior de Lc 21.5-19 é Lc 21.1-4. Jesus faz uma observação a respeito da coleta no templo. As grandes quantias que os ricos dão são apenas alguma sobra que eles tinham. Uma viúva dá só duas moedas. Mas ela dá tudo o que tinha. E Jesus se comove com a atitude da viúva pobre.

O contexto posterior é Lc 21.20-24, onde Jesus fala do cerco a Jerusalém. E ainda dos sofrimentos do povo que estiver na cidade naqueles dias. E Jesus orienta os seus para não entrarem na cidade. Devem sair dela e ir aos montes. Afinal, a cidade será pisoteada por estrangeiros e haverá mortes e exílio.

3. Lucas 21.5-19

Vv 5-6: O templo é bonito e bem construído, admirado pelo povo por sua beleza. É uma verdadeira fortaleza. O templo faz de Jerusalém uma cidade ornamentada. A respeito dela se comenta no mundo inteiro. Deus morava ali dentro. O ofertório do pessoal era abundante. Tudo em paz. Tudo tranquilo. Tudo seguro. Assim pensavam as pessoas. E aí Jesus anuncia o fim: Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra que não seja demolida.

V. 7: Também os discípulos achavam que a tragédia do templo estaria ligada ao fim do mundo. E querem saber qual será o sinal deste fim.

Vv. 8-9: Jesus não responde à pergunta pela época e pelos sinais do fim. Mas chama à sobriedade. Mesmo nas catástrofes devem permanecer sóbrios, autocríticos e corajosos. Afinal, para Deus nada se perde. Devem combater o fanatismo que vê em tudo o sinal do fim.

Jesus orienta os seus discípulos quanto ao possível engano. Épocas de crise são propícias para a atuação de fanáticos que querem enganar, autoproclamando-se messias. Por isso é necessária a análise corajosa e crítica.

Na década de 40 d.C. Calígula tentou romanizar o templo com a introdução da estátua do imperador. Isso provocou uma revolta em Jerusalém. Aí apareceram dois (Teudas e depois Judas, o Galileu) e se autoproclamaram messias (At 5.36-37). Foram mortos pelos romanos e seus seguidores se dispersaram. Ninguém mais os seguia.

Os discípulos devem permanecer fiéis. O seu Senhor partiu para uma terra distante (Lc 19.12). Ele pode demorar para voltar. Não podem seguir estes fanáticos. Esperam pelo Senhor que pode demorar, mas que vem com certeza.

Vv. 10-11: Jesus recomeça seu pronunciamento. Fala em sinais. Tudo o que dá segurança será afetado. Até os corpos celestes serão abalados. Tudo aquilo em que as pessoas colocam a sua esperança terá fim. Um verdadeiro caos. A situação caótica nos lembra do abismo (Gn 1.1-2).

V. 12: Antes do caos, isto é, antes dos sinais do fim, a Igreja de Jesus Cristo dará testemunho de sua fé, esperança e amor. Por causa do nome do seu Senhor os seus serão levados à prisão, à sinagoga, à presença de reis e governadores. Especialmente os piedosos estão empenhados na perseguição aos cristãos.

Vv. 13-15:0 que para o mundo ao redor é um fracasso se torna uma grande bênção para a Igreja de Jesus Cristo. Deus abre as portas para o testemunho. No processo, a Igreja dá testemunho da razão do seu ser e viver. Não é a Igreja perseguida que silencia, mas são os seus opositores que silenciam. Eles ouvem o que nunca ouviram (Is 52.15). Mas não é a Igreja que fala por conta própria. É Jesus quem diz: eu lhes darei boca e sabedoria.

Vv. 16-17: Em oposição ao modo de produção escravagista que destruiu a família, a tribo, Jesus cria a nova família. E a nova família são os/as que seguem a vontade de Deus Pai-Mãe. Jesus diz que a sua família são as pessoas que ouvem a palavra de Deus e a praticam (Lc 8.21).

Parentes e amigos/as podem arrastar os de Jesus aos tribunais. Algumas pessoas fanáticas poderão persegui-los até a morte. Pessoas cristãs poderão ser objeto de ódio. Assim escreve o historiador romano Tácito: cristãos tornaram-se objeto do ódio do género humano (Stöger, p. 192). As pessoas cristãs são rejeitadas, porque o pessoal rejeita o evangelho de Jesus Cristo.

Vv. 18-19: O povo cristão vive da certeza de que para Deus nada se perde. Mesmo nas situações de grandes dificuldades, Deus tem o controle da situação. As coisas não escapam das mãos de Deus, porque Ele tem o poder criador. A ressurreição é o sinal claro e evidente do poder criador de Deus. O que Ele criou permanece guardado em sua memória. Nem mesmo a morte poderá tirá-lo de lá.

É necessário que a Igreja (o povo cristão) seja perseverante. Perseverante no testemunho de Jesus Cristo, o Senhor. Assim, aquele dia (v. 10) não virá como um laço sobre o povo cristão (Lc 21.34). Neste contexto, a pergunta pelos sinais do fim perde o seu sentido.

4. Malaquias 4.1-2a

A soberba e quem a promove não têm futuro. Seu fim já está anunciado. A perversidade será eliminada.

A soberba fecha os olhos. Tapa os ouvidos. Endurece o coração. As pessoas soberbas pisam nas outras e fazem de sua própria cabeça o seu deus. Não têm futuro.

As pessoas perversas não assumem o mal que fazem. Não se arrependem de suas injustiças. Podem ter cara de gente boa e piedosa, mas desfazem o povo cristão e o seu testemunho. Assim, elas não têm lugar no reino de Deus.

As pessoas que confiam em Deus, o amam e amam as pessoas necessitadas como a si mesmas, estas verão a justiça. A justiça, isto é, a salvação será sua realidade.

5. 2 Tessalonicenses 3.6-13

Parece que em Tessalônica havia gente que não se preocupava em trabalhar para ter o seu sustento. Elas achavam que não valia a pena trabalhar, porque Jesus Cristo voltaria logo e as levaria para o céu. Viviam no entusiasmo, sem compromisso, achando que o dia do Senhor já havia chegado (2 Ts 2.2). Elas estão sendo exortadas a se empenharem no trabalho e no compromisso de fé engajada no mundo. Foram, assim, puxadas para dentro do mundo onde Deus as quer trabalhando pelo seu reino. E a Igreja deve ser vigilante no exercício da disciplina fraternal e incansável na prática do bem.

6. Pistas para a pregação

1. As coisas grandes e reluzentes seduzem. Enchem as pessoas de orgulho. Nelas se sentem em segurança. Geralmente ocorre que quem constrói uma grande obra é temido e amado como um deus.

Tragédias podem levar as pessoas à loucura. Perdem a sobriedade. Tornam-se fanáticas. Vão pelo caminho da especulação. Enganam a si e enganam outras pessoas.

Grandes obras e grandes tragédias podem afastar as pessoas de Deus e do amor aos/às outros/as. Quem nelas confia e as teme acima de Deus criador não tem esperança. Sua esperança passa como elas também passam.

2. Na Comunidade as pessoas vivem em comunhão com Jesus Cristo. Em seu nome fazem todo o trabalho. Em seu nome se acolhem, se perdoam, se animam mutuamente e se exortam. Na Comunidade seus olhos são abertos, seus ouvidos destapados, seu coração arde pela Palavra e se sacrificam pela mesma. Na Comunidade são treinadas por Jesus Cristo para não se deixar seduzir ou enganar por obras reluzentes ou por grandes tragédias.

Seu amor a Jesus e às pessoas necessitadas pode levá-las a perder o emprego. Seu engajamento na Comunidade pode trazer dificuldades no relacionamento com as pessoas ao seu redor. Apesar de tudo, elas estão bem, porque têm um Senhor que já as defendeu. Por elas foi morto na cruz. Em favor delas ressuscitou. Pelo Batismo e pela Ceia do Senhor elas têm parte na vida dele. Agora, alegre, espontânea e engajadamente o servem nas pessoas necessitadas. E o testemunham em todas as situações, quer na vida, quer na morte.

3. As pessoas cristãs não perdem tempo com especulações sobre os sinais do fim. Elas não têm necessidade disto, porque' em Jesus Cristo já têm tudo. Em relação ao fim, são perseverantes. Em Jesus o reino de Deus já começou (Lc 17.21). Elas trabalham já agora para esse Reino.

Elas são levadas até mesmo ao Tribunal de Justiça, às pessoas do Poder Executivo e Legislativo e às prisões por causa de sua fé (perguntar à Comunidade atual quem já foi a esses locais por causa de sua fé em Deus?). Ali se ouvirá Jesus falando pela boca das testemunhas. O que fazem as testemunhas? a) Falam de sua obediência a Deus (At 4.19). b) Ensinam e fazem discípulos para Jesus (Mt 28.19). c) Pregam o arrependimento, isto é, mudança de rumo na vida (At 2.38). d) Perdoam pecados (Jo 20.23a). e) Retêm pecados (Jo 20.23b). Assumem o sacrifício na sustentação da Comunidade. Assim são colocadas no caminho de Jesus Cristo e na linha dos apóstolos.

As pessoas cristãs não são fanáticas. Elas são perseverantes. Assim estarão de pé na volta do Senhor (Lc 21.36). E a volta do Senhor em definitivo será para elas motivo de muita alegria e não terão medo.

4. As pessoas cristãs ajudarão outras a ter sentido na vida e a chegar à salvação. Elas mesmas querem ver e viver sob o sol da justiça (Ml 4.2a). Na vida e na morte confiam em Deus. Sabem que para Ele nada se perde. O que querem é estar perto de Deus e de seu povo. Assim estarão livres para amar. Perseverantes e tranquilas, ensinam a amar, em nome do Senhor do amor.

7. Bibliografia

LOHSE, Eduard. Introdução ao Novo Testamento. São Leopoldo, Sinodal, s. d. p. 154-163.
STÖGER, Alois. O Evangelho segundo Lucas; Segunda Parte; Vol. 3/2. Petrópolis, Vozes, 1974. p. 184-193.


Autor(a): Teobaldo Witter
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 21 / Versículo Inicial: 5 / Versículo Final: 19
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1994 / Volume: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17748
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