Judas - Traidor ou Santo?

01/12/2011

Judas - Traidor ou Santo?

P. em. Heimberto Kunkel

Judas Iscariotes, um dos 12 discípulos de Jesus — um vulto, um enigma — que ocupa a cristandade e os pesquisadores desde os dias de Jesus até os dias de hoje.

Em 2006, poucos dias antes da Páscoa, a revista National Geographic publicou em Washington DC (USA) um documento milenar sensacional sob o título: O Evangelho de Judas. A seguir, a TV National Geographic Chanel transmitiu um programa a respeito em 163 países e em 27 idiomas. Sábios e pesquisadores não param, desde então, de estudar os fragmentos do dito Evangelho que foram descobertos no Egito e que hoje estão expostos no museu Fondation Martin Bodmer, em Genebra/Suíça.

Judas! Quem era este homem?

Estão em curso três teorias: Judas era: a) um discípulo como os demais; b) um traidor; c) o amigo mais íntimo de Jesus, portanto, um Santo!

Traidor ou Santo? Judas divide as opiniões

No círculo dos 12 discípulos, somente a poucos é atribuído um papel importante. Judas, como contam os Evangelhos, era o 'tesoureiro' — um cargo significativo. Mas seu 'sobrenome' Iscariotes revela mais: Iscariotes significa: Homem da cidade (obviamente de Jerusalém). Ele conhecia este local. Tinha, pois, contato com pessoas que lidavam com dinheiro, que tinham influência política, religiosa e social. Sabia, portanto, quais eram os adversários mais ferrenhos de Jesus.

Escrevia-se o ano 30. Os Romanos há muito tempo haviam conquistado a Terra Santa e exerciam seu poder brutal sobre a mesma. A ocupação era terrível. Por isso, focos de revolta por parte dos judeus surgiram aqui e acolá. Mas em vão! Parecia que Deus havia dado as costas ao seu povo. Nesta situação desesperadora, pregadores peregrinos perambulavam pelo país. Alguns atiçavam para a revolta, outros pregavam arrependimento e conversão. Um deles era Jesus de Nazaré. Já há três anos atuava publicamente. Um grupo de seguidores se aglomerou em torno dele.

Num dado momento, os 12 discípulos se dirigem a Jerusalém. Cautelosamente eles seguem seu caminho. Pernoitam na casa de amigos ou então em esconderijos seguros. Pois desde seu último discurso em Jerusalém, Jesus está sendo taxado como blasfemador e agitador religioso. Por isso, muitos dos seus seguidores o abandonam.

Esta viagem a Jerusalém é perigosíssima... Não só para Jesus, mas para todos os seus adeptos. Todos os discípulos o sabem. E Judas Iscariotes desempenharia nesta ocasião um papel importante. O destino do grupo de Jesus tomaria um novo rumo, a partir desta semana em abril do ano 30.

O templo de Jerusalém. Lá, no supremo santuário, está sendo guardada a lei de Moisés gravada em lajes. O templo é o centro religioso do antigo judaísmo. Lugar, em que Jesus de Nazaré viria viver seus últimos dias... Relembremos alguns episódios destas horas:

Judas já se encontra no pátio do templo. Ele procura falar com os servidores do sumo-sacerdote Caifás. Falar sobre quê? Ele faz isso por iniciativa própria? Ou alguém o encarregou para tal? É cobiça? É o dinheiro que ganharia pela entrega de Jesus? O que se esconde por trás destas 30 moedas de prata que recebe pela traição?

O dinheiro que Judas recebe, é a moeda do templo. Cada uma tem um código que obedece a Gematria (lei secreta dos sacerdotes judeus, que dá a cada letra do alfabeto hebreu um valor especial). Judas se escreve em hebraico: JEHUDA. Como cada letra deste nome responde por um valor, aparece, no final, o número 30. Segundo a Gematria, Judas significa 30. Justamente por esta razão, Judas recebe 30 moedas para trair Jesus.

Outra teoria sobre as trinta moedas é extraída do Antigo Testamento: No livro do profeta Zacarias há uma passagem que diz: Me ofereceram 30 moedas.... Em outras palavras: Uma soma ridícula, oferecida pelas autoridades de Jerusalém em tempos idos, ao profeta por seus serviços. O autor do Evangelho de Mateus se serve deste antigo versículo para sublinhar que Jesus foi vendido por uma bagatela. Analisando estas colocações, chega-se à conclusão que é a cobiça que motiva Judas a trair Jesus...

Jerusalém... Desde sempre um ponto que atrai peregrinos. Na semana da celebração do Pessah, milhares de fiéis chegam à 'fonte da cidade' para buscar água. A confusão é sempre enorme, em nossos dias, como no ano 30. Dois dos discípulos de Jesus buscam a água e se dirigem ao local, onde Jesus celebraria sua última ceia com seus seguidores. Neste local, Jesus iria indicar seu traidor. A cerimônia esta preparada. Segundo a tradição do Pessah, a mesa colocada em forma da letra U. Na frente, ao lado esquerdo, estão reservados os lugares de honra. Jesus ocupa um deles, ao seu lado, Judas toma assento. Ele e Jesus usam a mesmo prato, onde está servido o pão. Os dois põem a mão no prato ao mesmo tempo... De repente, Judas se levanta e abandona a ceia. Nenhum dos demais discípulos protesta. Por quê? Parece estarem de acordo com o que vai acontecer...

Judas cumpre aquilo que nenhum outro discípulo quis fazer... Ele se vai para entregar Jesus! Executa aquilo que deve ser feito, a fim de que o drama da salvação (!?) tenha continuidade.

A ceia termina. Os discípulos e Jesus deixam a cidade e buscam o local para o pernoite: O Jardim das Oliveiras, mais conhecido por Getsêmani.

Acontecimentos em Getsêmani: Jesus havia escolhido este local de propósito. Ali deveria acontecer sua prisão. Pois a partir do monte das Oliveiras, escreve o profeta Zacarias, o SENHOR (Deus) iniciará sua luta contra os pagãos de Jerusalém. Jesus inicia este combate, à sua maneira...

É quinta-feira, 06 de abril do ano 30. Judas guia os carrascos do Sumo sacerdote diretamente ao Pé do Monte das Oliveiras (Getsêmani). Uma terceira Versão

Jesus havia previsto sua prisão, e está preparado a aceitar seu destino.

Judas dá um sinal aos homens de Caifás. O acampamento dos discípulos é cercado. Não há mais saída nenhuma.

Os discípulos não reagem. Por quê? Sua conduta é enigmática. Somente Simão Pedro desespera e avança com sua espada contra um dos soldados de Caifás...

Judas identifica Jesus mediante um beijo (na tradição cristã: o beijo da traição). Jesus é algemado e preso: o começo de uma história de martírio, que terminará dentro de 40 horas com a sua morte na cruz. É assim o fim de Jesus, descrito pelos Evangelhos do Novo Testamento.

Mas existem também outras versões, não bíblicas, que sugerem interpretações diferentes: Judas teria agido não por cobiça, mas como rebelde e defensor da liberdade contra o Império Romano!? É noite. Em Getsêmani, Judas surge como libertador. Pessah, não é esta a festa máxima da libertação do povo hebreu (do cativeiro egípcio, em tempos idos)? Não é o momento oportuno para uma revolta contra os dominadores romanos? E Pedro? Por que não avança contra Judas com sua espada — para eliminar o suposto traidor? Não, ele ataca um soldado do Sumo Sacerdote, um soldado inimigo. Sinal de um complô de Jesus e seus seguidores contra os que dominam seu país?

A revolta termina sem sucesso. Pedro também é preso e Judas não consegue desencadear uma insurreição contra os imperialistas romanos.

Uma terceira Versão

Judas retorna ao templo. Quer devolver as 30 moedas. Por quê? Ele se arrependeu? Ou quer evidenciar que não agiu por cobiça? Os Sacerdotes recusam a devolução. Judas lança o dinheiro ao chão. Mas isto não lhe alivia a consciência. Ele sente que é traidor. É por isso que se enforca? Não o sabemos. Fato é que a figura de Judas não aparece mais após o suposto suicídio. Depois da Páscoa, seu nome não pertence mais ao grupo de 'cristãos'. O mistério em torno de sua pessoa, no entanto, persiste.

Em certos círculos de teólogos católicos e cientistas reina o parecer: Judas Iscariotes era uma criatura de Deus. Como ninguém outro dos 12 discípulos se manteve fiel a Jesus. Quando viu que a traição fora um erro, matou-se. Tal conduta merece todo nosso respeito e, ao mesmo tempo, cabe-nos confessar que durante milênios fomos injustos, pecamos contra ele, condenando-o como traidor. Devemos admitir nossa culpa e devemos colocá-lo na fileira daqueles que merecem uma bênção especial de Deus, isto é, declará-lo santo!

Judas Iscariotes — santo ou traidor? A pergunta continua aberta, se bem que o mundo cristão já deu sua sentença há muito tempo: Traidor!?

O autor é Pastor emérito da IECLB, que atuou por muitos anos em intercâmbio na Alemanha
 e representou a IECLB junto a órgãos de igreja no exterior. 
Atualmente reside com sua família na Suíça


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Autor(a): Heimberto Kunkel
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2012 / Editora: Editora Otto Kuhr / Ano: 2011
Natureza do Texto: Artigo
ID: 31872
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Hoje, tenho muito a fazer, portanto, hoje, vou precisar orar muito.
Martim Lutero
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