Os excluídos de Böhlen em Schwarzburg

01/12/2011

Os excluídos de Böhlen em Schwarzburg

P. em. Nelso Weingärtner

Em meados do século 19 toda a Europa mergulhou numa profunda crise. Era o início da industrialização. Milhares de pessoas procuravam emprego na indústria nascente. Eles não conseguiam mais sobreviver com os métodos de trabalho herdados dos pais, e a indústria não conseguia absorver as massas que procuravam trabalho.

A miséria era grande e nesse tempo aconteceram as primeiras revoluções socialistas. A Alemanha ainda estava dividida em dezenas de reinos, principados, condados, e cidades independentes.

No leste da Alemanha, hoje Turíngia, existia um pequeno principado chamado Schwarzburg, cuja capital era Rudolstadt. Nesse principado ficava a pequena cidade de Böhlen, que vivia principalmente de pequenas tecelagens manuais. Quando surgiu a indústria com seus grandes teares, eles perderam seu ganha pão porque não podiam concorrer. A pobreza crescia e quanto mais pobres eles se tornavam mais filhos eles geravam. Também a violência crescia e tornava-se insuportável.

Por isso o governo tomou uma decisão radical: Em 08 de março de 1852, 155 pessoas foram deportadas de Böhlen em carroças e carros de boi até o porto de Hamburgo na Alemanha. Lá eles foram embarcados em três navios veleiros rumo ao Brasil. O principado de Schwarzburg arcou com os custos de transporte até o Brasil, onde eles encontrariam trabalho em grandes plantações de café. Foi o meio usado pelo governo do principado e pela administração de Böhlen para se livrar das camadas mais pobres da população, e também de elementos indesejáveis. (Essas 155 pessoas representavam mais de 12% da população de Böhlen).

No Rio de Janeiro estes deportados foram levados para três fazendas de café: Santa Justa, Santa Rosa e Independência. Lá eles estavam totalmente à mercê dos administradores das fazendas. Ao lado de escravos negros e outros imigrantes, eles plantavam e colhiam café. Tudo que precisavam para montar suas modestas casas e para se alimentar, eles precisavam adquirir na fazenda por conta e suas dívidas cresciam mês após mês e ano após ano. No decorrer dos anos seu nível de vida ficou igual ou abaixo do nível dos escravos negros. Eles não recebiam nenhuma assistência espiritual, e seus filhos nunca viram uma escola. Desses excluídos também fez parte o meu bisavô, Gustav Werlich, que veio com seus tios aos 13 anos de idade.

No início da década de 1860 o Embaixador da Suíça, Johann Jacob von Tschudi, que era amigo pessoal da Imperador D. Pedro II, visitou, a convite de nosso Imperador, em navio de guerra brasileiro, colônias alemãs e suíças em todo o Brasil. Ele descobriu a triste sorte destes imigrantes nas plantações de café. Não só nas três fazendas acima citadas, mas também em muitas outras. Por sua intervenção os excluídos de Böhlen, que eram todos luteranos, foram libertados do esta do de semi-escravidão e enviados para a Colônia de Santa Isabel/SC no ano de 1860.

De Santa Isabel eles foram levados, por picadas, para um rústico rancho de imigrantes, que fora construído três quilômetros mato a dentro. Lá foram medidas colônias em três linhas de colonização: 2' Linha, 3' Linha e 4' Linha. Cada família recebeu seu lote de terras e nele se instalou. O início foi muito difícil. Não havia escola, nem igreja, nem qualquer outra assistência. Como eles não estavam acostumados a derrubar as gigantescas árvores da mata virgem, muitos morreram esmagados pelas mesmas. Outros morreram em consequência da picada de cobras. Também houve epidemias de varíola e cólera, que mataram muitos. Para participar de cultos em Santa Isabel muitos tinham de caminhar, por picadas pantanosas, durante 4 — 5 horas.

Segundo levantamentos feitos nos registros eclesiásticos de Santa Isabel: entre 1860 —1870 se estabeleceram 46 famílias naturais de Biihlen nas novas linhas de colonização. Essas 46 famílias eram: Baiersdorf (2), Bourdot (4), Bratfisch (2), Bruch (2), Ebert (1), Eger (4), Erhardt (2), Henkel (1), Hinkel (1), Lutz (2), Männchen (3), Metzger (1), Möller (1), Mönchen (1), Raucher (2), Schneider (2), Seidler (2), Sperber (2), Truppel (3), Ullmann (1), Wenzel (3) e Werlich (4). Até hoje seus descendentes são conhecidos como Kaffeepflücker = colhedores de café.

Como quase todas as famílias tinham muitos filhos eles foram ocupando espaços na região da Serra do Mar e em boa parte do Alto Vale do Itajaí. Na fotografia abaixo, apresentamos uma tradicional família dos Kaffeepflügger, os 14 filhos de Peter Eger e Helga (nascida Schiestel) Eger:

Os descendentes dos Kaffeepflücker hoje estão presentes em grande número na região que abrange 12 paróquias do Sínodo Centro Sul Catarinense: Santa Isabel, Rancho Queimado, Angelina, Taquaras, Alfredo Wagner, Leoberto Leal, Imbuia, Petrolândia, Rio Antinhas, Ituporanga, Agrolândia e Braço do Trombudo.

Também encontrei descendentes dos excluídos de Böhlen espalhados em muitos outros lugares de Santa Catarina, do Paraná e da Rondônia e ao longo da Transamazônica no Pará.

O autor é Pastor emérito da IECLB, pesquisador da história de nossas Comunidades e reside em Timbó/SC


Voltar para índice Anuário Evangélico 2012

 


Autor(a): Nelso Weingärtner
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2012 / Editora: Editora Otto Kuhr / Ano: 2011
Natureza do Texto: Artigo
ID: 31875
REDE DE RECURSOS
+
Essa esperança não nos deixa decepcionados, pois Deus derramou o seu amor no nosso coração, por meio do Espírito Santo, que Ele nos deu.
Romanos 5.5
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br