Sonhos de uma criança

01/12/2000

Sonhos de uma criança

• Eliséte Schönardie •

Era uma vez...

Começando desse jeito, espera-se que muito encanto, magia e fantasia acompanhem a história que vai ser contada. De certa forma, acredito que isso vá

acontecer, embora o que vou narrar não envolva ficção... O fato é bem verdadeiro!

Quais são os sonhos de toda criança? Que cada criança responda agora pelos seus próprios sonhos...

Pois... Era uma vez uma criança, talvez igual a todas as outras, mas também um pouco diferente. E é ainda essa criança... Ela não possui uma família como muitas das que conheço. Vive numa instituição, junto de várias outras meninas com quem divide os seus dias. Frequenta uma escola, mas em uma classe especial, o que, acredito, seja o nome que mais combine com ela. Ela é especial como são todas as crianças, porque sonham e acreditam em seus sonhos, embora, assim seja chamada, porque não consegue aprender. Ela não lê nem escreve o seu próprio nome.

Essa criança é uma menina. Idade? Onze anos, no entanto não vive com a mesma sorte de muitas crianças com a mesma idade. Por quê? Porque, quando era ainda um bebê, sofreu uma doença chamada paralisia, que lhe deixou alguns problemas. Ela anda e corre, mas não com a mesma agilidade de uma criança com pernas e braços perfeitos.

Ela sorri, até dá gargalhadas, mas não com a intensidade daqueles que vivem em um mundo cor-de-rosa. Ela se enfurece com facilidade, e sua fúria é consequência de tudo aquilo que lhe tem sido negado pela vida. É uma criança triste e amargurada e, mesmo assim, sonha.

Com o que ela sonha? Talvez sonhe com brinquedos bonitos, com doces saborosos, com passeios alegres, com amigos verdadeiros, com uma família que esteja sempre a seu lado... Mas quem não sonha com tudo isso? Não, o sonho dessa criança é ter, vejam só, uma casa. Uma casa?! Mas não é normal que todos tenham uma casa? Deveria ser, mas essa menina não tem a casa com que sonha. Por não tê-la, foge constantemente à procura da tão sonhada casa.

Certo dia, pedi que desenhasse sua casa. Ficou inquieta, tentando ajustar a melhor posição para a folha. Pegou o lápis, fez alguns riscos e pediu, em seguida, uma borracha, dizendo ter feito tudo errado. Insisti, pedindo-lhe que repetisse a operação. Voltou a fazer o que já havia feito, mas, nessa segunda oportunidade, olhou-me apreensiva e triste, afirmando que sua casa era tão pequena que não podia desenhá-la.

Existe uma casa, mas não um lugar com o qual tenha afinidade. Nela moram a mãe, um padrasto e alguns de seus irmãos. Existe uma casa, mas não a querem nessa casa! E então ela foge, foge e sempre, de novo, foge. Procura uma casa onde possa ficar, mas muito mais do que uma casa, procura alguém que a queira e a aceite do jeito que é, dando-lhe um lar, carinho e compreensão. A casa com que sonha essa menina, igual a todas as meninas, tem o formato de um coração, onde habita um sentimento que ela conhece muito pouco. Amor, uma palavra tão pequena, mas que talvez traduza muito bem a casa onde essa criança quer morar.

Era uma vez... Não, ainda é! É a vez de fazer mais por muitas das crianças que andam por aí, procurando o seu espaço, aquele que a elas vem sendo negado.

É a vez de transformar a pequena palavra de quatro letras — amor — num sentimento genuíno, que tome real o seu sentido.


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Autor(a): Eliséte Schönardie
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2001 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2000
Natureza do Texto: Vários
Perfil do Texto: Conto
ID: 32996
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Se reconhecemos as grandes e preciosas coisas que nos são dadas, logo se difunde, por meio do Espírito, em nossos corações, o amor, pelo qual agimos livres, alegres, onipotentes e vitoriosos sobre todas as tribulações, servos dos próximos e, assim mesmo, senhores de tudo.
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