IECLB e Conselho Mundial de Igrejas



ID: 2701

A paz é parte da vocação das igrejas, afirmam latino-americanos

17/05/2011

Em Kingston, Jamaica, o Conselho Mundial de Igrejas (CMI) mostrou fidelidade ao mandato de fortalecer e encorajar o surgimento de novas redes no movimento ecumênico. O entusiasmo dos participantes na cerimônia de encerramento da Convocatória Ecumênica pela Paz (CEIP), a aproximação dos atores construtores de paz ao redor do mundo. Mais de uma centena de latino-americanos estiveram envolvidos diretamente neste evento e puderam expressar suas perspectivas, contribuindo para a construção de uma voz única em torno do tema da paz justa.

“A CEIP foi uma impactante celebração e reafirmação do compromisso ecumênico em favor de paz com justiça num mundo de tantas formas atribulado e marcado por conflitos”, declarou o P. Dr. Walter Altmann, moderador do CMI e ex-presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Ao avaliar o significado e os frutos da Convocatória, Altmann disse que “também as igrejas latino-americanas säo animadas e desafiadas a redobrar seus esforços no combate à violência”.

As vozes latino-americanas nas plenárias ecoaram a histórica luta por justiça que o continente traz. “Nosso clamor por paz justa não pode negligenciar nossas formas de resistência justa”, afirmou o Rev. Hugo Marillián Millavil, da Igreja Metodista do Chile e responsável pela Pastoral Indígena do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI). Millavil referiu-se, especificamente, à resistência pacífica do povo Mapuche.

O bispo Dom Orlando Santos, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), participou de uma das reuniões de comitês e grupos de trabalho do CMI que tiveram lugar em Kingston, em sintonia com a IEPC. Dom Orlando integra o grupo dos referentes de ecumenismo das igrejas-membro do CMI. “A violência está em toda parte, até dentro das nossas casas. É por isso que esta agenda de paz e justiça têm que estar dentro da vida das igrejas”, afirmou.

Responsável pelo programa de mudanças climáticas no CMI, o uruguaio Guillermo Kerber Mas, destacou a atenção que foi dada aos temas ligados à ecologia a partir do tema da paz: “o tema da paz com a Terra é parte da vocação e missão da Igreja no mundo. A perspectiva de paz com a Terra tem uma raiz teológica, mas que tem que ser expressa em ações concretas”, ele disse.

Também os temas ligados à globalização econômica e suas conseqüências também estiveram na pauta da CEIP: “Haverá paz no mercado quando as grandes empresas enxergarem que há um limite para sua ganância”, declarou a secretária-geral da Igreja Evangélica do Rio da Prata (IERP), Sonia Skupch.

Apesar de não ser um evento deliberativo, a CEIP produziu alguns frutos concretos. O secretário-geral do CMI, Rev. Dr. Olav Fykse Tveit, destacou o papel aglutinador que a CEIP teve: “muitos participantes aqui realmente sentiram que este era um lugar de partilha das difíceis realidades que experimentam e, ao mesmo tempo, uma fonte de inspiração para lidar com essas realidades”.

A delegada da IECLB, Marie Ann Krahn, expressou concordância com a análise de Tveit. Ativista pela paz em seu país, Krahn teve contato com diferentes iniciativas ao longo dos dias que participou da CEIP.

A diversidade de exemplos de processos de busca e contrução da paz reveleram que o tema da paz ainda tem muita extrema relevância no mundo de hoje. “O trabalho pela paz não é algo que vai causar enorme impacto global na mídia, mas é um trabalho de base, que só vai funcionar se surgir e for alimentado pelas bases em todos os níveis da sociedade, como as igrejas”, afirmou Krahn. “Aqui vi muitas sementes que são a base do trabalho pela justa paz. Agora, estas sementes vão se espalhar pelo mundo novamente”, concluiu.

Mas nem tudo foi consenso em Kingston. Ao final da última plenária da CEIP, Nelson Fernando Celis Angel, da Colômbia, expressou sua frustração com a pouca atenção dada ao tema do desarmamento ao longo da Convocatória.

Responsável pela Pastoral de Juventude do CLAI, Angel organizou uma das oficinas mais prestigiadas do evento, mas acredita que a timidez com que o assunto foi abordado tem a ver com a pouca importância que os países do Norte dão ao tema das pequenas armas de fogo. “É como se europeus e norte-americanos se preocupassem só com as armas de destruição em massa, mas é através de muitas armas de pequeno porte que milhares morrem no Sul”, ele disse.

“Esta Convocatória nos deu a oportunidade de analisar qual foi o alcance das iniciativas de paz protagonizadas por vários atores do movimento ecumênico”, afirmou o Bispo Julio Murray, presidente do CLAI, que também expressou sua gratidão ao CMI pela realização da Convocatória.

O vice-moderador da ACT Aliança, que reúne mais de 100 agências, igrejas e organizações do movimento ecumênico envolvidas no trabalho de ajuda humanitária e defesa de causa, bispo Francisco de Assis da Silva, acredita que a CEIP desempenhou seu papel de dar a merecida visibilidade ao tema da paz. “Os membros da Aliança tem se esforçado em apoiar iniciativas que levem à superação da violência contra a pessoa humana e contra o meio ambiente em praticamente todas as regiões do mundo. Sentimos-nos ao lado do CMI nesta busca”, afirmou.

Ao receber o texto final com a mensagem da Convocatória, em nome do Comitê Central do CMI, Altmann afirmou: “O final desta jornada representa um novo começo. Voltemos aos nossos países e perseveremos em nossos compromissos pela paz”.

Marcelo Schneider/WCC

 

Orar é a obra mais primorosa, por isto é tão rara.
Martim Lutero
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