IECLB e Conselho Mundial de Igrejas



ID: 2701

Mensagem final da Convocatória Ecumênica Internacional pela Paz

17/05/2011

“Glória a Deus e Paz na Terra”
Mensagem final da Convocatória Ecumênica Internacional pela Paz - Kingston, Jamaica, 17-25 de maio de 2011

“Peço ao Pai que vos conceda, segundo as riquezas da sua glória, para ser fortalecidos com poder no homem interior pelo seu Espírito que Cristo habite pela fé em vossos corações, porque vocês são arraigados e alicerçados em amor.” (Ef 3, 16-17)

Entendemos que a paz e o fazer paz são aspectos indispensáveis da nossa fé comum. A paz está intrinsecamente relacionada ao amor, à justiça e à liberdade que Deus deu a todos os seres humanos por meio de Cristo e do Espírito Santo como um dom e vocação. Trata-se de um modo de vida que reflete a participação humana no amor de Deus para com o mundo. A natureza dinâmica da paz, como dom e vocação, não nega a existência de tensões, que são parte integrante das relações humanas, mas pode mitigar a sua força destrutiva e trazer justiça e reconciliação.

Deus abençoa os pacificadores

As igrejas-membro do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) está, como nunca antes, unido com outros grupos de cristãos para encontrar formas de combater a violência, rejeitar a guerra e buscar uma paz justa, ou seja, o estabelecimento da paz com justiça por meio de uma resposta comum ao chamado de Deus. Apenas a paz nos convida a unirmo-nos numa peregrinação comum e nos comprometermos com a construção de uma cultura de paz.

Nós, cerca de 1.000 participantes vindos de mais de 100 países, reunidos pelo CMI, compartilhamos a experiência de participar da Convocatória Ecumênica Internacional pela Paz (CEIP), ao lado de outras igrejas e parceiros religiosos que se dedicam a alcançar a paz na comunidade, a paz na Terra, a paz no mercado e a paz entre os povos. Nós nos conhecemos no campus da Universidade das Índias Ocidentais (Mona), em Kingston, Jamaica, entre 17 e 25 de maio de 2011. Somos profundamente gratos aos nossos anfitriões deste país e do Caribe, que, generosamente, nos ofereceram um lugar amplo para estarmos juntos e crescermos na graça de Deus. Pelo simples fato de termos nos reunido neste local, fomos lembrados de que, no passado, este lugar era uma fazenda de cana de açúcar onde se praticavam injustiças e violência nos tempos da escravidão e do colonialismo e de que a escravidão ainda assola o mundo de hoje.

Ouvimos acerca dos graves problemas de violência que são vividos neste país e sobre a participação corajosa das igrejas ao enfrentar estes desafios.

Trouxemos a preocupação de nossas igrejas e regiões à Jamaica, conversamos uns com os outros e, agora, temos algo a dizer às igrejas e ao mundo. Estivemos juntos em estudos bíblicos, no enriquecimento espiritual proporcionado pelas orações em comum, nas expressões artísticas, nas visitas a ministérios locais e outras agências de serviços, nas plenárias, nos seminários, oficinas, eventos culturais, nas deliberações e nas conversas tocantes com pessoas que foram vítimas de injustiça, violência e guerra.

Também comemoramos as conquistas da Década para a Superação da Violência (2001-2010). Nossos compromissos têm nos encorajado a mostrar que é possível superar a violência. A Década para Superação da Violência nos permitiu visibilizar muitos exemplos de cristãos que têm feito a diferença ao redor do mundo.

Reunidos, aqui na Jamaica, acompanhamos com interesse os acontecimentos do mundo que nos rodeia. As histórias que recebemos de nossas igrejas nos lembram das responsabilidades locais, pastorais e sociais, com as pessoas que enfrentam, diariamente, cada uma das questões que abordamos.

As conseqüências do terremoto e do tsunami no Japão, por exemplo, levantam questões urgentes acerca do uso da energia nuclear e das ameaças à natureza e à humanidade. Os governos e as instituições financeiras estão diante da necessidade de assumirem a responsabilidade pelo fracasso das suas políticas e pelos efeitos devastadores sobre as pessoas mais vulneráveis. Olhamos com preocupação e compaixão aqueles que lutam pela liberdade, justiça e direitos humanos em muitos países árabes e outros contextos nos quais pessoas corajosas também lutam sem a atenção da comunidade mundial. Nosso amor pelas pessoas da Palestina e de Israel nos convenceu de que a contínua ocupação prejudica a ambos os povos. Reiteramos nossa solidariedade com os povos de países divididos, como na Península Coreana e no Chipre, e com aqueles que aspiram à paz e o fim do sofrimento em países como a Colômbia, o Iraque, o Afeganistão e a região dos Grandes Lagos, na África.

Reconhecemos que os cristãos têm sido, muitas vezes, cúmplices em sistemas de violência, injustiça, militarismo, racismo, intolerância, discriminação e casteísmo. Pedimos a Deus que perdoe nossos pecados e nos transforme em agentes da justiça e defensores de uma paz justa. Apelamos aos governos e a outros grupos para pararem de usar a religião como pretexto para justificar a violência.

Ao lado de parceiros de outras religiões, temos que reconhecer que a paz é um valor fundamental de todas as religiões e que a promessa de paz se estende a todas as pessoas, independentemente de suas tradições ou compromissos. Através do diálogo inter-religioso mais intenso, procuraremos um terreno comum para todas as religiões.

Estamos unidos em nossa aspiração de que a guerra seja considerada ilegal. Em nossa luta pela paz na Terra, temos de lidar com diferentes contextos e histórias. Percebemos que as igrejas e religiões têm perspectivas diferentes acerca do caminho para a paz. Alguns de nós têm como ponto de partida a conversão pessoal e a moralidade, considerando a aceitação da paz de Deus em nossos corações como o fundamento da paz na economia, na família, na comunidade e em toda a Terra. Outros enfatizam a necessidade de centrar-se, primeiramente, no apoio mútuo e correção no corpo de Cristo para fazer a paz possível. Outros estimulam o compromisso das igrejas com grandes movimentos sociais e o público testemunho da igreja. Cada uma dessas abordagens tem o seu fundamento e não são mutuamente exclusivas. Mesmo na nossa diversidade falamos com uma só voz.

Paz com a Terra

A crise ambiental é uma profunda crise ética e espiritual da humanidade. Reconhecendo os danos causados à Terra pela atividade humana, afirmamos nosso compromisso com a integridade da criação e o estilo de vida que este exige. Nossa preocupação com a Terra e nossa preocupação com a humanidade estão unidas. Os recursos naturais e os bens comuns, como a água, devem ser compartilhados de forma justa e sustentável. Apoiamos o apelo à sociedade civil mundial, exortando os governos a reorientar radicalmente todas as nossas atividades, visando uma economia ecologicamente sustentável. O uso intensivo de combustíveis fósseis e emissões de CO2 deve ser reduzido urgentemente a níveis que possam refrear os efeitos das mudanças climáticas. A dívida ecológica dos países industrializados responsáveis pelas mudanças climáticas deve ser levada em conta na negociação dos direitos de emissão de CO2 e dos custos dos planos de adaptação. O desastre nuclear de Fukushima demonstrou, mais uma vez, que já não se deve usar a tecnologia nuclear para produzir energia. Rejeitamos as estratégias, tais como aumento da produção de biocombustíveis que prejudicam os pobres pela sua concorrência com a produção de alimentos.

Paz no mercado

A economia global oferece muitos exemplos de violência estrutural que não causam dano pelo uso de armas ou força física, mas através da aceitação passiva da pobreza generalizada, das disparidades do comércio e da desigualdade entre classes e nações. Ao contrário do crescimento econômico ilimitado, previsto pelo sistema neoliberal, a Bíblia apresenta uma visão da vida abundante para toda a criação. As igrejas precisam aprender a defender de forma mais eficaz a aplicação plena dos direitos culturais, sociais e econômicos como base de economias de vida.

É um escândalo que enormes quantidades de dinheiro sejam gastas para fins militares, proporcionando armas aos aliados e ao comércio bélico, quando recursos são urgentemente necessários para erradicar a pobreza em todas as partes do mundo e para sustentar uma reorientação ecológica e socialmente responsável da economia global. Apelamos aos governos do mundo para agirem sem demora para canalizar recursos financeiros para programas que promovam a vida e não a morte. Encorajamos as igrejas a adotar estratégias comuns para promover a transformação das economias. As igrejas devem tratar de forma mais eficaz a concentração irresponsável de poder e riqueza, bem como a doença da corrupção. Entre as medidas para a economia justa e sustentável, deve ser observada a regulamentação mais eficaz dos mercados financeiros, a criação de impostos sobre as transações financeiras e das relações de comércio justo.


 

O que o Senhor planeja dura para sempre. As suas decisões permanecem eternamente.
Salmo 33.11
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