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Girassol virachuva

15/11/2002

Girassol virachuva

Sou mineira já por um bom tempo, talvez desde a infância, por ter crescido numa casa que era a única a ter fogão de lenha dentro da cozinha, telhado sem forro e por isso bem preto por causa da fuligem do fogão, e também por não tomar chimarrão, coisas incomuns em toda a região cheia de gaúchos e catarinas no oeste do Paraná. Era a única casa mineira, até a gente lá em casa não tinha nome, éramos os filhos do mineiro, as filhas do mineiro, a mulher do mineiro.

Assim, quando o Pastor Valério Guilherme Schaper me pediu pra escrever algo sobre escatologia e essas coisas, perguntei, precisa ser aquelas coisas teóricas, pesadas? Não, pode ser do seu jeito. Peguei o Braaten, um livro grosso de teologia sistemática, que só de olhar dá medo. Talvez por ser meio discípula do P.Baeske, dei uma olhada pra me inspirar, e me inspirou tanto que veio tudo ao contrário na minha cabeça. Fui pra varanda e lá encontrei minha espiritualidade pulsando. Quero testemunhar minha esperança na vida falando das cousas que vivencio neste cantinho di Minas, estimulando cada um de vocês a vivenciá-la também aí no seu cantinho.

Desde que cheguei aqui nesta casa, comecei a criar um jardim, digo criar, porque a terra era amarela sem vida, raspada, cheia de tiririca que é uma plantinha danada que nasce em qualquer lugar, menos debaixo de sombra. Tive que carregar muita terra lá do Brandi e comprar esterco dos minino e, o mais importante, aprender a cuidar daquele pedacinho, pois não entendia muito de planta. Planto de tudo, meio inspirada na horta altar do Rubem Alves, minha segunda-feira é dia de festa pras plantinhas, coloco o cd de Pena Branca e Xavantinho, lembro do meu pai que me ensinou a gostar de música que vem do chão, lembro da minha outra casa lá na Bahia.

Tem uma flor(!) que sempre está sendo semeada no meu jardim, em qualquer estação, em cada canto, perto da cerca, no munturo, nos canteiros, entre as couves. Girassóis... Quando papai faleceu, colhi todos que havia pra enfeitá-lo, alguns murcharam pois a viagem foi longa, mas dois ficaram firmes. Era um pedaço do meu sentimento de girassol. Penso que Jesus teria contado uma parábola de girassol se fosse planta lá da região onde ele caminhava, e os pássaros da parábola do grão de mostarda iriam adorar as sementes de girassóis como os daqui gostam.

...Fica decretado que, a partir desse instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra e que as janelas devem permanecer o dia inteiro abertas para o verde onde cresce a esperança.(Thiago de Mello)

Plantar girassol é viver em esperança. Esperançar! Semear sempre, deixar brotar, crescer, dar botão, virar flor, flor que parece ora flor, ora sol, ora comida para os pássaros, ora colher as sementes pra plantá-las outra vez... Outro dia vi um girassol dos contra, gosto deles porque apontam para o outro lado, não é girassol vai-com-os-outros, não olha pra lá porque todos olham pra lá. Poderia também falar do pé de abóbora que está doido pra entrar pela varanda, ou das sempre-vivas que, mesmo sendo colocadas num vaso, permanecem vivas, mas não são de plástico. Poderia falar da roseira, e das formigas que volta e meia retalham suas folhas, mas sempre ela brota com mais força e não cansa de florescer. Mas o Girassol, de todas as plantas no meu jardim, comunga com mais força a minha fé.

Girassol gosta de chuva, chuva vem depois do sol, sol depois da chuva. Não tem o cio da terra? Então, tem também o cio da chuva. Aqui aprendi a respeitar e a amar a chuva. Fica tudo seco durante o outono e o inverno, tem sua beleza também, a terra descansa, a terra vira poeira e torrão, têm flores que resistem à seca, os ipês ejaculam em agosto, a sequidão realça estas belezas, e a terra aos poucos começa a gemer. Através das aves, dos insetos, sinais vão aparecendo e esperançando a chuva; sabemos que ela vem, cedo ou tarde ela vai chegar. O joão-de-barro constrói sua casa com a portinha do lado contrário de onde virão os ventos, as andorinhas voam baixo, o saleiro começa a transpirar, as tanajuras saem de seus ninhos para a alegria da criançada que faz competição, as pedreiras ficam úmidas, o ventinho faz rastros pelas estradas enrolando as folhas, o círculo ao redor do sol, as nuvens viram castelos, a seriema canta, a cigarra grita ... Lá vem ela, já se sente aquele cheirinho de terra molhada. Depois da primeira chuvada tudo brota de repente, o ar limpa, vem a tranqüilidade dentro da gente. Ver a chuva caindo faz a gente chorar junto com ela de alegria, de tristeza e de saudade. As plantas agradecem, a vida agradece. A Terra ressuscita! Chuvas de bênçãos pra ricos e pobres, pra pecadores e justos, vida em abundância faz e refaz. Eis que vos farei chover do céu pão(Ex 16.4), ...das nuvens chovam justiça: abra-se a terra e produza a salvação, e juntamente com ela brote a justiça: eu, o Senhor, as criei.(Is 45.8) Não é só sinal do Reino de Deus, é o Reino brotando e florescendo perante nossos olhos. Os poetas do sertão sentem este milagre como ninguém:

No meu Cariri, quando a chuva não vem não fica mais ninguém, somente Deus ajuda se não vier do céu chuva que nos acuda macambira morre chique-chique seca juriti se muda. Se meu Deus der um jeito de chover todo ano se acaba o desengano o meu viver lá é certo no meu Cariri pode se ver de perto quanta boniteza, pois a natureza é um paraíso aberto. (Rosil Cavalcanti, Dilú Melo)

Põe as galinhas pra dentro, recolhe os lençóis, fecha os vidros, desliga as tomadas e deixa as faíscas passarem, tocando tambores cuidado, sinto cheiro de chuva no ar. Ela vai chegar, ela vai chegar...Pudera, lembra que a chuva quem manda é Deus...um rastro de cheiro de terra molhada, repara, alma lavada é mesmo assim. (Renato Teixeira)

Quando é tempo de chover se alegram flores, bichos, gados, eu ainda hei de ver um mundo sem guerra de homens honrados então seguirei por aqui de pés do chão despreocupado. (Juraildes da Cruz)

Josefina sai cá fora e vem vê, olha os fôrro ramiado vai chovê, vai triminá riduzi toda a criação das banda de lá do ri Gavião,Chiquêra prá cá já ronca o truvão, futuca a tuia, pega o catadô vamo plantá feijão no pó. (Elomar F. Mello)

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Pastora Elisabet Lieven é obreira
na Paróquia Evangélica Luterana de Funil (Minas Gerais),
desde setembro de 1999.
 


Autor(a): Elisabet Lieven
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Funil (São José do Mantimento-MG)
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 21018

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