Primeiro Cemitério Evangélico Luterano no Brasil

16/12/2009

Pintura de Jean Debret (1827) Real Fábrica de Ferro
Pórtico de entrada - Foto de Adilson Cesar
Cruz e sepulturas - Foto Adilson Cesar
Cruz - Foto Adilson Cesar
Sepultura - Foto Adilson Cesar
Trecho da Carta Régia que autoriza a criação de cemitérios - 1
Trecho da Carta Régia que autoriza a criação de cemitérios - 2
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A presença protestante no Brasil aconteceu em momentos distintos. A primeira por ocasião da presença de franceses reformados no Rio de Janeiro (século XVI) e de reformados holandeses no Nordeste (século XVII). Muito provavelmente eles implantaram os seus cemitérios. Falar de cemitérios protestantes ou evangélicos deste período no Brasil significa, pois, falar de espaços consagrados aos mortos dos quais não existem vestígios conhecidos.

Com a vinda de D. João VI e da família real portuguesa em 1808 foram tomadas uma série de medidas para favorecer o comércio e a indústria no Brasil. Uma necessidade premente foi a fabricação das armas imperiais. Surge desta maneira o Estabelecimento Montanístico das Minas de Ferro de Sorocaba/SP, a futura Real Fábrica de Ferro de São João do Ipanema. Para dar conta deste empreendimento foram contratados trabalhadores suecos chefiados por Carl Gustav Hedberg. O grupo chega a Sorocaba em inícios de 1811. A vida pacata da vila sofre uma grande mudança com a vinda destes tipos humanos com fisionomias e língua totalmente diferentes. São motivo de chacota e recebem o apelido de “suecada” .

Um pouco mais de um mês depois acontece a primeira morte. Jonas Bergmann, carpinteiro de foles, adoentado, morre em decorrência do escorbuto, no dia 27 de fevereiro de 1811. O padre doa o caixão e é enterrado no cemitério local. Espalha-se a notícia de que o defunto seria protestante, ou então, que ele se teria suicidado. Deu-se uma tremenda ebulição. O povo tirou o defunto da terra, o largou na rua e, ainda por cima, o caixão foi cobrado.

Diante da grande animosidade gerada, o diretor Hedberg escreve em junho o seguinte: “...Bergmann – morreu de morte natural, levantaram lhe ser suicídio, depois foi desenterrado, e seu caixão cobrado, de mais acrescentou-se que os suecos não são batizados, e que é mais que nenhuma fábrica pode prosperar com semelhante gente.”

O Tratado de Comércio e Navegação de 1810 previra o respeito à crença de pessoas não-católicas, mas os eventos de Sorocaba apontaram que o tratado carecia de uma regulamentação. Desta forma é expedida a uma Carta Régia a 28 de agosto de 1811. Em seu original ela diz:

“... Em 4º. Lugar, sendo muito vantajoso ao meu Real serviço e ao bem público de meus estados chamar povoadores estrangeiros hábeis, e inteligentes artistas, posto que eles não estejam alumiados, e não professem os dogmas da Nossa Santa Religião, tanto mais que até vivendo entre católicos, muitos deles sem violência, e por convicção abraçarão a verdade, e abjurarão seus erros. E havendo subido à minha Real presença algumas informações, que havendo morrido em Sorocaba um dos mineiros suecos, o Diretor, e outros suecos, tiveram um susto mal fundado, que os prejuízos populares dos habitantes os consideravam com horror, visto serem hereges: Ordeno-vos que tenhais particular cuidado em persoadir tanto ao Diretor, como aos mais suecos, que respeitando eles, como devem a Nossa Santa Religião e pratica da mesma podem estar seguros, que ninguém os há de inquietar nas suas práticas religiosas, que fizerem particularmente em suas casas, e que não só hei de manter tudo, que a tal respeito lhes mandei prometer pelo contrato, que com eles se celebrou, e a que estou obrigado pelos tratados que ultimamente celebrei com a Grã Bretanha, mas que conheço muito os meus reais interesses, e da minha Coroa, para que deixe de fazer observar fiel, e religiosamente tudo o que sabiamente, tenho ordenado a esse respeito, e que a vos muito vos encarrego de novo por esta minha Carta Régia de cuidares, e vigiares na fiel observância de tão essenciais objetos, sendo sempre vossos olhos abertos para evitares qualquer mal efeito que possa resultar de prejuízo de povos, que mais por ignorância, do que por fins sinistros podem em tal matéria fazer a si e ao Estado um grande dano, levados de um mal entendido zelo religioso, e contrário aos princípios de nossa Santa Religião. Também vos encarrego o cuidares, em que aí se estabeleça, e conserve em boa ordem um terreno, que sirva de Cemitério aos Ingleses e Suecos, e em geral aos que não forem membros de nossa Santa Religião, permitindo lhes também, que nas suas casas particulares, e sem forma de Igreja possam reunir-se para o culto particular que dirigem ao Ente Supremo, e no que vigiareis não possam jamais ser inquietados pelos habitantes do país o que muito vos hei por recomendado...

Desta forma surgiu o primeiro cemitério evangélico luterano no Brasil Atualmente ele se localiza em Iperó/SP. Ele permaneceu um bom tempo abandonado em meio a uma mata. Ele ainda conserva o pórtico de entrada e algumas cruzes. Algumas delas foram fundidas na própria fábrica São João do Ipanema.

A permanência dos suecos durou muito pouco tempo. O diretor Hedberg não era do ramo e os trabalhadores também não tinham a competência necessária. Em seu lugar foi nomeado o engenheiro Friedrich Ludwig Wilhelm Varnhagen. Para trabalhar também foram contratados alemães e escravos. Alguns imigrantes alemães, originalmente destinados para Santo Amaro/SP, (1827-1829) também atuaram em Sorocaba. Presume-se que tenha havido um certo intercâmbio entre eles.

As cidades com presença inglesa (membros da Igreja Anglicana) criaram seus cemitérios, destacando-se Rio de Janeiro (1809-1810), Salvador (1814), Recife (1814), São Luís (1814), Belém(1815) e Florianópolis (1815).

Rolf Schünemann


Foto 2 -  Pintura de Jean Baptiste Debret, de 1827, retratando a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, nas imediações de Sorocaba/SP











 


Autor(a): Rolf Schünemann
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Artigo
ID: 6776

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