Terra e Agricultura



ID: 2878

Ecovale: 10 anos de cooperativismo e agroecologia

15/08/2010

Coordenador do CAPA Sighard Hermany
Ex-pastor sinodal do Sínodo Vale do Taquari Erno Feiden
Pastor vice sinodal Sín Vale do Taquari Leonídio Gaede (pastor Zeca e sua gaita)
Presidente da Ecovale Nilson Flech
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Há 10 anos, no dia 12 de agosto de 2000, na Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul (RS), foi realizada a assembleia de constituição da Cooperativa Regional de Agricultores Familiares Ecologistas Ltda (Ecovale). “A cooperativa começou com 20 associados e hoje conta com 65, dos quais 25 são mulheres”, comemorou o coordenador do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa/Núcleo Santa Cruz), Sighard Hermany.

“Ainda que com dificuldades, conquistamos muito nesses 10 anos”, confirmou o presidente Nilson Flesch, que compõe a diretoria da cooperativa junto com a secretária Noemia Jaeger e o tesoureiro Laércio Frantz. Enquanto mais grupos foram se formando e aderindo a cooperativa, outros se retiraram, pois não tiveram suas expectativas atendidas. “Ao lado daqueles que acreditaram, houve quem achou difícil assumir as responsabilidades e exigências da organização ou atender as exigências da produção ecológica”, disse Flesch.

“Mesmo agora, as ameaças são muito presentes”, alertou Hermany. Entre elas, está o imediatismo, a opção por caminhos aparentemente mais fáceis, os oportunismos, a pressão da agroquímica e a carga tributária. “É preciso muita convicção e persistência para continuar. Nossa força vem da fé na proposta do cooperativismo associado à agroecologia como uma ação em favor da vida”, afirmou.

Os 65 cooperados estão organizados em cinco núcleos, localizados nos municípios de Vale do Sol, Candelária, Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires. Também estão vinculadas unidades de beneficiamento (agroindústrias) de arroz e cereais, erva-mate, panifícios, derivados da cana de açúcar e mel.

Em termos de comercialização, a Ecovale conta com uma loja em Santa Cruz do Sul, quatro feiras semanais (duas em Santa Cruz e duas na cidade vizinha de Venâncio Aires, e fornece produtos para a merenda escolar nos municípios de Vale do Sol, Cruzeiro do Sul e Teutonia.

Além disto, distribui produtos para todo o estado gaúcho e mesmo fora do Rio Grande do Sul. A partir da parceria com algumas entidades, a Ecovale conseguiu abrir espaços em supermercados dos sindicatos de Trabalhadores Rurais (STR) de Cruzeiro do Sul e Arroio do Meio. “O objetivo dos parceiros é disponibilizar alimentos produzidos de forma ecológica e incentivar a produção ecológica entre os seus associados”, disse o coordenador do Capa/Núcleo Santa Cruz.

“Somos aliados nessa proposta de produção alternativa ao agronegócio, que é essencial para a sobrevivência da agricultura familiar, com a produção de alimentos de qualidade – tanto para a população rural quanto para a urbana”, afirmou o presidente do STR de Cruzeiro do Sul, Marcos Antonio Henrichsen.

Conforme palavras do pastor Sinodal Valdir Trebien, na celebração de graças durante a festa dos 10 anos realizada no dia 1º de agosto, “o verdadeiro significado do cooperativismo está alicerçado na fraternidade entre as pessoas. É construído por pessoas fraternas e não concorrentes. Ele usou como metáfora o fato de que “o dia fica claro quando as pessoas se enxergam como parceiras e não como concorrentes”. Isto é sinal de esperança. O cooperativismo associado à agroecologia é vivência concreta do Evangelho, do ser Igreja, de anunciar novos valores. A IECLB conta com o CAPA para contribuir nesta missão.

O vice-pastor sinodal, Leonídeo Gaede expressou que “construir cooperativa não é apenas uma questão de matemática e de resultado econômico”. É uma questão pedagógica e de valores. O ser humano vive numa dualidade, entre a disposição para cooperar e o ajuntar para si. “A questão é que a nossa sociedade desenvolve mais o individualismo e promove a educação para o consumo. Precisamos ser educados para a cooperação”, disse ainda.

O pastor Erno Feiden, voluntário da Pastoral Rural, afirmou ser possível celebrar 10 anos de Ecovale porque agricultores apostaram numa agricultura que respeita a terra e o meio ambiente. “São agricultores orientados pelo Capa que produzem alimentos sadios e que contribuem para a vida com mais qualidade. A agricultura orgânica é sobretudo uma contribuição significativa para vida mais saudável, digna e plena. É cumprir a proposta de Deus que deseja que todos tenham vida em abundância”.

A vice prefeita de Vale do Sol, Eroni Michel, destacou que o seu município é parceiro do Capa desde a sua criação e foi primeiro a firmar convênio com a organização para promover a agroecologia.

Já para o secretário da agricultura de Santa Cruz do Sul, Ademir Santin, a produção ecológica é um grande desafio, “é uma quebra de paradigmas e cabe a secretaria promover técnicas e ações para promover a produção livre de agrotóxicos.’’

Lisani Landskren, sócia da Ecovale e integrante do grupo de mulheres da Casa da Saúde, lembrou que o trabalho das mulheres significa acesso ao mercado. “Por meio da cooperativa, as mulheres conseguem expandir os negócios e aumentar sua renda.”

“É muito bom e rentável. Vale a pena curar o solo e produzir de maneira natural”, disse ainda o cooperado Álvaro Luttjohann, praticante da agroecologia há mais de 15 anos.

A comemoração aconteceu no espaço da Comunidade Evangélica Martin Luther, de Santa Cruz do Sul. Os membros ajudaram na organização da festa, que contou com a apresentação musical de grupo Samambaia Azul, integrado por jovens agricultores de Vale do Sol.

Mas toda esta bonita história não está livre de ameaças. O imediatismo, a opção por caminhos mais curtos e aparentemente mais fáceis, os oportunismos, a pressão da agroquímica e a carga tributária são algumas delas.

É preciso muita convicção e persistência para continuá-la. Acreditamos firmemente que o cooperativismo associado à agroecologia é uma proposta a favor da vida – por isso precisamos mantê-la com força e coragem.


Um pouco de história

A história da ECOVALE é muito rica e emocionante e que se inicia bem antes da sua Assembléia de Constituição e está estreitamente ligada a atuação do CAPA – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, nos vales do Rio Pardo, Jacuí e Taquari.

No Vale do Rio Pardo, na década de 1980, a fumicultura vive um período de crise e as comunidades, através de seus pastores e lideranças chamam o CAPA para discutir alternativas para esta situação. No primeiro momento, começa-se a questionar o modelo tecnológico da agricultura química e são buscadas alternativas para trabalhar sem o uso dos agrotóxicos, recuperar a vida dos solos e reduzir o uso da adubação química. Ao mesmo tempo se busca alternativas de produção e renda.

Em seguida se apresenta o desafio da comercialização para os produtos alternativos. Os agricultores começam a se organizar em grupos e associações. A imagem das cooperativas, na época, estava muito desgastada. Em 1986 é fundada a União Serrana de Agricultores, no interior de Santa Cruz do Sul, hoje Vale do Sol e ainda no mesmo ano se inicia o fornecimento de alimentos, produzidos sem o uso de agrotóxicos, para as escolas infantis (na época denominadas de creches), em Santa Cruz do Sul. A organização de mais grupos e associações se sucede nos anos seguintes, em diferentes comunidades.

No início da década de 1990, a fumicultura retoma a sua força e as iniciativas dos agricultores entram em refluxo. Mas, já na 2ª metade da mesma década algumas iniciativas são retomadas enquanto novas se somam. São criadas: a Associação Paraíso de Agricultura Alternativa, na vila Paraíso, em Paraíso do Sul, a Associação de Agricultores Nova Esperança, a União Serrana de Apicultores, a Unidade de Beneficiamento de Erva Mate e o Grupo de Olho na Ecologia, todos em Vale do Sol e o Núcleo de Agricultores Ecologistas Santa Cruz, no interior de Santa Cruz do Sul. Ainda, em 1997, o CAPA disponibiliza um espaço de suas instalações, em Santa Cruz do Sul e se cria um Entreposto para apoiar a comercialização das organizações de agricultores que vinham se formando.

Em 1998 é aberta a 1ª Feira Ecológica, em Santa Cruz do Sul, por tres grupos de agricultores, num espaço cedido pelo próprio CAPA. Em seguida se percebe que só as feiras não davam conta da comercialização da produção das diferentes organizações dos agricultores e há a necessidade de se ter também um abrigo jurídico para ampliar o processo de comercialização e o registro dos produtos das agroindústrias que iam se constituindo. Os agricultores, assessorados pelo CAPA, passam então a estudar que tipo de organização melhor corresponderia aos seus anseios. Depois de muito estudo optam pela constituição de uma cooperativa. Pesaram nesta decisão: a preservação das organizações que lhe deram origem, a participação democrática nas decisões e gestão econômica do empreendimento, a preservação da condição de segurado especial dos agricultores diante o INSS e a obtenção de benefícios fiscais.

Em 12 de agosto de 2000, na Quarta Linha Nova Baixa, interior de Santa Cruz do Sul é realizada a Assembléia de Constituição, com 20 associados. Em seguida, novos grupos se formam e seus associados vão aderindo a cooperativa. Durante os seus 10 anos muitas conquistas foram alcançadas e também muitas dificuldades enfrentadas. Mais grupos foram se formando e aderindo a cooperativa enquanto outros também foram se retirando, porque não tiveram suas expectativas atendidas, ou consideraram difíceis os seus compromissos com a cooperativa ou atender as exigências da produção ecológica.


 


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