Igreja e Sociedade



ID: 2797

A mordomia a serviço da sabedoria

Artigo

09/05/2003


Pergunta uma criança: Por que Deus criou o mundo? Trata-se de uma indagação feita por alguém que aprendeu que tudo neste mundo criado deve ter a sua razão de existir. A racionalidade adulta nos move a descobrir em todas as coisas algo que tenha finalidade útil. Acostumamo-nos a procurar e avaliar o que é ético e serve ao progresso. Em decorrência de nossa tendência utilitarista, desconsideramos com facilidade os aspectos da estética, do belo e o que nos enche de alegria. O homem moderno desenvolveu, com seu trabalho e tecnologia, um projeto de vida que o torna sempre mais autônomo e independente do Criador, ignorando as sementes da sabedoria divina integradas na criação..

Uma das tarefas mais originais conferidas aos humanos é que sejam colaboradores de Deus. A fé neste Deus nos motiva à sementeira da sabedoria. O Criador não deixou o mundo pronto. Sua vontade é que a humanidade participe do processo da criação contínua, aplicando sua criatividade, tornando-se semelhante ao gênio criador, sendo extensão das mãos divinas. No decorrer da história do povo de Israel, Deus inspirou ferreiros, ourives, carpinteiros, tecelões, artistas, bordadeiras, projetistas (Êxodo 35. 30-35). Ele mesmo ensinou a lavrar, semear e colher (Isaías 28, 26s). Às pessoas humanas, foi dada a responsabilidade de guardar e cultivar. Somos lembrados da responsabilidade de guardar e de cultivar a bela criação de Deus. Aliás, a Bíblia se ocupa, em larga escala, com a realidade do trabalho. A necessidade do trabalho não é fruto nem maldição do pecado. Antes da queda, homem e mulher já receberam a incumbência de cultivar e zelar pelo jardim do Éden.

O Deus da Bíblia tem jeito extremamente humano. Identifica suas ações como sendo graciosamente humanas. Ele é o agente da história, e é Deus mesmo quem chama, até em nossos dias, parceiros/as para ajudarem na realização dessa história. É Senhor sábio, criativo, trabalha e exerce assim uma original atividade. À semelhança do artista, nosso Deus molda a criatura humana, qual oleiro ele trabalha com suas mãos o vaso de barro. O Criador nos vocaciona, anima e capacita a co-criar e a re-criar, a partir da chama do amor, este mundo que continua sendo mundo de Deus. Participamos do projeto da vida, prioridade absoluta de Deus. Todo o trabalho executado pelo ser humano jamais será trabalho-escravo! Na qualidade de mordomos de Deus, somos desafiados a preservar a vida, a cultivar a casa da criação. Os frutos da criatividade humana demonstram os valores inerentes a sua existência. Desempenhamos essa tarefa tão nobre, pautados pela liberdade de pesquisar, de experimentar, de desenvolver a ciência a serviço da preservação da vida da criação. Os administradores de Deus estão comprometidos com a manutenção do ciclo da natureza, sem violentá-la ou destruí-la. Por causa do domínio utilitarista sobre o meio ambiente, o ser humano e a tecnologia por ele desenvolvida representam uma séria ameaça à natureza. O ser humano, na ânsia de autonomia, arroga-se o direito de transformar o projeto de vida, vontade de Deus, buscando vantagens próprias. Desde cedo, a terra foi destinada à humanidade para que esta a domine e a sujeite. Os seres humanos, no entanto, usaram essa ordem para solidificar seu poder de concentração de terra, de consumo, de lucros e recursos que a terra oferece, com enorme generosidade.

A espécie humana desenvolveu a ciência tecnológica, cujos frutos, em nossos dias, se encontram à beira da saturação. Nesse processo, as pessoas omitiram a sabedoria, fruto da fé e sinal de prudência, por causa da sabedoria divina. Pessoas humanas tendem a sobrepor-se à criação e às criaturas como se fossem seus senhores. A ordem que traz equilíbrio à criação cedeu seu espaço à desordem e a suas conseqüências: o domínio egoísta e a exploração.

A sociedade humana comemorou há poucos dias o Dia do Trabalho. Data esta que desempenha um papel pedagógico e crítico, por isso necessário à saúde da sociedade moderna. Objetiva o fortalecimento da resistência do povo trabalhador, sempre que desrespeitado, e serve de fonte para novas e maiores esperanças. Permanece o compromisso com a criação. Em meio à crise, ao medo, à exploração e a todas formas de violência, somos lembrados/as de três critérios proféticos orientadores em nossas ações humanas: justiça, integridade e andar com Deus. Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus (Miquéias 6.8).

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 09/05/2003


Autor(a): Manfredo Siegle
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade
Natureza do Texto: Artigo
ID: 7847

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