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Consumismo, Teologia da Prosperidade e a Vida

06/10/2009

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Desde pequena, minha filha descobre a cada ano algum herói nos lançamentos de filmes para crianças, e agora, para adolescentes. Fruto de uma propaganda em massa, os heróis, as músicas e os gestos duram pouco mais de um ano, alguns um pouco mais.

Desde pequeno, meu filho aprende determinado vocabulário com seus colegas. Diz respeito ao divertimento do momento, jogo ou brincadeira que faz parte do dia a dia dos meninos ainda não adolescentes.

Diante da novela vespertina, somos compelidas a consumir alimentos propícios daquela hora. Diante do jogo de futebol, o chamado é para alguma aposta ou jogo de azar. Diante do programa infantil, a propaganda de brinquedos chega a ser agressiva.

Na medida do possível, tento denunciar tais propagandas e agressões, tais apelos e orientações para minhas crianças, para que elas não sejam reféns de um consumismo que aliena e colabora para a destruição de nosso mundo.

Em meio ao burburinho das ofertas cotidianas, algumas vozes se escutam claramente: anunciam cura para problemas financeiros, cura para problemas afetivos. Cartazes e placas falam de horários definidos para pedidos e consequentes retornos. Tanto as vozes como os anúncios escritos fazem parte do mercado, da oferta e da procura individual de gente que quer seus problemas resolvidos, seu sofrimento minimizado.

Em nosso país, não temos uma tradição religiosa que faça parte da cultura do povo. Ora somos designados como um país que já foi católico, ora somos vistos como um país cheio de resquícios de teologias pré-cristãs; ora somos vistos como o povo dividido por igrejas evangélicas, ora somos o povo notadamente espírita.

A Teologia da Prosperidade surge em meio a esse mercado. Traz, em sua bagagem, ritos de outras épocas do cristianismo, em especial, ritos de antes da Reforma de Lutero. Outra parte da bagagem são mensagens alinhadas com práticas contemporâneas de orientação neuro-linguística. Em todo o caso, ela promete um retorno palpável aos mais diferentes pedidos das pessoas que se comprometem a participar um mínimo necessário, para receber o que negociaram.

No meio de tanto “burburinho” teológico, aparecem os problemas nossos de cada dia. Em nosso país cheio de crises éticas, precário no atendimento à saúde e com propostas educacionais que objetivam, tão só, o sucesso financeiro e não o saber que molda outro mundo possível, o manuseio da teologia se torna só mais um elemento a ser domesticado.

É comum ouvir pedidos por orações que tirem as pessoas de momentos tão difíceis como os que são expostas diariamente. O apelo das igrejas que usam da Teologia da Prosperidade encontra, no desespero e na angústia, o seu momento. Mudam-se os problemas, modificam-se os pedidos, moldam-se os costumes: cada dia seu pedido, cada atendimento tem sua prática e sua performance.

Minha filha e meu filho tornam-se iguais a outros filhos e filhas diante das propagandas e do consumo de histórias e de heróis. A igualdade é promovida entre gente que consome produtos que fazem parte da época, da moda: consumismo. Essa igualdade os torna objetos que não conseguem elaborar a sua própria vida em seus conceitos, em seus valores.

Pessoas queridas, de meu convívio, se tornam iguais diante das propagandas de horários e do consumo de orações e ritos. A igualdade é promovida entre gente que consome rezas e rituais pragmáticos: ou ajudam ou procura-se outra ajuda. Essa igualdade as torna objetos incapazes de elaborar sua confissão de fé.

O consumo exacerbado de produtos, envelhecidos precocemente, sem nenhum vínculo maior do que algumas semanas ou meses é semelhante, sim, à Teologia da Prosperidade. O vínculo, a comunhão não é necessária. O que é necessária é a satisfação de desejos individuais, sejam eles frutos de desespero ou de um sonho quase impossível.

Por isso mesmo, assim como às minhas crianças, o remédio é a possibilidade do aconchego, do carinho, do programa alternativo a tanta propaganda. Vê-las como crianças específicas, com identidade, gostos e dificuldades as tornam sujeitos, gente que tem seu espaço e sua vida.

Em comunidades, só a comunhão irá trazer alternativas de vida às pessoas. Ao perceber que a outra pessoa também sofre, também busca superar seus problemas, busca-se maior comunhão, e não a satisfação pessoal e urgente. Pessoas que vivenciam comunhão percebem que não são objetos de uma propaganda gananciosa e enganadora, mas são únicas no chamado de Deus: são filhos e filhas de Deus.

A Teologia da Prosperidade torna as pessoas incapazes de elaborarem sua vida de acordo com os dons e as dádivas que Deus lhes dá. Torna-as iguais diante do desespero e escravas do imediatismo. Farão parte do modelo de consumidores que o sistema econômico exige.

Mais urgente ainda, pois, se torna, o anúncio da certeza de que Deus permanece com seus filhos e filhas, mesmo na cruz, mesmo no sofrimento. O anúncio cristão de Deus nos chama à co-responsabilidade com sua criação e com a própria comunhão. Anima-nos a partilhar o amor, sem a busca compulsiva da prosperidade material.

Margarete Emma Engelbrecht
Pastora da IECLB em Niterói, RJ


Autor(a): Margarete Emma Engelbrecht
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Comunidade de Niterói - Paróquia Esperança (RJ)
Natureza do Texto: Artigo
ID: 8637

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