Alocução de sepultamento
Prezados enlutados!
Não estamos aqui para condenar, julgar e tampouco justificar.
Estamos aqui para nos despedir como familiares, parentes, amigos de um irmão que acompanhamos em sua caminhada abreviada, sem dúvida, mas não isenta de muito sofrimento.
Assim como Deus não condena o pecador, mas sim o pecado, que detesta as ações ofensivas, mas não joga fora a pessoa, assim nos queremos colocar nesta hora. Sempre dependemos exclusivamente da misericórdia de Deus, e a ela nos rendemos neste momento.
Sabemos que é inimaginável a luta de alguém que procura dar fim a sua vida. Marcos não conseguiu resistir às forças destrutivas da morte e sabemos que nenhum de nós está livre de ser vítima delas.
Daí o apelo veemente do apóstolo Paulo em Efésios 6.10-12:
“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.”
Por mais que a ciência avance nos estudos da mente, do “eu” e seu relacionamento com o mundo, com a realidade dos homens e como esta realidade humana influencia psicologicamente, mesmo assim, esta mente constitui-se de um universo ainda insondado e, porque não dizer, misterioso.
Nossa luta não é contra sangue e carne, mas contra estas forças destrutivas. Existe responsabilidade pessoal e coletiva. Agora esta responsabilidade coletiva não pode ser atribuída de forma alguma a esta ou aquela pessoa, pois inúmeras pessoas fazem parte no ato de tecer o tecido, muitas vezes, emaranhado das relações sociais que influenciam a nossa vida. Daí nossa luta contra estas relações dentro de nossa sociedade serem o nosso alvo e não pessoas determinadas.
M. andou a sua “via crucis” e ficamos nós expectadores impotentes. Por isso ele é um marco, um sinal, não para exacerbar o sentimento de culpa, mas, sim, repensarmos cotidianamente que mundo estamos criando, um mundo que não oferece a seus jovens possibilidades de realização pessoal ou então as complica demais, que obscurece o sentido da existência, que apaga a esperança.
M. é um marco de reflexão sobre o sentido da vida, o que somos e fazemos.
Prezados enlutados!
O apóstolo Paulo na perspectiva da fé diz: “ Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos.” – Romanos 14.7-9
Nesta certeza e nesta confiança podemos nos despedir de nosso irmão.
Deus em sua misericórdia é bem maior do que nós imaginamos. Amém.
