O tema e o lema da IECLB, para 2006, nos ensinam que nós oramos, intercendo que Deus transforme o mundo por sua graça e que o serviço mútuo é uma das maneiras de Deus agir para transformá-lo. Certamente, há muitos gestos concretos que evidenciam transformações feitas por Deus, através dos dons que ele dá para as pessoas. Compartilho dois fatos significativos.
Durante os últimos 12 meses, catástrofes naturais e atos humanos dominaram parte das paisagens do planeta e das páginas de jornais, revistas, livros e cenas áudio-visuais. Foram assuntos de conversas nas casas, nas ruas, nos encontros, nas igrejas. Os acontecimentos inspiraram poetas, músicos, teólogos, psicólogos, filósofos, médicos, enfermeiros, pesquisadores, professores e alunos.
Notícias sobre terremoto no Pasquistão, marremoto e tsunami no oceano Índico, furacões na América Central e Estados Unidos, atos terroristas, violência na França, guerras, revoltas em presídios correram quase que instantaneamente pelo mundo. Além destas tragédias, em muitos cantos do mundo houve problemas como, por exemplo, seca na Amazônia, tempestades tropicais, enchentes ou secas, virus H5N1 (gripe aviária), HIV, drogas, violência no trânsito, incompreensões, manipulações, corrupções e tiranias humanas.
Muitos milhões de pessoas sofreram com machucaduras no corpo, na alma e na psiquê, perda de emprego, perda dos bens e, mesmo, a morte. Muitas coisas simplesmente não há como recuperar, como a morte de pessoas queridas, por exemplo. É possível, isto sim, aprender a viver com dignidade, apesar da perda.
Em meio as notícias escabrosas e tristes, um gesto de vida e paz se estabelece entre famílias de povos rivais, isto é, palestinos e israelenses. No início de novembro, o casal palestino Khatib doou os órgãos de seu filho Ahmed, de 12 anos, para duas meninas judias e uma drusa. O menino palestino foi atingido por engano por soldados israelenses, enquanto brincava com seu fuzil de brinquedo. Os jornais do mundo anunciavam que a família palestina expressou seu desejo de ajudar e colaborar para a paz no mundo, numa ação concreta, doando órgãos para um povo rival. Fez um ato de amor, na confiança de que a doação vai levar ao mundo em conflito uma mensagem de paz, de reconciliação e de maneira transformada de viver (fonte: A Gazeta, Cuiabá, MT, 08/11/2005).
O gesto da família Khatid quebra a esperal do ódio, da violência, da vingança. Em seu lugar, nascem e crescem a solidariedade, o compromisso com a vida, a responsabilidade, o respeito mútuo, a reconciliação.
Outro exemplo significativo aconteceu durante o tsunami, em dezembro de 2004. Entre muitos gestos de diferentes povos e pessoas, a menina de 11 anos, Tilly Smith, usou os conhecimentos da escola na vida prática. Ela havia apreendido na aula de Geografia que, quando o mar recua, ele volta com força arrasadora. Ao perceber este comportamento do mar, ela avisou da chegada do Tsunami, na Tailândia, na praia de Khao Lak. Assim, ajudou salvar muitas vidas, porque as pessoas que ela avisou tiveram tempo de caminhar e escapar do impacto das ondas. A sua aprendizagem foi significativa, e ela a usou de maneira sábia e correta (fonte: Folha de São Paulo, São Paulo, SP, 27/12/2005).
Quantos conteúdos são estudados durante o ano? O desafio é relacioná-los com a vida cotidiana. Tilly nos leva para a prática reflexiva. Conhecimento científico, aprendizagem significativa e amor pela vida são instrumentos de transformação, melhorando a qualidade de vida.
Os dois fatos nos ensinam uma maneira sábia, reconciliada, liberta, autônoma e solidária de viver. O desafio é viver numa perspectiva nova, quebrando os nós da violência, da superficialidade, da indiferença, da ignorância e da negligência. Em todos os lugares há gestos que transformam. Uma palavra de ânimo, de esperança, de fé, de confiança, de companheirismo, da mão alcançada, do perdão dado, do ato de solidariedade e reconciliação são significativos. São importantes para melhorar a qualidade dos relacionamentos e da vida.
Estes gestos transformam a vida, a convivência e promovem paz com justiça, superando a violência . Cada pessoa é convidada para se colocar à disposição de Deus, nesta sua missão de transformar o mundo, por sua graça, pois, “sirvam uns aos outros, cada qual conforme o dom que recebeu” (1 Pedro 4.10).
Fonte: P. Teobaldo Witter, Cuiabá, MT
