“O mundo desabou sobre a minha cabeça”, “estou num brete sem saída”, “perdi o chão” – quem de nós já não disse frase semelhante ou ouviu tal desabafo?

Como nesses momentos ainda poderíamos cantar “minha alma entoa um hino de exaltação a Deus” (HPD 257)?

Neste ano o luteranismo mundial comemora os 400 anos de nascimento de Paul Gerhardt (12/3/1607).

Quem de nós já não cantou seus hinos?

Louvor rendamos, nós que a Deus honramos; Com gratidão ao nosso Deus; O sol fulgente, resplandecente; Como hei de receber-te; Vinde a Cristo, ó vinde unidos; Ó fronte ensangüentada; Minha alma entoa um hino de exaltação a Deus; Se Deus está comigo eu tudo hei de enfrentar; Ao todo são 139 hinos de sua autoria, dos quais 19 constam em nosso HPD 1 da IECLB. Paul Gerhardt não escreveu seus versos à beira-mar ou junto a um lago tranqüilo, sendo inspirado e motivado pelo sucesso e bem estar. Ele expressou sua fé em meio a fortes turbulências e tribulações na vida. Ele viveu em meio à guerra dos 30 anos (1618-1648), perdeu seu pai aos 12 anos e sua mãe aos14. Quatro dos seus cinco filhos faleceram ainda crianças. Seu irmão morreu na terrível epidemia de peste. Sua esposa também partiu cedo. Em virtude da guerra perdeu toda a propriedade dos pais. E, por fim, por causa de sua confissão de fé, foi perseguido e lhe tirado o direito de ser pastor e pregar.
 
Pois é, o que ainda resta a este homem?
 
Mesmo em meio a tantos, e seguidos, golpes na vida, Paul Gerhardt escreve e canta, pois sabe que “refúgio e fortaleza é Deus, o meu Senhor. Em todos os momentos me guarda a sua mão, abranda os sofrimentos, assiste na aflição” (HPD 160,2). Em outro hino ele diz: “no mal não desespero, pois tenho o teu amor” (HPD 217,5). Saber do amor do Pai o segura na vida. Que fantástico!
 
Sim, ele também deixa claro o fundamento de sua vida, que não deixa a casa cair em meio às tempestades - “a base em que me fundo, é Cristo e o sangue seu; ele é aqui no mundo o bem eterno meu” (HPD 160,3). “Se Deus está comigo eu tudo hei de enfrentar”, essas palavras não são ditas só da boca pra fora, elas passaram por dura prova. Os hinos de Paul Gerhardt são convicção e confissão de fé, são doutrina, são como salmos recompostos, são louvor, são boa nova. Vale a pena redescobrir a profundidade de seus hinos e deixar que nossa alma os entoe.
 
Paul Gerhardt diz: “das was mich singen machet, ist, was im Himmel ist“. O que está no céu é o que me faz cantar - que também essa seja a nossa motivação, o porquê de nossa alma cantar. Só então, o nosso canto será um encanto.

                                                                                Mariane Beyer Ehrat
                                                                                       Pastora Sinodal
                                                                              Sínodo Vale do Itajaí