Jornal Evangélico é o retrato do João Teimoso

EDITORES DO JOREV

01/08/1988

Jornal Evangélico é o retrato do João Teimoso

Edelberto Behs

Vocês conhecem o João Teimoso? É aquele boneco de plástico, com um peso na base, assim que, mesmo levando tapa e socos da criançada, sempre se põe de novo na posição vertical. Pois é assim que vejo o Jornal Evangélico. É assim que o conheci e o vivenciei, algumas vezes com maior outras vezes com menor intensidade, nos 12 anos que nele trabalhei. Não me refiro tanto a questões editoriais, que, dependendo do tema abordado na edição entravam em ebulição, mas do ponto de vista financeiro-econômico.

Relembro a palavra de dois pastores: um simpatizante do Jornal Evangélico (JOREV) e outro que preferiria ver o periódico com uma linha editorial diferente, mais voltada aos assuntos celestiais. Disse-me o primeiro, certa ocasião: Que o JOREV ainda vive é um verdadeiro milagre do Espírito Santo. E o segundo: Se o JOREV não aumenta o número de seus assinantes, isso mostra que o trabalho de vocês não é abençoado por Deus. Ambos estavam por dentro da situação do jornal, com dificuldades financeiras e número de assinaturas estacionário.

Vagava-se, então, segundo esses conceitos, entre o milagre e a não bem-aventurança. Mas será que é só isso? O milagre era e é possível na medida em que pessoas, nas comunidades, especialmente pastores, se colocam por detrás do jornal, o divulgam e se esforçam, ou, melhor ainda, delegam esta tarefa a agentes, na angariação de assinaturas. E cai-se no outro lado, onde este esforço não está presente. Acredito que a situação não tenha se alterado nos dias de hoje.

BOM ESPAÇO

O JOREV é, sem dúvida, o veículo mais importante que circula pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e, ainda, o de maior abrangência, tanto física quanto editorial. A Igreja permite ao jornal um bom espaço de atuação e delega uma tarefa à Editora Sinodal (à qual o JOREV está vinculado): façam jornal e tratem de se automanter. É chamada, no entanto, a dar seu aval aos pedidos de socorro por verbas do exterior, que acontecem de quando em vez.

A postura é boa. Acontece, porém, que é muito difícil, cá no Brasil, fazer um jornalismo eclesiástico — e nem vamos entrar no mérito de matérias —, pois jornal de igreja, parece ser o conceito, não vende o produto dos anunciantes. Muitos empresários anunciam para colaborar, quando o jornal pretende, também para este segmento, ser um veículo de comunicação. Só com muita persistência e trabalho duro é que poderá demonstrá-lo.

Até lá, terá que continuar o esforço concentrado — e desgastante — de deslocamentos pelo país para uma comunidade em foco. E publicidade para uma edição apenas, o que deixa um editor, com 24 edições anuais pela frente, intranquilo.

SITUAÇÃO DESGASTANTE

Já houve tentativa de mudar essa relação do JOREV com a IECLB. Recordo que, no Concilio Geral de Cachoeira do Sul, um conciliar apresentou a sugestão de a Igreja se envolver mais na sustentação financeira do JOREV. A proposta não passou, talvez, por ser considerada um tanto paternalista.

Mas há outras alternativas. Se as comunidades da IECLB se comprometessem a assumir apenas dez assinaturas, o número de assinantes aumentará em 50% sobre o existente na atualidade. Comunidades maiores poderiam arcar com bem mais exemplares. Recordo, também que, num determinado ano, o orçamento de um dos tantos jornais eclesiásticos na Alemanha Ocidental era maior que o orçamento de toda a IECLB. Coisas de país rico.

Verdade é que toda essa insegurança financeira, ainda mais nesses tempos agudos pela qual passa a economia nacional, gera angústia e tensão na redação do JOREV, o que é ruim. Às vezes, não há tranquilidade suficiente para trabalhar bem as matérias, pois existe sempre a preocupação do caixa. Essa situação também limita a própria atuação do JOREV. Para não gastar, não se viaja — restringe-se a cobertura de fatos —, as fotos diminuem e o número de páginas fica mais magro.

AÇÃO PRÁTICA

Pela importância que o jornal conquistou na IECLB, ele poderia ser o desencadeadors de campanhas, até de metas, na própria Igreja. A IECLB teria mais força de ação, assim como acontece no estudo de temas bianuais, se todos os Distritos se dessem as mãos e, por um determinado espaço de tempo, cuidassem, por exemplo, da boa Criação de Deus, desembocando numa campanha ecológica, de preservação de matas e de rios. Não seria apenas o estudo de um tema, mas uma ação prática. Mas o luterano, ao contrário do que se viu durante o movimento da Reforma no século XVI, se mostra tímido, avesso até, a manifestações políticas mais audazes.

Seria lamentável, quando se comemora cem anos de imprensa evangélica na IECLB, cuja herança o JOREV acumula, que esse importante veículo se visse ameaçado na sua existência. Além de uma definição administrativa que precisa acontecer na Editora Sinodal, é tempo de toda Igreja somar esforços em torno do JOREV. Aquele metal, na base do João Teimoso, pode um dia se desgastar e o boneco teimar em ficar na horizontal.


Edelberto Behs, jornalista e bacharel em Teologia, atuou no Jornal Evangélico de 1974 até 1986. De abril de 1974 ate julho de 1975, como redator estagiário; de setembro de 1975 até agosto de 1978, como redator responsável, e a partir de então até maio de 1986, como editor. Hoje é assessor de imprensa da IECLB.


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Autor(a): Edelberto Behs
Âmbito: IECLB
ID: 32177
HISTÓRIA
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