1 Reis 19.1-8 (9-13a)

Auxílio Homilético

10/08/1997

Prédica: 1 Reis 19.1-8 (9-13a)
Leituras: Efésios 4.30-5.2 e João 6.41-51
Autor: Renato L. Becker e Ilmar Borchardt
Data Litúrgica: 12º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 10/08/1997
Proclamar Libertação - Volume: XXII


1. O Contexto

Depois de Salomão Israel se dividiu nos reinos do Norte (Israel) e do Sul (Judá). No Reino do Norte vários reis de ascendências distintas se sucederam: Jeroboão e seu filho Nabade; Baasa e seu filho Ela; e depois Zinri. Foram quase sempre reinados curtos e interrompidos por golpes de Estado.

Acabe, filho de Zinri, é o rei no texto em exame. Ele foi considerado, pelo escritor, pior do que todos os que o antecederam (16.30 e 33). Em seu reinado Jericó foi reedificada, contrariando a determinação de Josué (Js 6.26). Acabe fez alianças com os sidônios (fenícios) e casou-se com Jezabel, filha do rei fenício. Talvez por influência de Jezabel e dos sacerdotes que trouxe consigo, Acabe passou a cultuar a Baal, erigindo um templo em Samaria (16.31).

Elias foi o profeta de plantão (17.1). Como sinal da indignação de Deus, ele anunciou uma grande seca, que durou cerca de três anos. Durante esse período, Elias se escondeu, sendo alimentado com pão e carne por corvos (17.2-6), e, depois, com um resto de farinha e óleo, que nunca acabaram, na casa de uma viúva (17.8-16). Ele ressuscitou o filho dessa viúva (17.17-23).

Elias voltou e pediu que se reunissem os representantes do povo e os 450 sacerdotes de Baal no Monte Carmelo. Desafiou-os a invocarem o seu deus, enquanto que ele invocaria o Senhor, pedindo que respondesse com fogo sobre um dos altares preparados no local. Os sacerdotes de Baal clamaram por esse deus, dançaram e se flagelaram. Elias zombou deles, dizendo que gritassem. Talvez Baal estivesse dormindo, talvez estivesse no banheiro. Depois de cansá-los, pediu que o altar de Deus fosse molhado completamente por três vezes. Invocou o Senhor, e não só o altar e o novilho do sacrifício, mas toda a redondeza foram queimados pelo fogo. O povo reconheceu que o Senhor é Deus. Mataram, em seguida, todos os sacerdotes de Baal.

Elias anunciou o fim das chuvas (18.41). Foi um período de recomeço, de reconciliação.

2. O Texto

No texto, Jezabel soube de tudo o que acontecera e mandou um mensageiro a filias, dizendo que amanhã, a esta hora, ele estaria morto.

Elias ficou com medo e fugiu. Caminhou um dia e sentou-se debaixo de um zimbro. Pediu para morrer. Dormiu e foi acordado por um anjo que lhe deu comida. Ele dormiu de novo. Pela segunda vez o anjo o acordou, dizendo que se preparasse para uma longa jornada. Elias caminhou 40 dias e noites até o Monte Horebe, a mesma montanha onde Deus se revelara duas vezes a Moisés.

O profeta refugiou-se numa caverna. Deus perguntou o que ele fazia ali. Elias reclamou da vida. Disse que tinha sido um profeta zeloso, que somente ele restou e agora tentavam lhe tirar a vida.

Ele foi até o lado de fora da caverna. Naquele momento soprou um vento muito forte (que quebrava pedras), mas Deus não estava nele. Houve um terre¬moto, mas Deus não estava nele. E depois veio o fogo, mas Deus não estava nele. Mais tarde soprou uma brisa suave, e Deus se apresentou a ele, perguntando novamente: Que fazes aqui, Elias? Elias repetiu a queixa.

Já na continuidade do texto, Deus o fez ver que havia perspectivas. Além de apresentar o novo rei e o novo profeta, seu sucessor, que seriam ungidos por ele, informou que havia outros sete mil em Israel que não se renderam a Baal (19.15-18).

3. Alguns Desenvolvimentos

O povo estava longe de Deus. A adoração a Baal e os postes-ídolos se multiplicavam.

Elias, ao lado de Moisés, talvez. sejam as figuras proféticas de maior vigor no contexto do Antigo Testamento. Os sinais e mensagens das quais Elias foi portador são impressionantes. Como pode alguém ler coragem de desafiar uma nação inteira (cap. 18)? Como pode alguém chamar o rei e sua família cie flagelo de Israel (18.18)? A convicção de que Deus o respaldava era única. Talvez de modo superficial, mas o povo reconheceu, após o sinal no Monte Carmelo, que o Senhor é Deus. Talvez fosse o início da vitória do profeta. Talvez a nação se reconciliasse com Deus a partir daquele evento.

Mas a ameaça à vida, enviada por uma mulher, o amedrontou. Ele não viu mais sentido para a vida; não viu perspectiva alguma no horizonte. Só ele restou. Exagerou no pessimismo, pois se esqueceu da proteção de Deus, de todos os sinais e das pessoas com quem convivera e que, sem dúvida, não o deixavam só.

Há alguma semelhança, nessa experiência, com a crise pela qual Jonas passou (Jn 4). Também Jonas pediu a morte para si depois de ver a cidade de Nínive se voltar para Deus. Não havia razão conjuntural para crise.

Elias estava em crise, deprimido. Considerava o seu fardo pesado demais. Tinha de ser sempre um miserável porta-voz das desgraças.

O modo cuidadoso como Deus o tratou e o respeito que demonstrou pelos seus sentimentos permitem-nos dizer que dos servos de Deus, dos seus profetas, não se exige que sejam fortalezas ambulantes. É permitido e é normal que vivam a sua humanidade, que tenham crises. A crise é um processo terapêutico, de aprendizado.

Por trás de todo o processo de restauração do povo, na luta contra um regime em que o rei pensava mais no capim dos seus cavalos do que na fome do povo (18.2-5), na destruição da falsa adoração, havia este homem em particular pelo qual Deus se interessou. Na narrativa do texto de l Rs, onde os conflitos da dinastia reinante, dos clérigos corruptos e de um povo sofrido se sucedem, parece que se abre espaço para falar sobre o drama pessoal de um profeta.

Muitos outros — Abraão, Jacó, Jonas, o grupo dos discípulos no início da narrativa de Atos, etc. — tiveram dramas semelhantes. Parece sempre que Deus estreita temporariamente a sua agenda histórica para falar com um indivíduo ou grupo. Deus nos permite isso. Podemos suplicar inúmeras vezes, lutar noites inteiras com Deus, chorar, pedir a morte. Ele nos escuta e no devido tempo nos fala.

O processo terapêutico também é algo para o qual devemos atentar. Deus seguiu, no caso de Elias, alguns passos. Ele o fez dormir, comer e dormir novamente, restabelecendo o seu vigor físico. Ele o fez retirar-se, para confrontar o profeta consigo mesmo e com Deus, longe do ruído do mundo que o cercava. Não foi uma caminhada de meia hora para espairecer, mas foram 40 dias! Em 40 dias deu para repensar a vida muitas vezes. Fez perguntas a respeito de sua ação. Permitiu que os elementos da natureza mostrassem sua fúria, extravasando a própria fúria do profeta. E, por fim, deu esperança, abrindo-lhe os olhos, mostrando outros sete mil iguais a ele (19.15). Elias reencontrou-se consigo e com Deus (Spurgeon, 39).

Somente quando reconhecemos a nossa fraqueza e limitações humanas e reconsideramos de novo o Senhor podemos partir para novas realizações dentro do Reino. Quando Deus nos mostra as novas perspectivas conseguimos sair para novas realizações. O Senhor é a nossa força.
E lá foi, de novo, o servo Elias cumprir o seu papel de profeta (19.19). Encontrou Eliseu, seu sucessor. Eliseu ungiria o novo rei de Israel. Encontrou-se várias vezes com o instável e volúvel rei Acabe.

4. Questões para Reflexão

Podemos, a partir do texto e de seu desenvolvimento, fazer alguns questionamentos dentro do contexto pessoal e comunitário:

Quem é a nossa Jezabel? Qual é a pequena ameaça que nos faz correr amedrontados?
Em que situações, como pessoas e como grupo, temos sido levados à depressão? O que essa depressão tem significado para nós?

Qual a terapêutica que Deus tem usado conosco? Que sinais ele tem nos mostrado?
O que respondemos quando Deus nos pergunta: O que fazes? Como fazemos as nossas reavaliações?

Que sinais de esperança Deus tem para nós?

5. Bibliografia

DREHER, Carlos A. l Reis 19.1-13a. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo, Sinodal, 1992. vol. XVIII, pp. 204-212.
FREITAG, Clemente J. l Reis 19.1-13a. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo, Sinodal, 1988. vol. XIV, pp. 185-191.
HOMBURG, Klaus. Introdução ao Antigo Testamento. São Leopoldo, Sinodal, 1976. pp. 97-107. SPURGEON, C. H. Spurgeon ainda Fala. São Paulo, Vida Nova, 1978. pp. 28-41.


Autor(a): Renato Becker e Ilmar Borchardt
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 12º Domingo após Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Reis I / Capitulo: 19 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1996 / Volume: 22
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17657
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