2 Coríntios 5.6-10

Auxilio Homilético

19/06/1994

Prédica: 2 Coríntios 5.6-10
Leituras: Ezequiel 17.22-24 e Marcos 4.26-34
Autor: Nélio Schneider
Data Litúrgica: 4º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 19/06/1994
Proclamar Libertação - Volume: XIX


A vida na terra será menos pesada se não perdermos o céu de vista. - Peter Helbich

1. Contexto de 2 Co 5.6-10

Nossa perícope está inserida no contexto literário maior da carta aos coríntios, na qual Paulo defende o seu apostolado (2.14-7.4). O objetivo do apostolado é transmitir vida (2.16; 3.6); ele se caracteriza por ser ministério do Espírito Santo (3.8-18), cheio de glória (v. 9-11), proporcionando vida, justiça e liberdade. O agente deste ministério, o apóstolo mesmo, não espelha ainda a glória, mas a fraqueza e o sofrimento do tempo presente (4.1-18). Por isto ele espera ansiosamente a chegada do tempo em que será revestido definitivamente dessa glória incomparável (4.16-18). Isto dá ânimo ao apóstolo de andar, não na certeza do que se vê, mas pelo que não se vê, isto é, pela fé e pela esperança. Pois o que se vê, o sofrimento, a perseguição, a tribulação, as marcas da morte de Cristo (4.10), isto é passageiro. O que não se vê, i. e. a promessa de Deus no evangelho, isto é eterno.

Esta afirmação em 4.18 leva ao tema de 5.1-10, onde Paulo tematiza a espe¬rança de estar com Cristo. Em 5.1-5 Paulo descreve mais uma vez o conteúdo da esperança cristã. Nós já não se refere mais somente ao apóstolo, mas a todas as pessoas cristãs. Para descrever o inimaginável Paulo usa novamente duas metáforas: tenda/casa e despir-se/vestir-se. A ressurreição futura significa deixar a nossa habitação provisória (tenda = corpo mortal) e receber uma casa feita por Deus, eterna (um corpo celestial - l Co 15). Esta imagem se confunde com a de despir/vestir. Nossa vestimenta atual (= corpo) não vai ser despida, mas revestida de outra melhor, que contém vida e que vai eliminar a condição mortal da atual. Pois no presente momento gememos de dor e angústia, por causa de todo sofrimento (Rm 8). Mas Deus mesmo nos assegura que a morte será vencida pela vida quando nos deu o Espírito Santo como garantia. Esta esperança é, para Paulo, a base para animar seus leitores com as palavras de nossa perícope.

Isto nos dá uma orientação homilética: também nós falaremos com a intenção de animar nossos ouvintes em meio aos sofrimentos do tempo presente e mostrar-lhes o conteúdo da esperança cristã.

2. O texto

A perspectiva do texto é determinada por dois verbos: partir(para uma viagem) e estar em casa (v. 6, 8 e 9). Com eles Paulo caracteriza a vida cristã. Implícita está a promessa de que um dia a pessoa cristã irá mudar de casa, isto é, de sair da atual habitação no corpo e morar com o Senhor. Embora esta mudança seja ansiosamente esperada, a verdadeira morada do cristão e sempre ali onde ele, no atual momento, está vivendo. A função da esperança é dar coragem para assumir a vida dentro da realidade atual. E é este exatamente o objetivo básico do texto: animar o/a leitor/a, firmar-lhe a confiança (v. 6 e 8). A razão da confiança é a garantia de vida nova, representada pelo Espírito Santo (v. 4-5). O ânimo para o labor diário vem, portanto, da fé (v. 7). Confiança e ânimo não procedem daquilo que se vê atualmente (v. 7). A fé olha para além da realidade; ela tem o olhar fixo no Senhor.

Este fato tem três consequências:

a) A fé preserva o ânimo apesar da existência corporal na realidade presente, expressa pelo trocadilho estar presente no corpo/ ausentar-se do Senhor (v. 6);

b) Inerente à fé é o anseio por superar a realidade presente e viver junto do Senhor (ausentar-se do corpo/estar presente com o Senhor: v. 8);

c) Esse anseio não pode ser realizado de qualquer jeito; o critério está claro: diante do juízo de Deus (v. 10) importa andar pela fé e procurar agradar a Deus em qualquer circunstância (v. 9).

Exegeticamente podemos destacar os seguintes pontos:

a) Na atual circunstância e diante do juízo de Deus nossa confiança se baseia na promessa de Deus na perspectiva da fé e do fato de procurarmos agradar a Deus em todas as situações.

b) Nosso anseio de estarmos com Deus (compare Fp l .23) não nos deve levar a desprezar a realidade corporal presente. Muito mais devemos encará-la como oportunidade de praticarmos o bem (v. 10) e, assim, de agradarmos a Deus.

c) Ainda não estamos com um pé na outra realidade. Não podemos viver divididos. Enquanto vivermos na realidade atual, estamos totalmente integrados neste mundo. É aqui que devemos viver nossa responsabilidade. A escatologia não é fuga. A utopia da união com Deus é o motor da ética. É a esperança que dá força e ânimo para a ação coerente e confiante agora.

3. Impulsos para a prédica

O nosso texto pode ser dirigido para duas perspectivas:

a) Contra uma fuga do mundo baseada em promessas religiosas como superação de uma realidade de sofrimento e desesperança. O texto usa a esperança futura para animar o engajamento/a luta dentro da realidade presente.

Severino, retirante, muita diferença faz entre lutar com as mãos e abandoná-las para trás, porque ao menos esse mar [da miséria] não pode adiantar-se mais. (João Cabral de Melo Neto)

b) Contra a desesperança que gera um apego a este mundo, como se a promessa de Deus não existisse. Esta posição caracteriza quem anda só pelo que vê e abandona a perspectiva da partida, da finitude. Somente quem se põe a caminho sabe o que de fato tem. A vida cristã é marcada pela iminência da partida para a terra prometida. Abraão, sai da tua casa segura em Harã, abandona a morada construída com as pedras da dureza de coração. Eu te mostrarei uma terra onde poderás viver sem saudade: Canaã. Lá poderás te sentir em casa onde quer que armares a tua tenda.

c) Somente quem coloca sua esperança na eternidade divina consegue dominar o tempo presente. Ele não considera o presente como definitivo. Toda realidade terrena é temporária - também seus aspectos bonitos e extasiantes. Porém, isto não nos desobriga de maneira alguma de construir o presente da melhor maneira possível... Estar a caminho também significa mobilizar todas as forças para chegar ao destino de nossa viagem. E o destino de nossa viagem é Deus, pois com Deus está a morada de cada pessoa. É dele que temos saudade (Peter Helbich).

É Deus quem está com a palavra final, à qual nós tentamos já agora corresponder. É dele que vem as transformações decisivas que levam avante o seu projeto. É seu juízo que, no final, irá exaltar e derrubar (Ez 17.24), é ele que faz de uma pequena semente uma nova realidade de colheita e proteção (Mc 4.26-34).


Autor(a): Nélio Schneider
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 4º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Coríntios II / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 6 / Versículo Final: 10
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1993 / Volume: 19
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 16144
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Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria nem o forte na sua força nem o rico nas suas riquezas, mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que Eu sou o Senhor e faço misericórdia.
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