Atos 8.26-40

Auxílio Homilético

21/04/1991

Prédica: Atos 8.26-40
Leituras: 1 João 3.18-24 e João 15.1-8
Autor: Claudete Beise Ulrich e Carlos Luiz Ulrich
Data Litúrgica: 5º. Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 21/04/1991
Proclamar Libertação - Volume: XVI

1. O texto

1.1. Tentativa de tradução

O texto indicado para o 5° Domingo da Páscoa (Cantate) é Atos 8.26-40. Inicialmente, o lemos e traduzimos. Sugerimos a tradução que está abaixo. Isto porque todo texto lido e traduzido no original proporciona uma melhor e mais profunda compreensão do mesmo. A tradução permite uma entrada mais segura e fiel no texto, facilitando a interpretação. Vamos à tradução:

26 — Um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te e vai para o sul pelo caminho que desce de Jerusalém para Gaza, ele é deserto.

27 — Levantou-se e foi. E eis que um varão etíope, eunuco, alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, que era o maior dos tesoureiros dela, viera adorar em Jerusalém,

28 — estava voltando no seu carro e lendo o profeta Isaías.

29 — Disse também o Espírito a Filipe: Aproxima-te e acompanha o seu carro.

30 — Correndo Filipe ouviu que ele estava lendo o profeta Isaías e disse: Compreendes o que está lendo?

31 — Ele disse: Como poderei (compreender) se alguém não me guiar (ensinar, instruir)? Pediu para Filipe subir (e) assentar-se junto a ele.

32 — Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Como ovelha para o matadouro foi levado; e como um cordeiro em frente do seu tosquiador mudo, assim não abre a sua boca.

33 — Na humilhação (dele) a sentença dele foi tirada. Da geração dele quem contará? Porque foi tirada da terra a vida dele.

34 — Respondendo então o eunuco a Filipe disse: Rogo a ti, em relação a quem o profeta fala isto? Em relação a si mesmo ou em relação a algum outro?

35 — Abrindo então Filipe a sua boca e iniciando por esta passagem anunciou-lhe Jesus.

36 — Então, seguindo o caminho, chegando onde (havia) água, disse o eunuco: Eis aqui água, que impede que eu seja batizado?

38 — E mandou parar o carro e desceram ambos à água, Filipe e o eunuco, e (Filipe) batizou ele.

39 — Enquanto, porém, subiam da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e, não o vendo mais o eunuco, continuou pois seu caminho cheio de alegria.

40 — Filipe, porém, achando-se em Azoto, e passando evangelizava todas as cidades até chegar ele em Cesareia.

1.1.1. Observações sobre a tradução

Olhando algumas traduções (Bíblia de Jerusalém, João Ferreira de Almeida - A Bíblia Sagrada, A Bíblia na Linguagem de Hoje), percebem-se algumas diferenças (de caráter interpretativo). Em relação à Bíblia Sagrada (João Ferreira de Almeida), a mais usada em nossa Igreja — IECLB —, há a inclusão do v. 37 (Almeida também a coloca entre colchetes), que não faz parte do texto original. No texto grego, o v. 37 aparece apenas no aparato crítico. O v. 37 é uma profissão de fé, acrescentado, provavelmente, por influência de uma liturgia do Batismo. Por este motivo, por ser um acréscimo posterior, nós não o incluímos em nossa tradução. Também porque a inclusão deste versículo influencia a interpretação do texto.

1.2. Estrutura do texto

v. 26 — Aparição do anjo do Senhor; envia a Filipe: Levanta-te e vai...

vv. 27-28 — Apresentação do etíope — eunuco,

v. 29 — Intervenção do Espírito, dando uma ordem a Filipe: Aproxima-te e acompanha.

vv. 30-35 — Encontro entre Filipe e o etíope: diálogo explicativo sobre a passagem do profeta Isaías e é anunciado Jesus.

vv. 36-38 — Diálogo entre Filipe e o etíope: Batismo do etíope, vv. 39-40 — Outra intervenção do Espírito do Senhor e o envio de Filipe para Azo¬to até chegar em Cesaréia.

1.3. Gênero literário

A composição e estruturação do texto sugere o desenrolar de uma narração. Os acontecimentos se desenrolam numa dinâmica interessante, podendo-se detectar quatro momentos marcantes.

De início aparece o anjo do Senhor a Felipe e lhe dá a ordem: Levanta-te e vai... Após, acontece a apresentação do etíope, eunuco. Em seguida, com a intervenção do Espírito que ordena: Aproxima-te e acompanha, dá-se o encontro de Filipe com o etíope. Neste encontro acontece acolhimento mútuo. Filipe e o etíope sentam-se juntos no carro.

No segundo momento, estabelecem-se o diálogo e a explicação a partir da passagem do profeta Isaías que o etíope estava lendo. Este momento culmina quando Filipe anuncia Jesus ao etíope.

Já no terceiro momento acontece algo novo e inusitado. Chegando a determinado lugar onde havia água, o etíope pede para ser batizado.

Realizado o Batismo, há outra intervenção do Espírito arrebatando Filipe para outro lugar. O etíope, no entanto, segue o seu caminho cheio de alegria. Este é o quarto momento significativo do texto.

Pode-se, portanto, perceber que o fio condutor deste texto é um processo de ensino-aprendizagem, desdobrando-se numa espécie de narrativa catequética.

1.4. Passos catequéticos

Na perícope em estudo podem-se detectar três passos de uma catequese:

1 ° passo: Acontece o encontro e o contato entre o catequista (Filipe) e o catequizado (etíope, eunuco), nos vv. 29-31. Filipe se aproxima, acompanha, ouve e pergunta: Compreendes o que estás lendo? Ele é acolhido pelo etíope, que lhe responde: Como poderei (compreender) se alguém não me explica? O etíope pede para Filipe subir e assentar-se junto com ele no carro.

2° passo: Filipe toma conhecimento da passagem que o etíope eunuco estava lendo. Escuta a pergunta do catequizando: Rogo a ti, em relação a quem o profeta fala isto? em relação a si mesmo ou em relação a algum outro? Filipe explica a passagem de Isaías e lhe anuncia Jesus (vv. 32-25).

3° passo: O catequizando faz uma nova pergunta: Eis aqui água, que impede que eu seja batizado? Acontece o Batismo do etíope. Ele segue o seu caminho cheio de alegria, vv. 36-39.

O diálogo entre Filipe e o etíope é uma constante. É interessante observar que na raiz de cada passo da catequese há um mandato divino. Fica evidente que o autor, pelo seu jeito de expor a história, quer mostrar que Filipe é enviado e age, recebendo o impulso do Espírito.
Queremos continuar a reflexão do texto perguntando, agora, pela sua palavra.

1.5. A palavra do texto

Inicialmente, temos a intervenção de um anjo do Senhor (aggelos de Kuriou) que exprime uma vontade de Deus (Lc 1.11; At 5.19; 10.3; 12.8; 12.23; 27.23). O uso do anjo do Senhor como aquele que envia, que diz o que fazer e para onde ir, remete ao Antigo Testamento (2 Re 1.3; 1.15). Assim, também lembra fatos da vida de Elias e Eliseu.

O anjo do Senhor falou para Filipe, dizendo: Levanta-te e vai... O imperativo poreuou — vai — é o mesmo radical do verbo que aparece em Mt 28.19 (poreutentes — ide). Portanto, esta ordem do anjo a Filipe lembra a missão dada por Jesus; assim como o sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra (At 1.8).

O anjo do Senhor não só ordena, mas também indica o local onde Filipe deve ir: para o sul pelo caminho que desce de Jerusalém para Gaza: ele é deserto. Gaza é a última cidade antes de chegar ao Egito. O caminho citado aqui é o caminho para o Egito. (Comblin, p. 174.)

Sem hesitar, Filipe acata a ordem do anjo do Senhor: levantou-se e foi. No entanto, a partir da perícope em estudos não se sabe quem é este Filipe. Mas descobre-se quem ele é olhando para todo o livro de Atos. Provavelmente, este Filipe é o mesmo que aparece no texto anterior, At 8.5-25, em Samaria. Entretanto, o texto em estudo não nos dá nenhuma informação de como e quando Filipe se deslocou de Samaria até Gaza. Além disto, Filipe, provavelmente, é aquele instituído como diácono (Atos 6.1-7, onde consta que foram escolhidos sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria. Elegeram Estêvão, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau. Somente Estêvão e Filipe aparecem atuando também na pregação e catequese, em textos de Atos) pelo apóstolos, tendo sido escolhido pela comunidade helenista. Assim sendo, possivelmente, o nosso texto é uma narração catequética que mostra o mundo cristão criado pelo helenistas (Comblin, p. 171). O texto anterior, onde Filipe figura, deixa claro que a atividade missionária dos diáconos (dos sete) se subordina aos apóstolos de Jerusalém (At 8.14-25).

O nosso texto fala pouco sobre Filipe, em contrapartida apresenta muitos detalhes sobre o segundo personagem. Ele é apresentado nos vv. 27-28: E eis que um varão etíope, eunuco, alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, que era o maior dos tesoureiros dela, viera adorar em Jerusalém, estava voltando e sentado no seu carro e lendo o profeta Isaías. Chama a atenção que, apesar de tanta descrição, o nome do Aithíops eunouchos não aparece. Cremos que a ordem como é apresenta as qualificações deste segundo personagem, mostra que o peso está no fato de ser etíope.

O nome etíope encontra-se no NT somente neste versículo. O termo etíope pode significar qualquer negro africano, segundo Comblin, p. 174.

Porém ele é apresentado como alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia, sendo o maior dos tesoureiros dela. O termo Candace era um título hereditário, assim como o título faraó. Candace era o título das rainhas-mães que governavam o reino de Meroé. Portanto, o termo Etiópia (citado no texto) não se refere ao moderno país de hoje com o mesmo nome, mas ao antigo reino de Meroé, ou da Núbia. É a região conhecida hoje pelo norte do Sudão, ao sul do Egito, no continente africano. Assim sendo, o etíope de nosso texto é, provavelmente, um negro proveniente do reino de Meroé.

Esta perícope ainda apresenta outras qualificações do etíope. Também nos diz que era eunouchos, eunuco. O termo eunuco normalmente indicava alguém castrado. Este era um costume antigo para os funcionários que trabalhavam com a rainha. Segundo a lei (Dt 23.1), os eunucos eram proibidos de entrar no templo em Jerusalém. O texto de Is 56.3-8, no entanto, indica que também no futuro os eunucos serão incluídos na adoração. Por outro lado, o uso do termo eunuco havia se tornado comum, podendo significar um alto funcionário da rainha. Mas se o etíope era eunuco de verdade, não poderia ter adorado no templo de Jerusalém. Porém o texto nos diz que ele viera adorar em Jerusalém. Este fato nos leva a perguntar: será que o autor do texto e o eunuco não estavam pensando no texto de Isaías 56.3-8 (Comblin, p. 174)?

Este etíope, eunuco, alto funcionário de Candace, viera adorar em Jerusalém. Esta colocação é equivalente a adorador de Deus ou temente a Deus. Eram pagãos que se aproximavam com simpatia da fé judaica, mas não davam o passo de uma adesão clara como os prosélitos (CEBI, p. 57; Antoniazzi, p. 83).

Ele estava retornando de Jerusalém sentado no seu carro, lendo em voz alia Ler em voz alta era um costume da época. O etíope, eunuco era um homem privilegiado. Sendo um alto funcionário, maior dos tesouros da rainha, possivelmente era rico. Possuir um exemplar da Escritura era privilégio de poucos. O preço de um exemplar era mais do que o salário de um trabalhador por um ano inteiro. (Boyer, p. 110.)

A passagem que ele estava lendo, do profeta Isaías, era da Septuaginta e não do hebraico. Isto, possivelmente, por estar atrás desta narrativa o mundo cristão cria do pelo helenistas.

Novamente, o Espírito fala a Filipe: Aproxima-te e acompanha o seu carro. Esta era a nova tarefa dada a Filipe: aproximar-se do etíope. Percebe-se que os atos de Filipe são cumprimento de mandato divino. Ele é apenas um instrumento, colocando os seus dons a serviço do Espírito.
Filipe está sempre em movimento. Correndo... ouviu... que o etíope estava lendo o profeta Isaías. Filipe mostra sensibilidade, sabendo colocar-se ao lado do etíope. Ele assume sua tarefa de catequista, perguntando: Compreendes o que estás lendo? Aquele homem rico tem uma resposta humilde: Como poderei (compreender) se alguém não me guiar (ensinar, instruir)? Ir adorar em Jerusalém não significava ainda ter entendido a Escritura. Só ler a Escritura não é suficiente, é ne¬cessário compreendê-la. Filipe coloca-se à disposição neste processo de ensino-aprendizagem, tendo sido enviado pelo Espírito.

Assim, é convidado pelo etíope a sentar-se com ele no carro. A preposição sun, com, é um associativo instrumental, expressando cooperação, intimidade. Portanto, entre o catequista (Filipe) e o catequizando (etíope) cria-se uma relação de intimidade, de confiança. O etíope, então, roga a Filipe que explique sobre quem fala a passagem de Isaías 53.7-8 (citado no texto na versão da Septuaginta). Por um lado, soa estranho porque ele não pergunta o significado deste texto. O etíope pergunta: Em relação a quem o profeta fala isto? Em relação a si mesmo ou em relação algum outro?

Neste texto da Septuaginta (que modifica um pouco o original hebraico) de Isaías 53.7-8 transparece a cristologia do autor. Nos versículos 32 e 33 de nosso texto (citação de Is 53.7-8) nós encontramos um esquema antitético, exprimindo a cristologia da humilhação-exaltação, segundo Comblin, p. 175. Teríamos assim no v. 32 a parte que fala da humilhação e no v. 33 a parte que fala da exaltação. É corrente no livro de Atos o esquema antitético que fala da morte-ressurreição de Jesus, como podemos ler, por exemplo, em At 3.14-15; 5.30-31; 13.27-30. Por outro lado, citando um texto do Antigo Testamento onde transparece sofrimento, humilhação, exaltação, seguindo-se então o anúncio de Jesus, o autor quer mostrar que Jesus também está não apenas na continuidade do Antigo Testamento. Jesus é a novidade de vida. Jesus revelou, anunciou e encarnou a vontade de Deus. Desta forma, o catequista (Filipe) também dá uma chave de leitura, que é Jesus.

O clímax da conversa, do diálogo entre Filipe e o etíope está no fato de Filipe abrir a sua boca, iniciar por esta passagem de Isaías e anunciar Jesus.

Este encontro foi muito profundo. A explicação da Escritura e o anúncio sobre Jesus foram tão convincentes na vida do etíope, que ele pede o Batismo. Ele não quer mais só adorar em Jerusalém, mas sim quer ser cristão.

Entendemos que o pedido pelo Batismo é consequência da leitura/compreensão da Escritura e do anúncio sobre Jesus. Fontes no aparato crítico acrescentam o v. 37: Disse porém ele: Se crês de todo o teu coração é possível. Respondendo então disse: Creio que o Filho de Deus é Jesus Cristo. Este versículo é um acréscimo que lembra a liturgia batismal. Nós não incluímos o v. 37, pois acreditamos que este texto foi acrescentado mais tarde para justificar o Batismo deste etíope (considerado pagão, simpatizante da fé judaica - adorador de Deus ou temente a Deus).

O nosso texto lembra, como já falamos, o cristianismo criado pelo helenistas. Esse cristianismo vive sob a inspiração do Espírito com uma estrutura reduzida a quase nada. O texto quer mostrar como nos primórdios do cristianismo os helenistas tinham iniciado a evangelização das nações. Bem antes de Paulo, já Filipe tinha batizado um pagão, piedoso e ligado a Israel por certo, mas claramente pagão, não judeu. (Comblin, p. 171.)

Provavelmente, muitos fatos deste tipo aconteceram na expansão do evangelho: anúncio sobre Jesus e logo o Batismo (sem confissão de fé). Isto, possivelmente, foi uma das causas do conflito entre judeus e cristãos. Por isso, provavelmente, houve o acréscimo do v. 37.

Filipe batiza assim o primeiro negro, iniciando a evangelização das nações (cumprindo o Ide a todas as nações [Mt 28.19] e até os confins do mundo [At 1.8]). Já que a Etiópia é considerada terra longínqua, conforme Sf 3.9-10 e SI 68.31-32.

Segundo o esquema literário do autor, no texto anterior Filipe está em Samaria. O texto de At 1.8 nos diz que depois da Samaria vêm os confins do mundo. Assim, a África entrou no povo de Deus antes da Europa e o primeiro cristão das nações foi um negro (Comblin, p. 173).

Filipe tinha feito isso guiado pelo Espírito de Deus. O nosso texto também prepara e justifica a missão de Paulo no meio dos gentios.

Novamente, depois de ter batizado o etíope o Espírito do Senhor intervém arrebatando a Filipe (lembra Elias, 2 Rs 2.16-18), conduzindo-o para Azoto até chegar em Cesaréia. O termo dierchomenos eveggelizeto, passando evangelizava, no livro de Atos significa evangelizar peregrinando. Isto demonstra que Filipe é um missionário itinerante helenista. Os missionários itinerantes anunciam Jesus, batizam. A novidade de vida que nasce, cada novo cristão viverá a seu modo, no seu mundo. Depois que o Espírito arrebatou a Filipe, o etíope não o viu mais.

O etíope, no entanto, segue seu caminho cheio de alegria. Alegria que brotou do encontro, do entendimento da Escritura, de ter ouvido o anúncio sobre Jesus, do Batismo que lhe foi conferido. Alegria que brotou da novidade de vida que começou a acontecer em sua vida. Alegria por sentir-se aceito, através do Batismo, pela graça de Deus. (At 16-34 conta que também o carcereiro, com todos os seus, manifestavam grande alegria por terem crido em Deus.)

2. Sugestões para aplicação do texto

a) Reflexão catequética: Acreditamos que esta perícope é excelente para um trabalho de reflexão catequética, podendo-se destacar aspectos pedagógicos libertadores. Pode-se, assim, perceber uma relação dialogai entre o catequista (Filipe) e o catequizando (etíope): o catequista vai ao encontro, acompanha, ouve, pergunta, explica e batiza.

Ligado a isto está outro aspecto importante, que é a dinâmica da interpretação da Escritura, onde a leitura individual é superada pela leitura e compreensão a dois (grupo). É claro que o catequista dá uma chave de leitura: Jesus. Ao que o catequizando dá um passo adiante, pedindo o Batismo.

No estudo do texto, pode-se dramatizá-lo, enfatizando estes aspectos em encontros com orientadoras/rés do Ensino Confirmatório, Culto Infantil, Ensino Religioso, coordenadoras/rés de Estudo Bíblico e outros.

Neste sentido, os passos catequéticos do texto detectados no item 1.4 podem ser um auxílio.

b) Pregação do texto: Inicialmente, poder-se-iam problematizar os diversos tipos de interpretações da leitura bíblica. Existem muitos jeitos de ler e interpretar a Bíblia. Em muitos casos, a leitura e interpretação bíblica é feita sem compromisso com a transformação do mundo e com uma atitude ética cristã pessoal.

Num segundo momento, possibilitar testemunhos onde pessoas relatam como se deu o seu processo de aprendizagem e o consequente compromisso. Transcrevemos abaixo três testemunhos (com as suas permissões), onde estas pessoas dizem como começaram a entender a Bíblia e o que mudou em suas vidas.

1. Selma Lösch e Lotário Lösch (casal de pequenos agricultores, da Comunida¬de Evangélica de Poço Redondo, Cunha Porã).

A gente sempre lia a Bíblia. Era difícil — eu comecei a entender a Bíblia quando me deram uma chave de leitura: de quem fala o texto? Para quem está falando? Isto aconteceu num curso de leitura da Bíblia no distrito. (Lotário)

Num dia de comunidade, o pastor indicou um texto bíblico do Êxodo. Nós estudamos versículo por versículo, destacamos o que chamou a atenção. (Selma)

Assim, descobrimos que a Bíblia é a história de Deus com o seu povo. (Lotário)

Daí por diante nós começamos a ler a Bíblia juntos em casa, com a Clarice e o Sérgio (filha e filho). (Selma)

Quando a gente lê a Bíblia e entende, a gente tem mais esperança. A gente não fica mais quieto nas reuniões da comunidade e outras. Outras vezes, desanimamos, pensamos em não nos envolver mais nos movimentos e daí lembramos de Jeremias. Quando a gente vê a situação e o sofrimento, não dá mais para ficar parado. (Lotário)

Além disso, a nossa Bíblia deixou de ser um livro limpo. Sempre foi ensinado para nós que a Bíblia deveria ser deixada limpa. No momento em que comecei a ler e entender também comecei a riscar na Bíblia o que me chamava a atenção. (Selma)

Além disto, é importante para nós que a leitura da Bíblia e o envolvimento no movimento popular andam juntos. A leitura da Bíblia é que leva a gente ao envolvimento e leva a gente a se entender a si mesmo. (Lotário e Selma)

2. Alice Becker (professora do 1° grau de 1° a 4° série), membro da Comuni¬dade Evangélica de L. Humaitá — Cunha Porã.

Eu leio a Bíblia desde o ensino confirmatório. Mas passei a ser questionada só mais tarde, quando o pastor falou dos sem-terra, dos índios, das barragens... Daí passei a entender que Deus não está fechado nas quatro paredes da igreja. Mas Deus está presente e me acompanha em todos os momentos e atitudes. Comecei a entender a palavra de Jesus que diz: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Isto se tornou mais claro quando nos reunimos em grupo nas casas dos vizinhos. Para mim, pessoalmente, é importante a história de Paulo, Marta e Maria.

Ler a Bíblia é uma coisa importante — uma coisa muito bonita! Dá coragem! Dá certeza! Dá gratificação! Dá amparo! A gente serve com alegria! (Alice)

No terceiro momento, após a apresentação dos testemunhos, lê-se o texto de Atos 8.26-40.

No quarto momento destaca-se o levanta-te e vai. Nós somos chamados (como Filipe) a levantar, a exemplo de Selma, Lotário e Alice. Para onde? Ao encontro dos etíopes (índios/as, negros/as) de nosso tempo e ao encontro daqueles analfabetos que não sabem ler a Bíblia, daqueles que sabem ler e não a compreendem, daqueles que sabem e não lêem... ao encontro dos membros de nossas comunidades batizados desde crianças e que pouco caso fazem disto.

Para finalizar, enfatizar que o chamado e envio de Filipe pelo Espírito Santo valeu a pena: houve mudança na vida do etíope, pois Filipe facilitou que ele desse um passo decisivo em sua vida, pedindo o Batismo. O etíope seguiu o seu caminho cheio de alegria. Alegria que brotou do encontro com Filipe, que lhe deu uma chave de interpretação para compreender a Escritura: Jesus. Porque a alegria (como dizem Selma, Lotário e Alice) que nasce da leitura da Bíblia dá certeza, dá coragem, dá esperança em meio às lutas.

3. Subsídios litúrgicos

Cantos: HPD 260;

Vem, Espírito-de Deus — Rodolfo Gaede; HPD 81, HPD 195.

Intróito: Ezequiel 36.26-28; Gálatas 5.22 ou Salmo 96.1-2.

Confissão de pecados: Senhor Deus, nosso amigo e juiz. Reunimo-nos aqui e diante de ti. Confessamos-te que nos chamamos de cristãos e queremos ser os teus discípulos e as tuas discípulas. No entanto, vivemos como se tivéssemos esquecido o teu chamado e mandado: Levanta-te, vai, dize e faze. Contrariamente aos teus discípulos e discípulas que no passado te escutaram e também agiram, nós hoje hesitamos em aceitar esta missão. Sentimo-nos presos ao trabalho e a velhos preconceitos. Vivemos isolados um do outro e menosprezamos a tua palavra viva e santa. Perdoa-nos pelo amor de Jesus, o Cristo, morto em uma cruz, mas ressurreto para nossa esperança e alegria. Transforma-nos pelo poder de teu Santo Espírito. Compadece-te de nós, de tua comunidade. Tem piedade de nós, Senhor!

Oração da coleta: Senhor Deus, rendemos-te graças pelo teu perdão e por este encontro neste culto. Tua palavra se fez carne em Jesus Cristo e foste capaz de morrer por nós.
Senhor Deus, vê e ouve as nossas dificuldades no trabalho e vivência da fé. Dá que aprendamos de novo, a cada dia, da tua palavra. Porque somente nela recebemos verdadeira alegria e esperança para seguir o teu caminho.
Senhor Deus, ouve a nossa oração e acompanha-nos. Em nome do teu filho Jesus, que contigo e com o Espírito Santo vive e reina eternamente. Amém.

Leituras bíblicas: João 15.1-8 e/ou l João 3.18-24.

Oração final: Coletar entre a comunidade reunida assuntos para a oração de intercessão: preocupações e alegrias, pessoas ou grupos necessitados; lembrar os desafios e tarefas colocadas pela mensagem da pregação; agradecer pelas pessoas engajadas, a partir da leitura bíblica; agradecer pela alegria, esperança e coragem, pedir pela vinda do Espírito Santo e a bênção para a comunidade bem como para cada pessoa.

Oração do Pai-Nosso.

Bênção: O Senhor esteja à tua frente para te guiar; o Senhor esteja atrás de ti para te proteger; o Senhor esteja ao teu lado para caminhar contigo; o Senhor esteja sobre ti para com a paz te abençoar. Amém.

(Do caderno Advento chegou, CEM.)

4. Bibliografia

COMBLIN, José.Aros dos Apóstolos. Vol. l:l-12.Petrópolis, Metodista, Vozes, Sinodal, 1988, p. 170-176.
MARSHALL, Howard L, The Acts of the Apostles. Intervarsity, 1980, p. 160-166
CENTRO DE ESTUDOS BÍBLICOS. Comentário aos Atos dos Apóstolos. São Paulo, Paulinas, 1983, p. 52-57.
BOYER, Orlando. Atos. O Evangelho do Espírito Santo. Rio de Janeiro, Penha, s/d, p. 107-113.
ANTONIAZZI, Alberto. A Pesquisa sobre os Atos dos Apóstolos (Alguns Resultados). In: Estudos Bíblicos. Petrópolis, Vozes, n° 3, p. 76-86.
EERDMANS, William B. Ethiopian Eunuch. In: The International Standard Bible Encyclopedia. Michigan, Grand Rapids, 1982. v. 2, p. 197.


Autor(a): Claudete Beise e Carlos Luiz Ulrich
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 5º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 8 / Versículo Inicial: 26 / Versículo Final: 40
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1990 / Volume: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 13884
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