“Cor accusator, Deus defensor” (Lutero) Depoimento pessoal durante o sepultamento do P. em. Karl Gehring

27/01/2016

                                                     “Cor accusator, Deus defensor” (Lutero)
Depoimento pessoal durante o sepultamento do P. em. Karl Gehring
Bethesda, Pirabeiraba (27/01/2016)

Prezada Família, prezada Comunidade:

Na véspera do 89º aniversário de nosso querido, que foi convocado em definitivo por Deus, nós nos encontramos junto a seu ataúde. Estou triste – e confortado. Pois sei: Karl Gehring está são e salvo na mão daquele a quem testemunhou a vida inteira. Pessoalmente, sinto muito que, com a morte de Karl – jovem soldado ferido no fim da Segunda Grande Guerra – seu povo de origem, agora tão perturbado, perca um intercessor perante Deus.

O que, neste momento, compartilho de meu convívio com o querido falecido são três aspectos que, suponho, digam a respeito de todos nós:

1. O Pastor Karl Gehring foi humilde. Ele sabia ouvir e ponderar. Não queria ter a última palavra. Engolia, silencioso, muitos sapos. Tomava posições conciliadoras; também insofismáveis quando se tratava de injustiças ou de sufoco de vozes contrárias a arbitrariedades na Igreja e fora dela. Isso tudo sem se resguardar; sempre apoiado e aconselhado pela saudosa Dona Margarethe. Assim constitui exemplo desafiador para muitos na Igreja que ficam em cima do muro.

2. O Pastor Gehring foi enviado para o Brasil. Ele assumiu sua tarefa e prosseguiu nela. Resistiu a opiniões ditas complacentes de lá e de cá; todas fora da realidade de sua vocação e da senha do inesquecível Pastor Otto Kuhr Senior, o pioneiro dos Neuendettelsauer em nossas plagas: “Eu me disponho”. Gehring aguentou firme, foi em frente; era um dos primeiros de sua geração que serviu por períodos consideráveis em diferentes estados do País. Constitui, pois, exemplo questionador para obreiros e obreiras na IECLB, presos à saia da mãe ou da sogra.

3. Diversas vezes encontrei Karl Gehring preparando a prédica com o texto neotestamentário, em grego e latim, em sua frente. Vocês, aqui presentes, já encontraram tal pastor? Justamente, exercendo seu serviço a partir daí, Gehring via sua limitação e entrava em conflitos de consciência. Contudo, provava e experimentava o que acabamos de falar com as palavras do Salmo 91: “O Todo-Poderoso é o seu defensor”. Meditando esse salmo, o bem-aventurado Martim Lutero, que Karl Gehring procurava acompanhar, cunhou o dito que ajuda até hoje sobrecarregados e aflitos: “Cor accusator, Deus defensor”, significa: Quando nós nos acusamos, é Deus quem nos defende.

No ato subsequente, no Cemitério em Pirabeiraba

Lembrando a praxe em sua terra natal, Schaffhausen, perto de Nördlingen, região influenciada pela renovação de fé e correspondente vida, propulsionada por Wilhelm Löhe no século 19, incluindo o serviço na missão, li estrofes de dois hinos em alemão. Elas seguem aqui traduzidas por I. Kayser:

Ao meu Senhor me agarro
e sempre hei de agarrar.
Por onde tem passado
Jesus me há de levar.
Ele é o vencedor
de mundo, inferno e dor;
a morte aniquilou;
com Cristo sempre estou.

Jesus a glória adentra,
Eu sigo o passo seu
e já não mais importa
qualquer tormento meu.
Raiveje o que puder,
Jesus vem me acolher,
Escudo é meu Senhor
que abranda toda a dor.


Jesus conduz-me à porta
que ao céu me levará,
na qual se lê a escrita
-- vazada em ouro está -- :
Quem mofa aqui passar
Cristo o há de coroar;
com ele quem morreu
alçado é cá no céu.


(P. Gerhardt [1647], cf. HPD 1, 65.4).

Durante os sepultamentos, a comunidade de Schaffhausen e arredores costuma cantar uma estrofe de M. Schalling [1569], que se tornou mundialmente famosa e foi eternizada por constituir o fim do oratório PAIXÃO DE JOÃO, de Johann Sebastian Bach:

“Quando eu, Senhor, enfim findar,
manda os teus anjos carregar
minh’alma à paz eterna.
O corpo deixa repousar
sem dor e sem se atormentar
na tumba em paz sagrada.
No juízo, então, Senhor Jesus,
me chama novamente à luz,
que em alegria, a jubilar,
feliz te possa contemplar.
Senhor Jesus! Atende-me, ó fiel Senhor!
E eu cantarei glória e louvor.”


A. Baeske
 


Autor(a): Albérico Baeske
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Liturgia
Perfil do Texto: Alocução
ID: 36759
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Jamais alguém pode louvar a Deus sem que antes o ame. Da mesma forma, ninguém pode amar Deus se não conhece Deus do modo mais amável e perfeito.
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